Bom gosto e sem alarde. Um belo Templo em Manaus. Conheça!

Dia Desses recebi convite para visitar o novo templo da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos dias do Brasil, construído em Manaus, em apenas dois anos e meio.

Quando nos anos 1970 via os pares e pares de norte-americanos a andar pelas ruas de Manaus, não sabia da dimensão dessa organização. O termo Mórmon foi dado por quem não é pertencente à Igreja e, para sabermos um pouco mais:

“Mórmon é o nome de um dos últimos profetas Nefitas, general militar e mantenedor de registros, que viveu aproximadamente entre 311 e 385 d.C”.

Bem, a partir dos anos de 1980, na capital amazonense, já se viam brasileiros junto a americanos a formar as duplas de hélderes e depois também das sisteres (mulheres). Pelo que fiquei sabendo, a primeira congregação mórmon no Brasil remonta a 1930 e sua chegada no Amazonas deu-se somente em 1967.

Hoje, a maioria dos seus missionários é composta de brasileiros (eles passam dois anos longe de suas famílias, em outros estados ou países a divulgar os preceitos da organização). Quanto aos estrangeiros, aprendem, por meio de curso rápido, a língua do país em que irão passar os próximos meses.

Na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias, além da leitura, devoção e estudo da Bíblia Judaico-Cristã (Velho e Novo Testamento), há a inclusão no contexto geral, do Livro de Mórmon, focado nas experiências de Joseph Smith, no início do Século XIX, nos Estados Unidos, e baseado nos escritos advindos das duas placas: Urim e Tumim (nomes hebraicos), encontradas por ele, e que vieram, a partir de 1836, com a feitura do primeiro Templo, reescrever a continuação da história cristã na terra, segundo seus devotos. Aliás, no vídeo exposto quando da nossa chegada lá na visitação, foi-nos relatadas as diversas perseguições que eles sofreram pelos outros cristãos nos Estados Unidos, quando do início da sua história.

Convidei um amigo engenheiro, sabedor da língua hebraica e pós-graduando em arquitetura, para se fazer presente na visita dos formadores de opinião. Fomos bem recebidos pelo presidente da Igreja e seus diversos membros. Alguns membros novatos retiraram nossos calçados e nos puseram protetores de plástico, tipo pantufas, para que adentrássemos no santo local. Lembrei um pouco das mesquitas, quando da retirada dos sapatos para se adentrar no local sagrado.

Voltando ao Templo: É o sexto Templo construído no Brasil – o sétimo está sendo erigido em Fortaleza – e o 138º no mundo. O tempo de Manaus é imponente e, conforme nos foi avisado: “Em cada local é construído um templo conforme as necessidades locais, utilizando-se materiais de construção regionais”. Neste ínterim, havia vos perguntado sobre se seria a tecnologia norte-americana a responsável pela obra, foi-me confirmado que havia uma junção de Americanos e brasileiros, envolvidos no trabalho. Soube também que o templo é todo construído, sua estrutura, em concreto armado, sem uso de tijolos, e mais: se houver um terremoto, ele é inabalável, por sua excelente base de fundação.

Passamos por várias salas, com pés direitos altos e variáveis. Notei a falta de uma nave central, conforme existe nas igrejas tradicionais católicas (que herdaram da arquitetura romana antiga, essa forma construtiva). A riqueza da simplicidade aliada ao bom gosto estético faz bem aos olhos. Numa consonância com a iluminação natural, principalmente na sala do meio em que se faz uma socialização entre os membros. Os revestimentos, tanto do piso como também das paredes é notável… Realmente daria dó em se pisar com solados de sapatos, tênis ou madeira, naqueles ultra-límpidos pisos.

Visitamos ainda os vestiários que, conforme nos foi dito: “todas as vestimentas usadas quando da chegada são trocadas por roupas brancas, simbolizando a pureza”. Há uma sala que representa a criação do mundo, com representação nas paredes, do paraíso sagrado. A última sala visitada, das três principais, nos foi pedido o silêncio respeitoso, pois ali, o criador está mais presente. Lembrei da língua dita “muda” do hebraico antigo, permeado de consoantes e também do Templo antigo de Salomão (erigido no Séc. X A.C.) de onde havia a parte intrínseca consagrada à Yavé.

Visitamos ainda o local aonde ocorre a submersão na água, dos religiosos, para que haja um contrato vitalício com o criador. É uma forma de pia batismal, bem feita, que em sua parte de baixo é ancorada por doze bezerros que simbolizam as doze tribos de Israel (soube que o material construtivo final é gesso). Muito bonito mesmo e muito simbólico. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é caprichosa em suas capelas e templos, e de um refinamento ímpar… Infelizmente não se deve tirar fotos dentro do Templo – minha bolsa foi gentilmente pedida por uma membro e devolvida depois da visita.

Na sala das noivas e também do casamento, nos foi mostrado o infinito por meio dos espelhos justapostos em casa lateral da sala, de onde se vê… O infinito mesmo, já que se olha o outro espelho e o próprio em que se está defronte, sem se vê o fim… Esse simbolismo representa o casamento que, por meio dos filhos, continuará por gerações e gerações… Vimos a emoção do casal que nos apresentou esta divisão…

Por fim, na sala de recepção fomos bem atendidos por diversos membros, dentre os quais Ney (São Paulo) e Adson (Relações Públicas para a América latina) e Watson, este último, um norte-americano com um bom espanhol a falar (a princípio pensava eu que ele era um argentino). Um bom suco de manga e também de goiaba, salgados, doces, etc… Tudo de muito bom gosto. Estão de parabéns seus membros!

A visitação pública do local, situado na Avenida Coronel Jorge Teixeira (Estrada da Ponta Negra), próximo ao Jardim das América, pelo lado do Rio Negro, acontece até o dia 02 de junho. Vale a pena conferir.

Daniel Sales

Daniel Sales

* Daniel Sales é pesquisador cultural.

Veja também
20 comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Willian Pimentel disse:

    Parabéns pela pesquisa. Quem sabe futuramente você possa criar o seu blog e divulgar muitas coisas interessantes sobre nossa cidade para que nós conheçamos as maravilhas da nossa terra.

    Um grande abraço!!

    1. Sales disse:

      Obrigado, Willian!

  2. Prezado Daniel Sales. Muito fiel suas palavras sobre como foi a visitação do Templo Mórmon em Manaus. Parabéns pela descrição detalhada da visita e pela bela matéria esclarecedora.
    Márcio Roberto Patelli

    1. Sales disse:

      Obrigado, Márcio!

  3. Wagner disse:

    Caro Daniel, respeito o direito dos irmãozinhos mórmons de fazerem seus templos, mas tinha que ser logo naquela área, que futuramente poderia ser um grande parque público, de frente para o rio?

    1. Sales disse:

      Pois é meu caro Wagner. Mas tudo isso é muito relativo… A FRENTE de Manaus, desde a famosa Manaus Moderna (CENTRO)é toda, culturalmente, servida a outros propósitos, menos ao lzer e turismo, etc. Muitos falam que Manaus não tem frente… Isso vem de séculos… Uma questão cultural…

      1. Wagner disse:

        Concordo com a observação. Mas esses erros históricos poderiam ser evitados pelo menos a partir de agora.
        Fora naquela parte do Amarelinho, a cidade está toda de costas pros rios. Uma boa forma de começar a corrigir seriam nos empreendimentos feitos doravante.

        1. Sales disse:

          Concordo Wagner, mesmo sabendo das dificuldades que seriam levantadas para tal. A forma de se ver uma cidade e suas nuanças diferem de povo para povo. Manaus ainda está na busca de sua identidade, por incrível que pareça. A discussão é longa e, é claro, interessante. Estou com ocê, acho mais bonito uma cidade de “frente para o rio, lago, mar, etc.”

  4. Marquinho da vila disse:

    Gostaria de também dar meus parabéns par o Daniel, pelo detalhamento da visita ao templo Mórmon, muito interessante, valeu!

    1. Sales disse:

      Obrigado, Marquinho!

  5. carlos borges disse:

    Muito abrangente e fidedigna a tua descrição em relação ao Templo Mórmon e a origem de sua crença, meu caro Daniel. Meus parabéns mesmo! Abraço.

    1. Sales disse:

      Obrigado, CB!

  6. Robson disse:

    Parabéns, principalmente pela descrição honesta e correta do Templo de Manaus. Muito obrigado!

    1. Sales disse:

      Obrigado, Robson!

  7. wellington disse:

    Caro Salrs, parabens! vc foi hoesto e muito correto em sua decricao, somente uma pequwna coerrecao o Urim e Tumin nao sao as placas propiamente ditas e sim um peitoral composto dessas duas pedras, o mesmo foi encontrada por joseph juntamente com as placas e era usado pelo mesmo na traducao das placas.

    1. Sales disse:

      Obrigado, Wellington!

  8. suzyjane disse:

    rapaz. juro que me emocionei qndo li seu artigo. realmente senti o espirito vindo de suas palavras qndo descreve o templo de manaus. saiba que esse é realmente um lugar santo e sagrado, que infelizmente nao poderei visitar pq estou morando no RJ. Mas assim que poder estarei la para me selar ao meu marido para toda eternidade!! pois sou SUD. obrigada por me descrever com detalhes a casa do senhor!!

  9. Sales disse:

    Obrigado, Suzyjane!

  10. Elvis Rocha Campos disse:

    Olá Amigo, sou membro desta igreja a minha vida toda, e parabenizo-te pela maneira clara e simples que falou sobre o Templo de Manaus, moro em Florianópolis, e conheço 5 dos 6 templos do Brasil, pesquise sobre os outros, são todos diferentes, mas todos tem a mesma realeza em comum, um grande abraço

    1. Sales disse:

      Obrigado,Elvis!