Um ato para refletir, no meio do incêndio que causou tanto sofrimento aos moradores da comunidade Arthur Bernardes

A polícia estava trabalhando, em meio a Bombeiros, moradores e voluntários, tentando ajudar as vítimas da comunidade Arthur Bernardes, no bairro de São Jorge, em meio ao incêndio de terça-feira. Estavam sendo consumidos pelas chamas 545 barracos. O desespero era completo. O calor, insuportável. A fumaça, asfixiante. Eis que, no meio de tudo isso, surge um grupo de rapazes carregando uma TV de LED, 43 polegadas. O policial indaga de quem é o aparelho. Um homem, que parecia comandar o grupo, disse que não sabia, ao mesmo tempo que o deixava no chão e, ato contínuo, saiu em desabalada carreira.

Entre o fim do incêndio, ontem (27/11), ao meio-dia, e hoje (28/11), por volta das 9h, seis pessoas haviam procurado a polícia reclamando o objeto. Chegavam e diziam: “Essa TV é minha”. Só um prometeu voltar com a Nota Fiscal, para comprovar a propriedade.

É o cúmulo da miséria humana. O fato mostra que, no meio daquela desgraceira toda, vizinho roubou vizinho ou ladrões de áreas vizinhas foram até lá e se aproveitaram da situação para roubar.

No Japão, um terremoto de 9 graus na escala Richter colocou usinas nucleares em risco, provocou tsunami, deixou 11.063 mortos, 17.258 desaparecidos, pelo menos 18 mil casas destruídas e mais de 130 mil edifícios danificados.

O “País do sol nascente” levou apenas seis dias para reconstruir uma das principais rodovias destruídas pelo terremoto. Reforçou toda a infraestrutura contra tsunami. E, sobretudo, o povo, faminto, com frio e desabrigado, portou-se com comovente dignidade. Muitas das 250 mil vítimas, que tiveram que morar em 1,9 mil abrigos, ajudaram a recolher donativos aos armazéns improvisados pelo Governo. E, depois, sem que um só saque coletivo tenha sido registrado, todos foram aguardar nas pacientes filas pela comida e os agasalhos.

Foi a pior tragédia japonesa, desde a II Guerra Mundial.

Dignidade. Paciência. Honestidade. Ética. Racionalidade em meio ao caos. Parece demais pedir isso à nossa sociedade, neste momento, quando ocorre uma tragédia como a da comunidade Arthur Bernardes.

Nossos valores estão corrompidos. Prevalece o “farinha pouca meu pirão primeiro”. Mas fatos como esses acabam provocando reflexões.

Levante a mão quem não passou ao lado da favela e não viu meninos e meninas pulando na água fétida do igarapé da Cachoeira, arriscando-se a contrair todo tipo de doença de veiculação hídrica;

Levante a mão quem parou para pensar na sub-moradia daquelas pessoas e no risco – inclusive de incêndio – provocado pela infraestrutura caótica e a promiscuidade absoluta.

A retirada das casas pelo Prosamim, que estava a caminho, iria resolver grande parte desses problemas, passados na cara da população manauara, diariamente, durante tantas décadas. Não deu tempo. A tragédia se antecipou.

Olhemos ao redor. Há muito mais favelas Arthur Bernardes espalhadas por aí. Existem muitos outros aproveitadores tirando lascas dos outros, sem se preocupar se eles estão no osso, sem mais o que tirar.

Vamos agir, antes que seja tarde.

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3 comentários

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  1. Pedro Paulo disse:

    Caro Marcos Santos,

    Gostei de sua reflexão, o comparativo entre a tragédia da favela Arthur Bernardes e a tragédia japonesa, desnuda o quanto nossa sociedade necessita resgatar valores que foram perdidos, pois afinal vivemos em uma espécie de “terra de ninguem”, de aproveitadores e lacaios de todas as espécies e níveis. Necessitamos de uma transformação urgente na maneira de pensar, agir e transformar.

  2. carlos disse:

    Situações como essa mostram o melhor e o pior do povo brasileiro. Solidariedade (pessoas recolhendo alimento e roupas para os desabrigados)e espírito de oportunismo (o mencionado roubo da TV). Se o Brasil não da certo a culpa não é dos políticos que prometem o mundo para os mal informados e preguiçosos eleitores. Eles não são a causa dos nossos problemas, mas sim a conseguência. Roubar está no sangue do brasileiro, esse gosto em tomar pra si o bem alheio já é famoso no mundo todo. No Japão, existem lojas com cartazes em bom portugues dizendo: “É proibido a entrada de brasileiros”.

  3. JOAO PAULO disse:

    MARCOS, APROVEITANDO QUEM VOCE ACHA QUE VAI ASSUMIR NO LUGAR DO PAUDERNEY, O ERON OU O PLINIO.