Los Pasteles Verdes – verdades e mentiras. Você sabia?

Los Pasteles Verdes é um grupo musical, surgido em Chimbote, no Peru, no final da década de 1960. Era, originalmente composto por sete jovens integrantes: Aldo Guibovich (cantor principal), German Laos (também cantor),  os irmãos Hugo (guitarrista) e César Acuña (tecladista), Ernesto Pozo (baterista), Miguel Moreno (contra-baixista) e Raul Padilla (percussionista). Todos, estudantes da Grande Unidade Escolar São Pedro.

Angelitos Negros (Anjinhos negros) foi seu primeiro sucesso, música com letra de protesto sobre os pintores (artistas plásticos) que não pintavam anjos negros, só os brancos. Depois do sucesso dessa empreitada veio “Recuerdos de una Noche” (Recordações de uma noite), de Fernando Árias, e posteriormente, El Reloj ( O Relógio), do autor mexicano Roberto Cantoral, música de 1956, regravada em várias partes do mundo. A partir daí, Esclavo y Amo (Escravo e amo), em 1974, já pela INFOPESA (Indústria fonográfica peruana) e tantos outros sucessos, alavancaram aquele grupo musical para o grande sucesso, não só no Peru como também em vários países da América latina, menos no Brasil.

Pois bem, com o passar dos anos, Aldo Gubovich sai do grupo e assume Fernando Árias, como cantor principal. Depois, mais desintegrações ocorrem e o grupo original se esfacelaria ainda em 1980. Novos grupos surgem, advindos do original e, Hugo Acuña vai moram nos Estados Unidos, aonde leva o nome da marca Los Pasteles Verdes. Aldo Guibovich vai morar no México e cria um novo grupo, chamado “Aldo e Los Pasteles Verdes”. Fernando Árias também cria seu grupo. Estes novos conjuntos cantam no mesmo estilo criado no início dos anos de 1970, transformando os antigos boleros, em baladas, ritmos diferenciados e mais populares., alicerçados no quadripé: teclado, baixo e guitarra, além é claro, da percussão.

A partir daí, vários grupos se “passando” por Pasteles Verdes, surgem na América Latina, inclusive o de Marcos Mendez Guibovich, que cria um grupo com as mesmas características musicais dos primeiros Pasteles Verdes, inclusive cantando as músicas do antigo grupo.

Em 1984, eu trabalhava no comércio da minha mãe, quando chegou-me à mão uma fita cassete TDK  com a música El Reloj sendo cantada de uma forma bem vibrante, diferente do que eu ouvia antes com os antigos grupos e trios de Boleros. Perguntei ao Geraldo, que trabalhava na SESAU, ali próximo, já quarentão, se ele sabia quem era que cantava daquele jeito essa música antiga. Geraldo, após tomar uma “talagada” de meiota (Cachaça da marca Tatuzinho com Baré Laranja), fazendo ainda careta e com a voz espremida, respondeu-me: – “Los Panchos”, Daniel! Trio Los Panchos, repeti…  Certo, Los Panchos.

Geraldo saiu e aí que aparece o Alberto, um peruano mestiço que trabalhava na Auto Peças Benayon (que sempre brincava com os brasileiros sobre o triste episódio de 1978, quando a Seleção peruana perdera por 6 a 0 para a Argentina, eliminando os tupiniquins – “Só PErede, Só Perede, nunca gaña, BraCil!). Pois bem, Alberto estava  calado, mas ouvira a história e depois que o Gera saiu, falou-me, num “portunhol” proposital: Daniel, no és Los Pachos Pôrra niguna és Los Pasteles Verdes del Perú…

É meRmo? Pronto, pensei alto: E agora? Acredito no Geraldo, “velho de guerra”, antigo frequentador dos maiores Bregas de Manaus das décadas de 1960/70, ou no peruano, o mecânico Alberto, ex-morador de Lima?

Comecei a pesquisar. e nada…  até que um dia do mesmo ano, de 1984, passa lentamente na rua um pequeno carro-som anunciando: “Los Pasteles Verdes, pela primeira vez em Manaus!” A música do BG era El Reloj… (Reloj deten su camyno/ por que mi vida se apaga/ Ella és una estrella que alumbra a mi ser/ Yo sin su amor no soy nada…) em seguida, veio um peruando afobado, passando pelas casas e lojas. vendendo um LP de capa azul (El Disco de Oro), contendo, se não me engano, doze sucessos de Los Pasteles Verdes. Estava desfeito o mistério: comprei dois LPS e agora sim, sabia que quem cantava El Reloj, do mexicano Alberto Cantoral (falecido em agosto de 2010) eram os peruanos Los Pasteles Verdes.

Bem, cheguei a ir a uns dois shows do grupo (eles depois “moraram” na cidade), que eu achava ser piamente o original. primeiro: cantavam igualzinho ao que estava no LP, muito bem mesmo; eram peruanos, e estavam vendendo os “seus discos” – nada mais justo, pensei.  Mas aí, em uma das suas várias vinda à cidade (anos mais tarde, 1988), “fiquei com a pulga atrás da orelha”.Por quê? Ora, eu, naquela época, já ouvia desde Pedrito Otiniano, outro peruano (falecido em 2012 e que fez enorme sucesso por aqui com seu Disco Pedrito y Su Ritimo, nos anos de 1960/70) a vários outros grupos de hispânicos cantando, e sabia quase todas as músicas interpretadas pelos Pasteles; Numa das suas apresentações, chamei ao lado do palco um que era guitarrista e perguntei se eles poderiam executar a música “No Te das Cuenta?”. O músico disse que não poderia. Perguntei por quê? Ele disse que não havia arreglos (arranjos) para isso, etc. Huuum, pensei – não podem, ou não sabem mesmo? Comecei a desconfiar e, a partir daí, iniciei, na surdina, uma pesquisa, um tanto desinteressada e bem extendida cronologicamente sobre este grupo, até que esqueci o fato por uns 7 anos e deixei pra lá o assunto.

Com o advento da WEB em 1995, fui um dos primeiros a utilizá-la, nos duros tempos da Rede Mundial ainda incipiente, mas uma grande novidade para a época, e uma das coisas que fiz foi iniciar uma pesquisa mais interessada sobre este grupo em referência. Após alguns anos cheguei a me comunicar com o Sr. Hugo Acuña, que reside com seus filhos (são três) nos Estados Unidos e, que formou um novo grupo denominado Los Pasteles Verdes. Ele, na faixa dos sessenta e poucos anos de idade, ainda toca guitarra, dois filhos seus tocam guitarra e teclado e o último é baterista; o cantor é Kike Vasquez. Aldo Guibovich, conhecido pelo pseudônimo internáutico, de “Lunazul”, reside no México: sujeito hiper educado, gentil,com ele  também entrei em contato. Ambos me disseram: nunca estivemos no Brasil.

Aí entendi tudo, depois de anos de espera: aqueles cantores que cá estavam na década de 1980 eram “covers” do famoso grupo peruano, e só isso. Aliás, cantam muito bem e ainda fazem sucesso, assim como dezenas de grupo que se intitulam como Pasteles. Existe até mesmo  “Los Pasteles Verdes de la Argentina’, que tem como cantante Daniel Tevez. Em Chimbote, no Peru há um novo Pasteles Verdes, composto por músicos bem mais jovens que os originais, que se apresentam pelo Peru, cantando os antigos sucessos do grupo. Ou seja. Pasteles Verdes é uma escola, uma instituição musical que todos seguem por lá – um tipo de Beatles Latino.

E mais: conversando com vários peruanos, a maioria deles não sabe dessa história, muito menos os que moram em Manaus (alguns deles são da Amazônia Peruana).

Dia desses foi falado por um comunicador local que fulano ou beltrano, excelente músico, por sinal,  que morava em Manaus, “participou dos Pasteles Verdes”. Mas como? Os caras nunca estiveram em Manaus!… Quem veio foi um grupo COVER, imitador dos originais, no estilo dos que criaram aquelas baladas. Já vi mesmo, faixas, placas  dependuradas em esquinas anunciando o grupo em Manaus, agora mesmo, no mês de julho de 2013… Absurdo.!

Para quem não conhece é fácil ser enganado, pois o que importa mesmo é ouvir as belas músicas e curtir aquele estilo, mas não sabe a imensa maioria dos incautos diferenciar o que é verdadeiro do que é falso. Não que os imitadores do famoso grupo peruano não cantem bem. Alto lá! Cantam bem sim, só que omitem a verdade ao se intitular” Los Pasteles Verdes”. Por outro lado, se não fosse aquele primeiro grupo cover que veio à Manaus, em 1984, criando “sem querer” essa  “cultura pastelística” dificilmente saberia-se, o povo,  da existência daquele estilo de interpretar: sussurrante, meloso e contagiante. Mas a verdade tem que ser dita. Falei isso ao Hugo e ao Aldo sobre os covers e sua importância para a divulgação das músicas dos Pasteles originais, mesmo que não sobre um níquel sequer de direitos autoriais aos verdadeiros.

Quem sabe uma dia os fundadores dos Pasteles Verdes, já sexagenários, não venham ao Brasil e por conseguinte à Manaus?

Daniel Sales

Daniel Sales

* Daniel Sales é pesquisador cultural.

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27 comentários

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  1. Hildeberto Dias disse:

    Prezado Daniel
    Ao repetir o nome do autor de el reloj,você grafou ALBERTO,quando o correto é ROBERTO CANTORAL.É só para não ficar dúvidas.OK?Desculpe.
    Quanto a questão dos covers dos Pasteles,o mesmo aconteceu com Perez Prado,o criador do mambo.O genial cubano fazia sucesso em sua terra,quando foi informado que um cara em Nova Yorque se apresentava como o rei do mambo PEREZ PRADO.Mandou um emissário a NY e teve a surpresa de descobrir que o tal rei do mambo era Pepito Prado seu irmão que estava simplesmente surfando a onda do mambo,ritmo dançante que contagiou o mundo nos anos 50.Parabens pelo trabalho.

  2. Salles disse:

    É isso mesmo, Caro Hideberto. O grande compositor mexicano, Roberto Cantoral, já falecido, e não Alberto.

  3. marcelo disse:

    o grupo que andava por aqui intitulava-se: Pasteles Verdes de América. tinha como líder o primo (ou sobrinho) de Aldo Guibovich de nome Marcos, o quitarrista chama-se Jano Astete, que até hoje vive em Manaus com família, o bateirista era o irmão de Jano, Peio Astete, grande percussionista e croner, atualmente faz parte do grupo”Los Latinos” que sempre se apresentavam no Fast Clube. O tecladista e o baixista não recordo o nome no momentos. Todos são peruanos e de Chimbote, mesma cidade do original Pasteles. Dizem que Marcos resolveu formar o grupo cover devido a semelhança de sua voz com a do Aldo Guibovich. No site Oficial dos Pasteles eles chamam esses grupos de “impostores” e eles tentam catalogar o máximo que consigam detectar, mas acho que não conseguem chegar próximo ao numero exato de bandas covers. O que importa é que cresci ouvindo as baladas românticas dos Pasteles Verdes e recomendo.

    1. Deuzimar Oliveira disse:

      Impossivel,eles virem à Msnaus,pois Aldo Guibovich faleceu em março de 2017,calou-se a voz hipnótica de um monstro sagrado da música latina.
      Também cresci ouvindo as belas canções deste grupo peruano aqui em Coari.

  4. Salles disse:

    É isso aí, Marcelo. Quanto à similitude da voz do Marcos com a do Aldo, cá tenho as minhas dúvidas. os escuto de vez em quando e noto grande diferença, assim como também é diferente a voz do Fernando Árias e mesmo a do Daniel Tevez, dos Pasteles argentinos. Agora, é claro, que foi devido a estes covers que o Norte do Brasil conheceu esta forma diferente de interpretar. O chato é saber que 99,99% das pessoas do Amazonas não saberem disso.

  5. Maria disse:

    Gente… Um bom dia a todos.
    Estive pesquisando sobre esses covers que vinheram para o Brasil se apresentando como Pasteles Verdes em 1987 e não encontro nada.
    Esse grupo se apresentou no município de Cruzeiro do Sul – Acre em 1987 e minha tia muito nova ficou com um dos integrantes do grupo. Ela não sabe o nome por se passar muito tempo e ela teve um filho dessa pessoa. Hoje meu primo com 27 anos procura descobrir quem é seu pai.
    Andamos pesquisando de tudo que é jeito na internet e não achamos nada que nos ajude nessa busca.
    Ele só veio saber da verdade depois de adolescente e desde então ele tem muita vontade de saber quem é seu pai.
    Se alguém souber mais sobre esse grupo que nessa época se apresentou pelo Norte nos ajude por favor.

    1. Manaus disse:

      Hola María, como o nome do seu primo? talvez eu possa ajudar. ter uma foto dele? Saudações.

      1. Leonardo disse:

        Ola eu sou o primo de maria .eu quem procuro meu pai .muito obrigado por querer me ajuda vou deixa meu zap pra gente conversa sobre minha historio q nao conheñi meu pai.68996131561

      2. Maria Jesuete disse:

        O nome do meu primo se chama Leonardo. Ele nasceu em 1987. Foi um lance de minha tia com o vocalista da banda que se apresentou no Acre nessa época.
        Meu primo procura saber quem é o pai, desde que soube suas origens.

    2. Atalidio bady casseb disse:

      Confirmo que esse grupo esteve em Cruzeiro do Sul, quando estava comandante da PM, no município, nos anos de 1982 a 1985. Não sei se voltaram no ano de 1987.

  6. Sales disse:

    Dia 27 de abril de 2015 faleceu Fernando Arias Cabello, um dos primeiros Pasteles. Também era natural de Chimbotte.

    1. Débora Sales da Costa disse:

      É isso aí!

  7. Rell Santos disse:

    Caracas que historia meu amigo sempre fiquei na duvida, achava muito estranho mais nunca tive ideia disso obrigado pelo esclarecimento..

    1. Sales disse:

      É isso aí. 99,99% não sabem.

  8. suleny lopes disse:

    Parabéns pela busca incansável, ouvi muito essas musicas na minha infância. Meu pai trouxe uma fita cassete que um integrante chamado Peio lhe deu, hj morroino Rio de Janeiro e meu pai sofre de alzhrimer , este ano vamos festejar seu aniversário e de 80 anos e gostaria do contato do grupo , principalmente do Peio, para tocar no niver do meu pai, pois acredito que ele possa recordar essas músicas que tanto amava. Quem tiver o contato, por favor me informe.

  9. Daniel Sales disse:

    Nos últimos 3 anos dois dos mais antigos pasteles morrrram: Fernando Árias e agora em abril passado -2017 – a Voz eterna de Aldo Guibovich, que residia desde a década de 1980 no México.

  10. AERCIO Diniz de Gusmao disse:

    Muito bom, eu também fui iludido pelos covers, pois ainda hoje escuto muito os boleros latinos, gosto muito.

  11. Leonardo disse:

    Ola meu nome é leonardo hoje tenho 30 anos.vou conta um pouco da minha historia em poucas palavras .tudo tem have com esses covers dos los pasteles verdes.quando eles vierao ao brasil na cidade de cruzeiro do sul acre fizerao uma apresentaçao e ao terminal foram para um bar e la minha mae com 15 anos se envolvei com o vocalista ,entao forao p o hotel e aconteceu no dia seguinte bem cedo minha mae acordou e eles ja nao estavao mas ja tinha indo embora .emtao minha mae ficou gravida e desde entao nunca mas ela viu ele.toda essa historia ela so me falou depois d grande .entao desde entao procuro por esse cara se alguem conhecer algum dos integrantes me ajude a encontra.vou deixa meu contato 68996131561zap.obrigado.

    1. Ramon disse:

      Moro em Manaus, se eu puder ajudar, meu zap é +5592993536132 meu nome é Ramon

    2. Daniel Sales disse:

      Um dos fundadores. A voz principal.

  12. Márcio Dos Teclados disse:

    Leonardo meu nome é Márcio eu sou Tecladista cheguei a tocar com seu pai troxe eles pra uma turnê em 2006 por todo interior do Amazonas até em.Manaus. qlqr coisa esse é meu Zap 097991510183

    1. Daniel Sales disse:

      Muito obrigado, caros amigos. Que bom que muitas questões são esclarecidas por meio de um texto desses.

  13. Ramon disse:

    Infelizmente o fundador que é o Aldo morreu.

    1. Francisco Reis disse:

      Muito interessante o seu interesse e a pesquisa q fez sobre os Pasteles Verdes. Eu

  14. Osmar silva disse:

    Meu muito boa a tua pesqueira gostei muito. Uma pergunta porque que as músicas desse grupo nunca toca nas rádios am e fm do Brasil

    1. Aquino 95 991127031 disse:

      Maria e Leonardo, eu sou natural de cruzeiro do sul Acre tenho hoje 53 anos atualmente residindo em Roraima, em 1987 eu assisti a banda dos pastelos verdes tocar em cruzeiro do sul eu tinha 17 anos, em 1988 entrei no quartel 7º bec, em 1989 vim pra boa vista transferido, em 1990 o mesmo grupo de cruzeiro do sul veio tocar aqui em boa vista Roraima no Gresbe eu fue segurança da banda, peguei ate autografo de todos eles, de certo até do pai do Leonardo, conheci todos eles apertei na mão até confraternizamos juntos, depois eles seguiram para o peru. essa é a lembrança que tenho do grupo e foi a ultima vez que vi os pastelos verdes.

    2. Sales disse:

      Porque não tinham representantes comerciais no sudeste do Brasil para a divulgação.