Boi Rico x Boi Pobre e Boi do Povão X Boi da Sociedade

O Festival Folclórico 2010 serviu para derrubar vários tabus. Diziam que o Caprichoso levou David Assayag porque é o “Boi do dinheiro”. O Garantido foi lá e, cachê bem mais alto, trouxe Daniela Mercury.

Essa história de boi rico x boi pobre e boi do povão x boi da sociedade me dá nos nervos.

Fiquei particularmente alarmado quando uma colega de trabalho, próxima, amiga, fez um texto tratando o Garantido de “Boi do Povão” e o Caprichoso de “Boi da Elite”. Paixões à parte, percebi que ela estava refletindo uma “verdade” muito enraizada.

Como isso surgiu?

Década de 1970, Paulinho Faria começa a apresentar o Garantido e põe o bloco na rua, como sempre fez, com muita competência. Pega o carro de propaganda volante da loja “A Jotapê”, de sua família, e sai pelas ruas desafiando o Caprichoso, dizendo que o Garantido era o lindão etc. Zé Maria Pinheiro, radialista, dono de outro carro de propaganda, fanático pelo Caprichoso, começa a dar o troco.

Na época, Cleó Marques e Ana Celeste haviam acabado de desfilar pelo Caprichoso como Miss do Boi e Rainha da Fazenda. Com um detalhe que lotou ainda mais o Parque das Castanholeiras, onde o desfile aconteceu: eram belíssimas, de famílias conhecidas e foram as primeiras a desfilar de maiô nos bumbás.

O resultado é que desfilar no Caprichoso virou uma consagração de beleza feminina. A menina podia ser bonitinha e tal, mas só seria reconhecida na cidade se desfilasse no Caprichoso. Por conta disso, em certa ocasião, no estádio Tupy Catanhede, o Caprichoso formou a “Ala Jovem” e colocou no tablado perto de 100 das mais belas meninas parintinenses, dos 15 aos 18 anos, fazendo um círculo completo.

Zé Maria, no auge dessa picuinha com Paulinho Faria – que cumpriu papel fundamental na cidade para aumentar a rivalidade entre Caprichoso e Garantido – tascou: “O Caprichoso é onde desfilam as meninas mais bonitas de Parintins. É o boi da sociedade”.

Paulinho, esperto, atinado com a guerra de torcidas Remo x Paysandu, em Belém do Pará, onde sua família tinha negócios e que frequentava em todas as férias, lascou, do outro lado: “O Garantido é o boi do povão”. E seguiu nessa linha, no Bumbódromo: “Quem gosta de tucumã que levante o braço”; “Quem gosta de bodó que levante o braço”, repetia.

Em Parintins, o efeito disso foi mínimo. Embora o alto consumo de tucumã (vitamina A pura) e bodó (o peixe 100% sem gordura) estejam entre as unanimidades da cidade, ser do “boi da sociedade” tinha um significado específico, estrito, íntimo, positivo. Significava integrar o boi das mulheres mais bonitas da cidade, das filhinhas de papai, das meninas, como se diz popularmente, “criadas com Toddy”.

E eis que o Boi Bumbá explodiu, com os bumbódromos de madeira e depois o bumbódromo de alvenaria. O que era restrito, com um significado local, tornou-se amplo, ganhando outra conotação. Como diz Joãozinho 30, “pobre gosta de luxo, quem gosta de pobreza é intelectual”. Muito pseudo intelectual e rico querendo parecê-lo virou Garantido por conta do charme do slogan “Boi do Povão”. A partir daí isso virou sinônimo de boi pobre, sem dinheiro, sem apoio, desamparado, que vencia os festivais apenas com a garra de sua torcida.

Ninguém parou para pensar que os governos Federal, do Estado ou Prefeitura ou mesmo empresas da iniciativa privada dão um valor para um bumbá e outro igual para o outro. Ninguém leva um centavo a mais. Se um administra bem os recursos e o outro não, aí já é outra questão. Ambos recebem em torno de R$ 7 milhões por ano. É o suficiente para fazer bonito.

Os bumbás de Parintins nasceram, ambos, de um tronco nobre. José Furtado Belém, político influente no Amazonas do início do Século XX, pai do saudoso deputado estadual Júlio Furtado Belém, patrono do aeroporto da Ilha Tupinambarana, está na raiz do Boi Galante, que é o frondoso tronco onde nasceram Garantido e Caprichoso.

Os bumbás atuais, porém, foram fundados, o Garantido por Lindolfo Monteverde, que era pescador, e o Caprichoso por Boboí, Emídio Vaz e Luiz Gonzaga, entre outros, estivadores e, igualmente, pescadores. Todos pobres. Todos gente muito humilde. A pesca era a principal atividade econômica do Município.

Em determinado momento, final da década de 1980, Zezinho Faria, comerciante próspero, irmão de Paulinho Faria, era o presidente do Garantido. O presidente do Caprichoso era Rubem dos Santos, radialista, professor, assalariado, meu irmão. Zezinho usou os armazéns de sua empresa para profissionalizar o bumbá e reutilizar materiais de um ano para o outro, ampliando o número de brincantes do vermelho a cada ano. Rubem comprava paneladas de peixe no porto da Francesa, emprestava panelas na vizinhança e levava para os QGs do Caprichoso, para alimentar os artistas.

Mas o Caprichoso era o Boi Rico e o Garantido o Boi Pobre. Eficiência do marketing X ausência total de marketing.

Outro dia estava fazendo uma lista de torcedores dos dois bumbás em Manaus. Não vou citar nomes, mas a balança da “sociedade” fica quase toda com o Garantido – donos de TVs, rádio e jornal, superintendente de autarquia poderosa, políticos do Executivo etc. & tal. E é um pessoal participativo, que não tinha problema em meter a mão no bolso e ajudar o Garantido, quando ele precisava. Do lado do Caprichoso, o João do Carmo Careca aparecia com uma idéia maravilhosa e lá ia a gente fazer cota, recolher de R$ 10 em R$ 10 para conseguir juntar o dinheiro inicial e depois sair de porta em porta dos comerciantes para arranjar o resto.

O Festival Folclórico 2010 serviu para mostrar que não tem nada disso não. Claro que o melhor marketing deve ser usado para atrair torcedores. O Garantido é muito bom nisso. Que o Caprichoso aprenda a lição e reequilibre as coisas.

Afinal, a origem humilde de ambos os bumbás ressalta o mérito dos parintinenses em tornar o Festival de Parintins uma festa reconhecida internacionalmente. Sem dinheiro. No peito e na raça. De ambos os lados.

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31 comentários

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  1. murilo rayol disse:

    Parabéns Marcos. É isso aí, vc disse tudo
    Abraços

  2. gerson severo disse:

    Marcos, essa tua pregação no deserto ainda não funcionou. Há tempos conheco essa historia pela tua boca, mas infelizmente ninguém mais, além de vc, conta isso! É um relato de quem esteve por dentro do processo, mas que não é afiançado por outros. O próprio Caprichoso precisa refletir sobre este relato, pois até hoje engalana-se para dizer que é o boi da elite. Vejo novamente vc tocar nas fundações dos bumbás, vc indica agora o Galante como arvore frondosa que deu os dois bumbás. Vou pesquisar, mas é a primeira vez que leio isso. No q diz respeito ao Caprichoso, novamente tenho que discordar, nao faz muito tempo o Azul fez um festival para dizer que foi fundado pelos irmáos Cid, que vc agora ignora. No mais irmáo, saudações azuis e parabens pela vitoria dele neste festival, onde as rivalidades estavam mais do que acirradas. Foi um belo festival, com um belo campeáo. abcs

    RESPOSTA:
    Gérson, alguns desses personagens estão vivinhos da Silva. Ana Celeste mora em Manaus e Cleó Marques em Itacoatiara, por exemplo. Paulinho Faria e Zé Maria Pinheiro estão em Parintins, ativos, muito conhecidos e reconhecidos.
    Se você for aos mais jovens, eles não lembram mesmo. E tem esse negócio do neofanatismo, sobre o qual já te falei também – os novos cristãos querem ser mais cristãos que os outros.
    É por conta desse componente do fanatismo que é tão difícil fazer História no Festival Folclórico de Parintins.
    O Garantido comemorou os 100 anos de Lindolfo Monteverde em 2002 e Chico da Silva afirma: “Boi Garantido/ É histórico e é sabido/ que mestre Lindolfo Monteverde/ aos 18 anos de idade contigo sonhou…”. Ora, se ele nasceu em 1902 e sonhou com o boi aos 18 anos, só pode tê-lo fundado APÓS 1920 e não em 1912, como insiste em dizer o bumbá.
    Quanto aos irmãos Cid, você tem razão, é um erro que eles não estejam no meu texto, mas considere-os contemplados no “outros”, embora mereçam mais que isso.
    Sobre a origem, aliás, tem muita gente que morava nos arredores dos currais onde os bumbás foram fundados, deu muito cascudo nos curumins que insistiam com aquela barulheira e hoje se diz fundador. Não é o caso dos CID, que, até hoje, com a Peta Cid, contribuem de forma decisiva para o Caprichoso.
    Tenho insistido – e você pode ajudar nisso – pela contratação de uma instituição de Ensino Superior acima de qualquer suspeita, como a USP, para pesquisar e escrever a história dos bumbás. Aí talvez as luzes apareçam e a gente saia desse pântano histórico que são os primeiros 20 anos de Caprichoso e Garantido.

  3. JOSÉ JORGE JR disse:

    Parabéns pelo texto Marcos. É sempre bom saber os bastidores e o inicio desse festival folclorico que fez o amazonense ter orgulho das suas origens, sem medo de ser feliz. Infelizmente muitas vezes os criadores são ignorados, esquecidos e desrespeitados, mas é dever daqueles que conhecem o “porque das coisas” tornar público e fazer valer a justiça! Parabéns pelo texto!

  4. Mamede Jr. disse:

    Valeu Marcos! É sempre bom ter argumentos contra as pavulajens do contrário.

  5. Osmar disse:

    A verdade é que o pessoal do Caprichoso sempre se gabaram do fato de seu curral ficar localizado na parte nobre da cidade (próximo ao centro), enquanto que os simpatizantes do Garantido frequentavam a Baixa do São Benedito, local alagadiço, com pouca iluminação, onde moravam as pessoas mais humildes de Parintins.

    RESPOSTA:
    A verdade toda é que isso valia para ambos. O Caprichoso também era discriminado por ser da Francesa, um bairro igualmente pobre. E o Campineiro, do Camoca, não conseguiu ir em frente porque seu curral ficava “depois da placa”, ou na Cohab-AM (que se falava Cohabam) de Palha, hoje bairro de Palmares.
    A “alta sociedade” de Parintins entrou nos bumbás por algumas famílias e foi a rivalidade delas que fez florescer a espetacularização da festa.
    Os bumbás gramaram muito antes de se tornarem chics.

  6. CARLOS PAULAIN disse:

    PARENTE,O ZEZINHO,ANTONIO,GRAÇA,PAULINHO FARIA,EMERSON,JR E ERIVALDO MAIA,OS GOES,OS KIMURAS,SOL,ESTER E SALOMAO COHEN,ZE PEDRO,BADU,E OSMAR FARIA,VAL BATUEL,CHICAO IANUZZI,JULHAO VIANA,FERNANDO MAIA,MACA FAÇANHA.ESSA TURMA DO POVAO, QUE SAO NOSSOS AMIGOS ATE HOJE, FAZIAM O C.. DA COTIA ASSOVIAR.O TEU TEXTO ESTA 10.UM ABRAÇO DE CAMPEAO.

  7. arthur cezar ferreira e silva disse:

    MARCOS SANTOS., COMO VC FAZ A GENTE FAZER UMA VIAGEM AS AVESSAS., POIS TUDO O QUE VOCE FALA., O PAI JOAO CONTA CANTANDO., pra todos os fatos de GARANTIDO E cparichoso ele tem uma toada., fiqei feliz em te descobrir nesse blogger porque vc resgata a verdadeira historia de Garantido e Caprichoso com conhecimento de causa. Hj todo mundo quer falar sem este conhecimento. Precisamos SISTEMATIZAR tudo isso e entendo que nao precisa ser algume da USP nao., temos competencia para tal., a questaoe delimitar bem e catalogarmos tudo o que entendemos ser de fundamental importancia para que a nossa historia nao se perca e essa historia de BOI DA SOCIEDADE e BOI DO POVAO pra quem conhece o povo de Parintins sabe que de fato foi uma forma que o Garantido achou e sempre acha pra dizer que apesar de pobre tem RACA, e que e mais folclorico como se pobreza fosse paradigma pra se caracterizar o que seja folclorico. As pessoas tem que entender que O FOLCORE ESTA NO CORPO E NA ALMA, NO JEITO DE AGIR E DE SENTIR., ESTA NA VIDA DO POVO. Ademais., NAO E SOMENTE A TRADICAO UMA CARACTERISTICA DO FOLCLORE, MAS A SUA INFORMALIDADE e GRACAS A DEUS APESASR DOS ELEMENTOS DA CULTURA DE MASSA QUE ESTAO NO FESTIVAl, GARANTIDO E CAPRICHOSO CONSEGUEM ARTICULAR MUITO BEM ESSA QUESTAO DO APROVEITAMENTO DO FOLCLORE COM A CULTURA DE MASSA.

    No fim GARANTIDO E CAPRICHOSO FORMAM UMA SO FAMILIA., UM SO LUGAR QUE TEM ORGULHO DE DIZER QUE E CABOCLO E QUE CONSEGUIU INVADIR E TER ACEITACAO SOCIAL COM A LINGUAGEM INDIGENA E CABOCLA QUE NA MINHA OPINIAO DEVE SER MAIS REFORCADA JA QUE VIVEMOS NUMA SOCIEDADE PACIFICA, SEM PRECONCEITO, PLURAL E FUNDADA NA HARMONIA SOCIAL., UMA DIVERSIDADE QUE DEVEMOS ESTAR INSERIDOS SENDO UMA UNIDADE NA DIVERSIDADE. Valeu!!!!!!!!!!!!!!!!!

  8. Durval disse:

    Cara, a Mercury não cobrou um centavo do Garantido ! Ela fez isto em resposta à nova fase do boi, sem o David Traíra que só enxerga os seus interesses próprios.

  9. RICARDO disse:

    SE A MERCURY NÃO COBROU NADA, É UM SINAL QUE TODOS OS ARTISTAS DO BRASIL ESTÃO OLHANDO PARA NOSSA CULTURA, COISA QUE ACONTECE COM OS ARTISTAS DE PARINTINS QUE ESTÃO NO RIO DE JANEIRO, HOMENAGEM AO VIVO FEITA PELO CHICO PINHEIRO NA TRANSMISSÃO DO DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA DO RJ.

    DÁ-LHE AMAZONAS…

  10. MERCINHA disse:

    Marcos, é uma maravilha ler os teus textos. Esses sobre os bois são primorosos e nos propiciam uma viagem no tempo. O “depois da placa” foi ótimo.
    Sobre o assunto de povão e sociedade, confesso que nunca senti nos anos que vivi em Parintins, desde que nasci até meus 17 anos. Reconheço que é um baita discurso do Garantido, mas que está perdendo o efeito. Esse ano, por exemplo, foi pouquíssimo utilizado.
    Outra criação do Garantido é a Baixa do São José que nunca existiu.
    Tens razão quando dizes que é necessária uma pesquisa histórica sobre a origem dos bois. Tenho certeza que a UEA e a UFAM têm competência para realizar. Será que algum formando ou mestrando toparia esse desafio?
    Acho de fundamental importância a criação do museu dos bois. Há uns três anos falei sobre isso com o Carmona e ele me disse que isso já estava em andamento no Ministério da Cultura.
    O certo é que o festival de Parintins é cercado de um vastíssimo folclore, lendas, profecias etc.
    Leste a entrevista do Dr. Robério na Crítica de segunda-feira? Muito boa. Pelo que li entendi que o regulamento vale somente até este ano. É hora de ajustá-lo para eliminar erros e dúbias interpretações.
    Saudações azuladas.
    Mercinha

  11. Antonio Breves disse:

    Marcos,
    Parabens pela lembrança do Galante esta é verdadeira origem do nosso Touro Negro pelo menos eu,vc e nossos conteporânos devemos estar pelo menos na 3ª ou 4ª geração horrando nossos antepassados e nossos pais que foram colegas junto com seu Santarém , Dico Muquiado, Luis Gonzaga, seu Ambrósio e tantos outros da raça de baixo, um abraço parente!

  12. João Paulo Faria disse:

    Marcos, sou filho do Zezinho e penso o seguinte: ambos os bois tiveram origens humildes. Só que quando a festa do boi era feita somente pelo povão, a Família Faria se envolveu no Garantido através do tio Badu, tio Osmar, meu avô Zé Pedro e minha avó Maria Ângela. Tio Badu e tio Osmar como primeiros padrinhos, meu tio Paulinho Faria como apresentador, meu pai como ‘repentista’, pois era quem cuidava de tudo no Garantido e resolvia todos os problemas ‘de repente’ e meu avô era o dono da ‘Jotapê’, hoje administrada pelo tio Paulo. Meu avô era apaixonado pelo Garantido, mas era mais discreto que os demais, apenas dava carta branca para meu pai administrar os bens que eram doados ao boi. Minha vó tornou-se torcedora símbolo e madrinha do boi com o tempo. Por isso a galera do Garantido mantém até hoje um carinho especial pela família Faria. Na época, nenhuma assim chamada ‘Família Tradicional’ de Parintins era envolvida com o Caprichoso, já que boi era considerado ‘coisa de pobre’. Apenas depois do envolvimento de meus tios, avôs e pai houve uma mobilização do lado azul. Alguns anos depois dessa ‘adoção’, o próprio Caprichoso saiu com o estandarte com os dizeres de ‘Boi da Elite’, este apelido foi dado pelos próprios responsáveis do boi azul. Inclusive já vi fotos deste estandarte na casa de meu tio Paulo. Ele apenas usou aquilo de forma provocativa, fazendo os contrários acordarem e repararem o erro que estavam cometendo. Agora já pegou e virou parte da história. Mesmo os torcedores azuis quando vencem se referem a riqueza do caprichoso e pobreza dos perrechés e os do Garantido se referem às dificuldades do próprio boi comparadas com a do rival, por isso as vitórias do Garantido são mais épicas e comemoradas. Aliás, até mesmo as derrotas no Garantido são comemoradas ao contrário do contrário, que briga entre si até mesmo quando ganha. 🙂

    RESPOSTA:
    Grande João. Que alegria tê-lo por aqui. Não sei se você sabe, mas eu era, digamos, parte da família. Como amigos-irmãos, eu e Paulinho sempre nos relacionamos muito bem, inclusive quando fomos rivais na apresentação do boi. Mas havia sim famílias ricas do lado do Caprichoso e do Garantido, antes. Os Maia, com Antonio Maia, dono do prédio de A Jotapê, pai do Emerson, Erivaldo, Edinéia (esposa do médico Euler Ribeiro) e Jr. Maia, do lado do Garantido – e Emerson sintetizou muito bem isso com o seu “Sentei junto ao pé da roseira/ lembrei minha infância…”. No Caprichoso, Elias Assayag, pai de Simão, Zezito e Élcio Assayag, avô da Daniela Assayag, e Raimundo Djard Vieira, o “Didi” Vieira.
    Seu tio, Zezinho, foi o responsável pela organização do Garantido. A família Faria contribuiu de cabo a rabo. A Graça orientava da maquiagem às fantasias e garimpava meninas bonitas para o desfile; dona Maria Ângela pintou a casa de vermelho e, pelo que sei, o único Caprichoso assumido que frequentava a casa dela na época dos bois era eu. A Festa dos Bumbás deu um pulo à frente. O Caprichoso teve que correr atrás e o Festival Folclórico, em geral, cresceu muito com essa rivalidade.
    Enfim, João, eu que cheguei a carregá-lo no colo, jamais renegaria o enorme papel da família Faria na história dos bumbás. Elite, o Caprichoso nunca usou. E Boi da Sociedade, repito, foi usado no contexto local pelo Zé Maria e deturpado, com muita inteligência e senso de oportunidade – entenda isso como um reconhecimento -, pelo Paulinho.

  13. MERCINHA disse:

    Marcos, pode ser que não ligues o nome à pessoa, mas o Antonio Breves aí de cima é o Ferró.
    Beijão

    RESPOSTA:
    Sei disso, Mercinha. É, aliás, o Grande Ferró!!!

  14. Carlos Frazão disse:

    Nobre Marcos, que texto maravilhoso. Sou seu leitor assíduo e fã de carteirinha da sua escrita. Peço licença para publicar essa crônica no nosso jornaleco aqui em Parintins. Sua (nossa) Ilha Encantada, também, merece se encantar com o que você escreveu. Parabéns!!!
    Enquanto isso…no site da BAND está postado que o nosso Luis Gonzaga foi o Rei do Baião…é mole????
    Saudações Azuladas!

    Carlos Frazão

    http://www.ojornaldailha.com

    RESPOSTA:
    Obrigado Frazão, o mais parintinense dos cariocas. Publique como quiser.

  15. Ronaldo Bazi disse:

    Sabe Marcos, tomei conhecimento do seu artigo pela minha amiga Mercinha, faço parte dessa história há pouco tempo, sou compositor desde 1997, comecei no Garantido, convidado pelo Simão em 2000 passei a compor para o Caprichoso onde me encontro até hoje. Marcos, a sua vida faz parte da história de Parintins, como muitas pessoas ainda vivas, testemunhas dessa e de outras façanhas de Garantido e Caprichoso. O Parintins tem um povo belo e caloroso, é minha cidade, me sinto mais perto dessa cidade a cada ano que passa, sou tão bem acolhido por todos, que sinto muita saudade o ano todo. Parabéns mais uma vez!

  16. Silvia Emília disse:

    Grande Marcos!!!!Deliro com teus maravilhosos textos, que tive conhecimento pela nossa querida Mercinha…
    Só vc, amigo, pra buscar as coisas do arco da velha…Lembro como se fosse hoje a caminhonete azul do Paulo Faria (na qual adorávamos passear na carroceria..rsrsrsr) e do carro do Zé Maria Pinheiro, passeando pelas ruas da nossa Ilha, inflamando o povo…Lembro, ainda, dos programas de rádio que esperávamos ansiosos para dar as respostas necessárias quando algum comentário não nos agradava….
    Quem não lembra da Florzinha, linda, desfilando como miss do Boi??..E a Lenir Paiva, que tinha um desfile próprio,marcante, parecia que desfilava nas nuvens…
    Bons tempos, amigo…Sem brigas, sem grana, só garra e muito, muito amor.
    Parabéns e continua a nos brindar com tuas maravilhosas memórias!!!Beijos azulados.

    RESPOSTA:
    Sílvia, Mercinha, Bentiva, Breves, quantas lembranças, hein?
    A verdade é que o Festival nos traz uma certa melancolia da nossa Ilha e do jeito como nós nela aprendemos a viver.
    É por isso que o nosso fanatismo é mais, digamos, dominado. Amamos nossa terra e temos consciência do que os bumbás (ambos) representam para ela.
    Sílvia, por exemplo, me foi apresentada pelo Paulinho Faria, que era do Garantido, embora sua beleza se destacasse entre as meninas do N.S. do Carmo, colégio localizado no lado do Caprichoso, pelo qual ela torcia, que ficava perto das nossas casas.
    Saudades daquele tempo em que todo mundo se conhecia pelo nome e por ter feito algo em comum.
    A herança construída por todos é formado pelos amigos. E quando a gente se encontra, ainda que seja pelas linhas de um blog, como nesse caso, bate uma baita vontade de mostrar o quanto nos queremos. E saem essas coisas carinhosas que todos escrevemos.

  17. MERCINHA disse:

    Marcos, é urgente que esse história seja contada por meio de uma pesquisa científica senão vai ficar igual àquela atividade que é usada em dinâmica de grupo em que uma história é contada para uma pessoa que vai repassando e quando chega no final não tem absolutamente nada a ver com o que foi dito no início. Acho até que já está quase assim,
    Imagina a versão que vai ficar se isso for deixado sem critério. A nossa geração está passando ou já passou, sei lá, e vamos fazer nada?
    Saudaçoes azuladas.

  18. Antonio Breves disse:

    Marcos a Mercinha tem razão a baixa do São José nunca existio o curral do contrário de fato fica na baixa da xanda, como esse ano lá não deu jaraqui no baixo o conrário foi pro barro. um abrraço parente!

  19. George Dantas disse:

    Incrivel como esse povo do azul não sabe direito até mesmo a sua origem, e ainda querem questionar o uso da “Baixa do São José”, deixe-nos como nossos slogans, com as nossas referencias e aceitem a de vocês que toda Parintins sabe, que é o azul é o “boizinho da sociedade”.

  20. MERCINHA disse:

    Marcos, tens alguma cópia do documentário feito por vocês que passou no Fantástico.
    O Pedro Marcelo já está com os vídeos de 86, 87, 88, 89, 93 e 2003, mas ainda não sabemos o que tem lá dentro.
    Vamos providenciar uma reunião pra examinar e dar boas risada e até chorar um pouco.
    Te aviso.
    Bj

    RESPOSTA:
    O documentário “O boi bumbá no planeta água”, dirigido pelo Edilson Martins, coordenado pelo Valdo Garcia e produzido por mim, bem lembrado, Mercinha, merecia agora um “remake”. Vou atrás da minha cópia e te falo. Acho que esses vídeos vão nos oferecer belas risadas mesmo…

  21. Taynah Pinheiro disse:

    Um texto extremamente digno pra quem cansou da ladainha dos contrários de serem o boi do povão! Desculpa esfarrapada pra apresentar o mesmo arroz e feijão na arena…mesmas alegorias despencando e mesmas tribos correndo…e dps garfar títulos com desculpa de garra, alagamento e superação! Essa história acabou! Não faz bem na arena não contrário!
    Grande Abraço e que mais pessoas tenham coragem de abrir os olhos do povo pra essas verdades do festival!

    😉

  22. Torna-se mais do que necessário a criação de um MUSEU FOLCLÓRICO ou um MEMORIAL DE PARITINS…
    Para que essa e outras histórias não caiam no esquecimento pois precisamos preservar a nossa história, precisamos preservar nossos antecessores, precisamos preservar nossa memória Para que no futuro seja tudo lembrado com alegria e nostalgia…..

    Parabésn pelo belíssimo texto!

  23. Berg disse:

    Marcos. Sou parintinense, formado em História e concluindo pós-graduação em Históriografia da Amazônia. É um verdadeiro deleite ler este seu texto. Parabens!
    Em meu TCC de graduação utilizei como objeto de pequisa a Vida e Obra do Mestre Jair Mendes, dentro de minhas pesquisas encontrei muitas informações sobre o assunto abordado neste seu texto: Boi do Povão X Boi da Elite, e olha apesar de os “contrários” negar a veracidade das informações contidas no teu texto, eu digo que há sim como provar e comprovar essas importantíssimas informações sobre a história de nossa festa. TEM QUE DIVULGA MAIS ESSAS INFORMAÇÕES. Parabéns novamente e cá pra nós… nós jovens caprichosos precisamos ouvir e fazer o que o poeta Chico da Silva deixa claro em sua toada “… (Caprichoso) traz consigo a leveza da luz que a alma da vida alumia, pra falar de um amor de tudo, de um amor que é preciso aprender e feliz para sempre viver, eu sou, sou Caprichoso até morrer…” Precisamos conhecer melhor, e divulgar a história de nosso boi Campeão Caprichoso.

  24. Rafael disse:

    Ué ja arrumaram outro fundador pro Caprichoso?

  25. Marcos Cohen Jr. disse:

    Caro Marcos, ler sobre a história do Boi-Bumbá de Parintins se torna mais prazerosa, quando contada por quem de fato, vivenciou, participou e ajudou a construir o símbolo cultural mais forte que temos, o nosso Festival Folclórico de Parintins.
    Seu relato sobre a origem oficial de dois “adjetivos” relacionados aos bois, coloca um ponto final nas muitas definições que surgem, afinal, hoje o que mais temos são “novos criadores e conhecedores” do boi.
    O nosso festival, nossos bois, nossa festa, têm que ser contados por pessoas que fizeram/fazem parte de suas histórias, e vc é uma delas.
    Mesmo sendo um “contrário”, o parabenizo pelas belas palavras, simples e imparciais.

    Saudações

  26. arthur cezar ferreira e silva disse:

    BERG., BOM DIA! O mestre Jair te contou que ele tinha UM BOI CUJO COURO DELE ERA TODO AZUL?

  27. Marcos Pontes disse:

    Marcos, você sabe que boi Galante era o Caprichoso. O Garantido sempre foi do POVÂO.

    Lembra da letra: “Boi Caprichoso é Galante. A bandeira dele é cravada de ouro, prata e brilhante’!!

  28. Teures disse:

    Parabens pelo comentario e poder aumentar o nosso conhecimento da nossa historia bovina, e que sirva para mostrar aos contrários que eles não têm nada de coitadinhos
    como se fala ou se entitulam………

  29. Keynes Breves disse:

    Li e reli esse texto Marcos. É a mesma história que a minha mãe Bernadina Pereira Vieira, a Bereca, me contava. Parabéns. Espero ter a oportunidade de contar a origem dessa festa maravilhosa para a minha filha. Agora é triste ler alguns comentários aqui, como o do meu colega George Dantas, que é uma pessoa inteligente e aprendeu a gosta do ritmo criado em Parintins, mas que pelo visto só respeita a história do Garantido. Colega vc chegou ontem no boi. Existe história além do limite geográfico da “Baixa do São José”.

  30. Ieda Carvalho disse:

    Marco Manozinho, depois de tanta celebridade e entendidos em boi escrevendo… Mas olha, aprendi a gostar de Parintins e de toda pavulagem (no melhor sentido possível) que tem nessa terra de Deus.
    O partinense é unico em criação e contestação e por isso entendo que essa história de boi do povão x boi da elite é mais um ponto para dar força ao “desafio”. Entretanto, se o “contrário” quer continuar a usar o slogan Boi do Povão deveria buscar inovar através dos artistas de Parintins, levando-os para conhecer novas tecnologias, texturas seja nas escolas de samba ou em outro lugar e deixar de usar elementos totalmente fora do contexto do boi como tem sido com homem voador, balão, bem te vi, moto, mercurys etc. Pra mim isso é coisa de gente que não pensa no artista parintinense e sim em gastar MUITO dinheiro dos bois “estrangeirimos”.
    Salve o artista, caboclo e parintinense!

  31. Eduardo Gomes disse:

    Estive há pouco na casa do João do Carmo que estava se preparando para o aniversário de amanhã (16/07). Ele falou do texto acima e fui conferir. Beleza pura! É a essência da verdade. O problema está nos neofanáticos que sÓ vêem o Boi de ano e ano, não conversam com o José maria Pinheiro, Zezinho Faria, Paulo Faria, Badu e tantos outros, desconhecem ou querem fazer questão de desconhecer a história dos bumbás em Parintins. Lamento pelas incompreensões e cegueiras ocasionais históricas! Afinal de contas meu caro, ninguém é perfeito. Parabéns pelo texto.

    RESPOSTA:
    Iiiihh, rapaz, preciso ligar correndo pro Careca pra dar os parabéns pelo aniversário. Senão é um ano de bronca. Valeu Dudu.