Zika está circulando em área silvestre? FMT desenvolve pesquisa para saber sobre vírus

A pesquisa também tem por objetivo elucidar os mecanismos pelos quais vírus silvestres se disseminam para infectar seres humanos e avaliar o impacto dessa dinâmica na saúde humana. Foto: Divulgação

Desde que surgiu no Brasil, o Zika vírus é transmitido em área urbana, pelo mosquito Aedes aegypti. Estudo desenvolvido pela Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), unidade da Secretaria de Estado de Saúde (Susam), busca identificar se o vírus também está circulando em área silvestre – fragmentos de floresta –, como na época em que foi descoberto na África. Se isso ficar comprovado, exigirá mudanças nas estratégias de combate aoZika vírus e no futuro desenvolvimento de vacinas.

Intitulada “Transmissão de Zika vírus e outros arbovírus entre hospedeiros silvestres e urbanos – HostZika”,  a pesquisa também tem por objetivo elucidar os mecanismos pelos quais vírus silvestres se disseminam para infectar seres humanos e avaliar o impacto dessa dinâmica na saúde humana. Além disso, os pesquisadores da FMT-HVD buscam, ainda, investigar a diversidade, dinâmica e impacto da doença causada pelo Zika vírus.

A coordenadora técnica da pesquisa, Bárbara Chaves, explica que esse tipo de estudo é importante para o desenvolvimento de melhores estratégias de combate ao vírus que, uma vez presente na floresta, traria maiores desafios para o seu enfrentamento. “Quando o vírus está em organismos diferentes, ele pode sofrer maior pressão seletiva e, consequentemente, mutações, e é importante saber se isso está acontecendo com o Zika. Caso ele esteja circulando em ambiente silvestre, vai dificultar o combate. Quanto antes se descobrir isso, melhor será, inclusive, para o desenvolvimento da vacina”, afirmou.

O estudo, segundo ela, também vai possibilitar o rastreamento de arbovírus silvestres que potencialmente poderiam causar epidemias urbanas. “A partir desses resultados, vamos compreender melhor a dinâmica de arbovírus em vetor, primata não-humano (macaco) e humano, e a transição deles do ambiente silvestre para o ambiente urbano. Manaus está no meio da floresta amazônica, é um ambiente ideal para realizar esse projeto e para saber que espécies de mosquitos podem estar relacionados a transmissão do vírus”, ressaltou.

De acordo com a coordenadora, a pesquisa será desenvolvida em dois anos e conta com financiamento internacional, por meio de uma parceria da FMT-HVD com a Universidade do Texas. Dentro desse projeto, de acordo com ela, será investigada a presença de arbovírus em soros de participantes com sintomatologia para Zika, soro de Primatas não-humanos (macacos) e de mosquitos vetores e potenciais vetores. A coleta começou em março deste ano.

Até agora, foram coletadas amostras de vetores de áreas de circulação de mosquito, humanos e primatas não-humanos, como Parque do Mindu, na Zona Centro-Sul, Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Zona Leste, e Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs), Zona Oeste. A coleta de soros de pacientes com o vírus Zika está sendo feita na FMT-HVD, e de macacos nas mesmas áreas de coleta de vetores.

Outro estudo

A Fundação de Medicina Tropical continua selecionando pacientes, principalmente do sexo masculino, para participar do estudo sobre a persistência do vírus Zika nos fluídos corporais – ZikaBra. Dentre os objetivos da pesquisa, está o de identificar por quanto tempo o vírus Zika permanece no corpo de uma pessoa infectada e se pode ficar inativo e reaparecer em um estágio posterior.

Estão aptos a participar do ZikaBra, pacientes a partir de 18 anos de idade, que apresentem sintomas como manchas vermelhas na pele (exantema ou rash), com coceira, dores nas articulações ou conjuntivite. Os interessados devem procurar a Gerência de Virologia da FMT-HVD. Para mais informações basta entrar em contato com a equipe responsável pela pesquisa, pelos números (92) 2127-3447, 99180-5060 e 99181-5060.

De acordo com a coordenadora da Pesquisa na FMT-HVD, Camila Bôtto, o número de participantes voluntários, em Manaus, já é de 137 mulheres e 45 homens. “No caso das mulheres, já ultrapassamos a quantidade estimada para Manaus que era de 80 participantes. No caso dos homens, precisamos de pelo menos mais 35, para encerrar o recrutamento”, disse.

Os participantes do estudo serão acompanhados por um ano. O objetivo é investigar por quanto tempo o vírus Zika poderá ser encontrado nos fluidos corporais (há evidências de que o vírus foi identificado na urina, sangue, saliva, leite materno, líquido amniótico e sêmen), para que se possa recomendar medidas preventivas de transmissão da doença. “É preciso inicialmente conhecer o comportamento da infecção, para pensar em prevenção, em tratamento mais adequado, em vacina”, afirmou Bôtto.

A previsão é que os resultados do estudo sejam divulgados no segundo semestre de 2019. O ZikaBra está sendo desenvolvido em três centros de pesquisa brasileiros – FMT-HVD e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro e Recife – , por meio de parceria entre a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS). O financiamento é da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do MS, da instituição Wellcome Trust e do Instituto de Pesquisa Walter Reed, do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

Em queda – As doenças transmitidas por Aedes aegypti, como dengue, febre chikungunya e vírus zika, estão em queda no Amazonas, de acordo com os dados do Boletim Epidemiológico de Monitoramento, divulgado no último dia 12 pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), órgão vinculado à Susam.

De janeiro a maio de 2018, houve  redução de 429% nas notificações para chikungunya. Foram 89 casos, contra 471 no mesmo período de 2017. Para zika vírus,  a redução foi de 150%. Este ano, foram notificados 220 casos, contra 549 em 2017. Em relação à dengue, houve queda de 106%. Foram 2.688 casos registrados em 2018, contra 5.532 no ano passado.

O secretário estadual de Saúde, Francisco Deodato, diz que os resultados são bons, apontam o êxito da campanha de reforço no combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti e a forte contribuição da população, mantendo-se alerta na eliminação de criadouros. Ele, entretanto, ressalta que é preciso manter essa linha de combate o ano todo, para que os índices caiam ainda mais.

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