Quem tem mais representatividade, vereador ou deputado ‘empurrado’ por votos de outros ou usuário do Twitter com seus milhares de seguidores? Manifestação das ruas é uma resposta

O País ainda não sabe como explodiram, praticamente de uma hora para a outra, as manifestações que tomaram conta do Brasil. O Partido dos Trabalhadores (PT), nascido nos movimentos sociais, atualmente comandando a Nação, não foi o único a ficar perplexo diante dos acontecimentos. Em Manaus, grupos partidários acostumados a manifestações pequenas, embora barulhentas, foram rechaçados ao tentar uma carona na manifestação de hoje (20/06). Os gatos pingados foram substituídos nas ruas por mais de 100 mil pessoas.

O que houve? Uma explosão. Há muito descontentamento subjacente na vida nacional. O povo está cansado dos esbanjamentos. Não suporta mais altos impostos, políticos que falam na primeira pessoa, uma Justiça corrupta e arrogante, com raras exceções, e os que teimam em caminhar contra a corrente da opinião pública.

Soube, outro dia – e estou em busca de documentos –, que um estádio de futebol do interior não foi construído numa gestão passada porque o prefeito devolveu R$ 5 milhões, em emenda federal, alegando que o dinheiro era insuficiente para realizar a obra. Eleito o sucessor, o estádio foi construído em três meses, com recursos próprios e o mesmo projeto, por R$ 400 mil. Duas coisas aí: o prefeito sabia que licitação e obra levariam mais tempo que o que lhe restava de mandato. Os louros ficariam, então, para o sucessor, um adversário político. A diferença no valor, porém, chega a ser monstruosa.

A corrupção, alvo dos movimentos, passou da conta faz muito tempo.

A pauta de reivindicação dos manifestantes foi e ainda é difusa. Eles perigaram resvalar, não fosse a conquista concreta da redução das tarifas de ônibus, trens e metrôs no Rio de Janeiro e em São Paulo, para o rol dos rebeldes sem causa. A aparente “capitulação”, porém, que chegou a unir PSDB e PT, foi uma “esperteza” de marqueteiro para tentar aplacar a fome de mudança.

Já pensou se a pauta fosse fechada em cinco ou seis propostas? Duras. Diretas. Profundas. Proporia, se fosse possível, um item:

O teto salarial do Brasil, que hoje é o de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), passa a ser o salário de professor de universidade pública, doutor e com pós-doutorado, com pelo menos dez anos de serviço público.

Há, no entanto, muito mais a mudar.

Por que uma obra privada custa até 50% menos que obra pública? Noves fora a corrupção, a arrecadação do erário é instável e os pagamentos atrasam. O empreiteiro calcula seu custo aplicando um porcentual (com certa folga), capaz de lhe garantir a sobrevivência, em meio ao turbilhão de atrasos e até à possibilidade de calote.

A representatividade popular foi colocada em xeque nessas manifestações.

O deputado federal Tiririca (PR-SP), teve 1.353.820 votos, 6,35% do total de eleitores paulistas, em 2010, e levou para a Câmara Federal três outros parlamentares que não estariam lá sem esse empurrão. Entre os beneficiados pela impressionante votação do palhaço está o presidente do PR, acusado no escândalo do mensalão, Valdemar Costa Neto. Em Manaus, ano passado, o vereador Everaldo Farias teve 3.465 votos. E foi eleito. Um enorme número de usuários do Twitter e do FaceBook, as mídias sociais mais usadas, obtêm mais de 5 mil seguidores, com certa facilidade.

A mega manifestação de ontem, em Manaus e em várias outras cidades brasileiras, mostrou a força da Internet, das mídias sociais. Essa força foi apropriada pelos políticos nas últimas campanhas eleitorais. Agora, a mão de obra ociosa dos “gestores” desses meios, especialistas principalmente no Twitter e no FaceBook, foi o motor propulsor da explosão popular.

A organização foi complicada? Sim. Ainda há quem confunda revolução com depredação? Sim. O discurso leninista/stalinista de “aponte uma revolução que não teve confronto” não bate com o espírito brasileiro. Esquece Mahatma Ghandi. Ignora que ciência social não é ciência exata. A afirmação, axiomática para a esquerda brasileira da década de 1970, não pode ser levada ao pé da letra. Quer confronto mais explícito que as hordas de brasileiros nas ruas? A ação dos vândalos não é confronto. É afronta à maioria pacífica.

O movimento vai continuar. A pauta será organizada. Ou os dirigentes mudam o Brasil ou o Brasil muda pelas ruas. Até porque você mesmo já deve estar se perguntando: “Será que nós vamos mesmo mudar esse País?” Tomara.

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1 comentário

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  1. Carlos Lima disse:

    Prezado Marcos Santos….
    Se esse país realmente mudar pra melhor, vai ser uma das poucas vezes na minha vida que eu vou estar feliz por está enganado, pois a muitos anos eu perdi completamente a esperança de ver um Brasil decente.