Coisas da informática

Liga-se o computador e lá está a mensagem: “O Windows está sendo inicializado”. Ao encerrar a sessão, por uma questão de lógica, a máquina deveria avisar, igualmente, que o programa está sendo “terminalizado”.

Essa criação de novos termos no vernáculo é, porém, o menor dos problemas da informática. Afinal, sendo a língua um ente vivo e o desenvolvimento da tecnologia se dando em país de língua inglesa, o fenômeno interativo é natural, apesar dos óbvios exageros, como é o caso desse irritante “inicializar”, em detrimento do velho, cansado e singelo “iniciar”.

A coisa piora quando se abre o correio eletrônico. É impressionante a quantidade de gente que não tem o que fazer e supostamente preocupada com os mais bizarros assuntos. É o tal “spam” que prolifera com velocidade epidêmica, não havendo, parece, meio viável de controlar a expansão da praga.

Por exemplo, se você é do sexo masculino já há de ter recebido incontáveis mensagens em que o mensageiro se revela especialmente cuidadoso com o tamanho e o eventual crescimento do seu órgão genital (“enlargement of your penis”), recomendando comportamentos especiais e tratamentos específicos para que o “peru” vá além do prescrito pela natureza. Tenho que confessar, para me ater à verdade, que nenhum desses sacerdotes da genitália ainda apresentou uma tabela que permita saber qual é o tamanho ideal. Há de ser porque, no caso específico, como em muitas coisas na vida, há gostos diferenciados, ficando a escolha a critério do freguês… ou da freguesa.

Deve ser o mesmo grupo de desocupados que, uma vez obtido o aumento da verga, traz à baila a questão de como mantê-la em condições fisiologicamente utilizáveis para funções distintas da micção. Lê-se, então: “Compre cialis e viagra”, (“Buy ciallis and viagra”). Até parece que é uma operação dificílima ir à farmácia da esquina e adquirir esses dois milagres com que a ciência do século vinte nos brindou, eliminando o que sempre foi uma brutal preocupação dos homens que chegam à velhice. Ou que, antes mesmo disso, já não podiam dar vazão aos seus devaneios eróticos.

Tudo isso sem falar nos idiotas que advertem que “seu CPF foi bloqueado” ou que “seu nome foi inscrito no SERASA”. Aqui, a vocação para o estelionato é indissimulável. Quer-se que a vítima preencha um cadastro, ou coisa do gênero, fornecendo dados que permitirão o livre acesso a contas bancárias ou cartões de crédito. O pior é que tem gente que cai nesse conto do vigário eletrônico.

Existe, ainda, a categoria dos que lhe prometem mostrar fotos comprobatórias de que “você está sendo traído”. Se o suposto corno vai conferir, entra numa esparrela do tamanho de um bonde, porque tudo não passa do encaminhamento para links que instalarão programas piratas na máquina. Em síntese: outra atividade estelionatária.

Claro que hoje em dia é impossível viver sem a parafernália cibernética. Exemplificativamente, ninguém pensa num escritório de advocacia, ou num consultório médico, sem um computador. Hão de ser simples arapucas para incautos. Convenhamos, porém, em que as coisas eram muito mais tranquilas quando a gente comprova os selos e, depois de uma simples lambida, os afixava nos envelopes que, não se sabia quando, um dia chegavam ao destinatário sem nenhuma dessas maluquices.

Acho que, publicando essa manifestação de saudosismo, o computador vai me advertir de que estou ficando “envelhecizado”. Outra falha, porque eu estou é velho mesmo, sem nenhuma necessidade de neologismos que tentem mascarar essa realidade. E o pior é que temos de nos render  incondicionalmente diante da máquina. Ela erra, mas nem tanto. E, como se tornou imprescindível, resta com ela conviver, mesmo que seja entre tapas e beijos. Tornou-se ela uma espécie de “minha malvada predileta”.

Felix Valois

Felix Valois

* Félix Valois é advogado, professor universitário e integrou a comissão de juristas instituída p...

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