Os impérios

A palavra entusiasmo, de origem grega, deriva da junção de três palavras: “en” (dentro), “theos” (Deus) e “asm” (ação). Assim, literalmente, significa “sentir Deus em ação dentro de si”. Para os gregos politeístas, era palavra utilizada para designar possessão por deuses diversos. Através dos tempos, passou a significar o estado de euforia e alegria intensa.

Sentir a ação de Deus dentro de nós, sua revelação e inspiração, é um milagre. Uma vida sem entusiasmo e sem Deus é estéril. Contudo, alguns transpassam a linha nada tênue, que divide o entusiasta que sente Deus dentro de si e aquele que passa a sentir-se o próprio Deus.

Estes arroubos têm sua origem no excesso de poder. O mesmo poder que corrompe, que, movido pela ganância, vem perpetrando barbaridades através dos tempos. É o poder que manipula massas, envelhecendo e adoecendo o espírito de quem o maneja e, sem perceber, esquece que aos gigantes, não raro, falta a solidez, o que os faz desabar e ter o fim que merecem, como no sonho bíblico do Rei Nabucodonosor, cuja revelação foi dada ao profeta Daniel.

Neste sonho, o Rei contemplava enorme estátua, que possuía a cabeça de ouro, o peito e braços de prata, ventre e quadris de bronze, pernas de  ferro e seus pés eram metade de ferro e metade de barro. Simbolizava quatro reinos (Império Babilônico, Império Persa, Império Grego de Alexandre e Império Romano), suas respectivas ascensões e declínios. O quarto império tinha parte da solidez do ferro e parte da fragilidade da argila. Os pés, de ferro e  barro, aliados por casamentos que não se fundiram totalmente, uma vez que o ferro  não se amalgama com o barro, sustentavam as bases fracas da estátua gigante. Quando o rei dos reis, Deus dos Cristãos, aquele que depõe os imperadores e os enaltece, decide-se por derrubar a estátua colossal com pedra que fez rolar montanha abaixo, reduziu a migalhas o barro, o ferro, o bronze, a prata e o ouro. Pelo relato bíblico, somente o reino de Deus subsistirá para sempre (Dan, II: 31 a 43) .

Não obstante, o orgulho que sentia o Rei Nabucodonosor de sua Babilônia, com seus jardins suspensos e sua preocupação com o destino do reino quando ali não mais estivesse, nada impediu o declínio de seu império e sua conquista pelos Persas.

Nos relatos históricos, os Gregos definiram as direções de pensamento humano durante vários séculos, mas fatalmente caíram. O Império Romano do ocidente durou quase 500 anos, conhecendo o declínio e fim. Correto observar que a profecia revelada a Daniel subsistiu a prova do tempo e aplica-se até hoje.

Todo império está fadado ao fracasso, verificadas as bases inermes e esmiuçada na queda, toda a soberba e pseudo invencibilidade de seus imperadores. Os casamentos descritos pelo profeta são, hoje, alianças políticas que se sustentam por tempo limitado ou pactos entre nações que transitoriamente se apoiam, mas, eventualmente, se frustram pela ganância e seus correlatos. Assim, as uniões rasas, o domínio armado, político ou ideológico e, até mesmo, o comando de um só homem sobre determinada fatia de um povo ou Estado terão fim. Não importa o quão importantes se julguem.

Esta é a prova do caráter passageiro de nossa existência e a certeza maior de que nenhum gigante, vivo ou morto, é tão forte quanto “parece” ser grande. A enormidade é frágil pelos pés de argila do sonho bíblico.

Gabriela Barile Tavares

Gabriela Barile Tavares

* Gabriela Barile Tavares é especialista em Direito Tributário e doutoranda em Direito do Trabalh...

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3 comentários

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  1. DILSON ALVES disse:

    MUITO BOM O ARTIGO, LEMBRA-NOS QUE NÃO SOMOS NADA SEM DEUS.

  2. João Cordeiro disse:

    Perfeita a exemplificação biblica que espelha as relações poíticas.

  3. Raphaela Cavalcanti Tavares disse:

    “Não importa o quão importantes se julguem… Uma vida sem entusiasmo e sem Deus é estéril. ” Excelente texto!