Delegados afirmam que ordem para matar delegado partiu de João Branco. Polícia não conseguiu rastrear celular de narcotraficante

Julgamento, que acontece pela sexta vez, deve entrar pelo fim de semana. Até às 16h de hoje, nenhum réu tinha sido ouvido. Fotos: Raphael Alves/ TJAM

Testemunha de acusação, o delegado da Polícia Civil Paulo Martins, ex-titular da Delegacia de Homicídios e Sequestros (DEHS), que comandou as investigações sobre a execução do delegado Oscar Cardoso, foi ouvido na tarde desta sexta-feira (13), no julgamento do caso que acontece pela sexta vez.

O narcotraficante João Pinto Carioca, o João Branco, um dos chefes da facção criminosa Família do Norte, é um dos réus em julgamento.

Narcotraficante

O delegado reafirmou a denúncia do Ministério Público no processo, de que João Branco é líder da organização que domina o tráfico de drogas na região, dentro e fora dos presídios, e que a ordem para o homicídio teria partido dele.

Uma das novidades deste dia é a afirmação por parte de duas testemunhas de que não foi possível rastrear as ligações do telefone pessoal do narcotraficante.

Nem Paulo Martins nem o delegado Mário José da Silva Júnior, ouvido antes, conseguiram fazer ligações entre o celular de João Branco e a cena do crime. “Não conseguimos rastrear o celular que ele usou, porque não foi o pessoal, e nem onde estava”, disse Júnior. Para o rastreamento, a polícia teve auxílio da Justiça e do Ministério Público.

Rota e rastreamento

Como no ano passado, Mário José explicou o uso da tecnologia e mapa do Google Earth para mostrar a rota dos réus no dia da execução.

A partir dos sinais dos telefones usados pelos acusados em julgamento, Mario mostrou um mapa montado a partir das localizações das Estações Radio Base (ERBs), que são equipamentos que fazem a conexão entre os celulares e a companhia telefônica, e ficam espalhados em vários pontos.

O delegado contou detalhes da execução de Oscar Cardoso, construindo a rota feita por Messias Maia Sodré, Diego Bruno de Souza Moldes e Marcos Roberto Miranda da Silva, o “Marcos Pará”, que estão sendo julgados.

Local onde o delegado Oscar Cardoso foi assassinato, em 2014

Ação no crime

No mapa, aparece exatamente o deslocamento de cada um pelo sinal telefônico emitido no dia da execução, sendo preciso apontar o caminho realizado até a avenida do Turismo, onde pegariam o carro Gran Siena branco, com Mário Jorge Nobre de Albuquerque, o “Mário Tabatinga”.

“Em seguida, eles se deslocam até o local do crime. Os sinais das ERBs e o cruzamento de dados mostram que ‘Marcos Pará’ seria o motorista, levando Messias e Diego, os atiradores que saíram do carro naquele dia”, falou, em depoimento, o delegado.

Após a execução, os sinais convergem para um mesmo local, no Distrito Industrial, onde o veículo usado pelo grupo foi incendiado. Os homens teriam fugido num Voyage prata, que aparece na instrução do inquérito criminal, que os levou até o bairro do Alvorada, onde morava “Marcos Pará”.

João Branco é acusado de ser o mandante do crime e participa do julgamento por videoconferência, do presídio federal de Catanduvas (PR).

Segundo enfatizou Mario José, o narcotraficante da FDN teria participado do crime, saindo da penitenciária de carona com “Mário Tabatinga” até o ponto de encontro na avenida do Turismo. Na época, ele cumpria pena no regime semi-aberto.

Primeiro dia

O julgamento começou por volta das 10h30 de hoje, no Fórum de Justiça Ministro Henoch Reis. São quatro em julgamento, acusados do homicídio do delegado Oscar Cardoso: João Branco, Marcos Roberto Miranda da Silva, o “Marcos Pará”; Diego Bruno de Souza Moldes e Messias Maia Sodré.

Do início do julgamento até o primeiro intervalo, um pouco antes das 14h, seis testemunhas foram ouvidas, duas delas confidenciais. Esta é a sexta vez que a Justiça tenta julgar esses réus na Ação Penal nº 0232023-39.2014.8.04.0001.

Testemunhas

Das 15 testemunhas arroladas pela acusação e defesa, 12 compareceram ao Fórum de Justiça Ministro Henoch Reis, onde acontece o julgamento, cuja previsão é que se estenda pelo fim de semana.

O juiz de Direito Rafael Cró Brito, da 2ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Manaus, está presidindo os trabalhos e quatro promotores estão atuando neste júri – Laís Freitas, Edinaldo Medeiros, Geber Mafra e Igor Starling.

A participação dos réus é presencial, com exceção do acusado João Pinto Carioca, que será interrogado por meio de videoconferência, uma vez que encontra-se no presídio federal de Catanduvas, interior do Paraná.

Segundo o Ministério Público, João Branco teria planejado a morte do delegado Oscar na tentativa de se vingar de quem havia participado de suposta tortura e estupro de sua companheira, e acreditava que o delegado, que fazia parte de um força tarefa da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), estaria envolvido.

Execução

Oscar Cardoso foi executado com 20 tiros no dia 9 de março de 2014, quando estava numa peixaria, localizada no bairro de São Francisco, zona Sul de Manaus.

Os réus estão sendo julgados pelos crimes de associação criminosa e homicídio doloso, por motivo torpe, meio cruel e por impossibilidade de defesa da vítima.

De acordo com os autos do processo, João Branco teria planejado o crime de dentro do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj). Os quatro réus, além de mais dois participantes que foram posteriormente assassinados, teriam utilizado um veículo Fiat Siena branco para efetuar o crime que depois foi incendiado na tentativa de ocultar a prova.

Intervalo

Após o depoimento do delegado, o juiz determinou o primeiro intervalo no júri. À tarde, está prevista a oitiva de mais seis testemunhas. Dependendo do horário, o juiz poderá iniciar o interrogatório dos réus ainda nesta sexta-feira.

O júri desses quatro réus envolve o trabalho de 78 servidores, entre magistrado, promotores de Justiça, servidores do Judiciário, oficiais de Justiça, além de policiais militares e federais – estes devido à escolta do réu Marcos Roberto Miranda da Silva, o “Marcos Pará”, que está preso no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e foi intimado a comparecer ao julgamento.

O Conselho de Sentença é composto de sete jurados, sorteados um pouco antes do início do julgamento, e que decidem a culpabilidade ou não dos réus.

 

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