Coincidências e desencontros entre o ciclo olímpico e o ciclo dos administradores brasileiros

É comum, em tempo de Olimpíada, ver a alegria da vitória, de um lado, enquanto de outro muitos atletas se decepcionam com os seus resultados. A velocista brasileira Ana Cláudia Lemos, que não se classificou para a final dos 200 metros rasos, disse na primeira entrevista à TV que sua performance foi “uma m…”. César Cielo justificou não ter ganho o ouro no 50 metros livres, prova na qual era favorito, porque disputou os 100 metros, dois dias antes, e cansou. Michael Phelps ganhou seis medalhas em Londres, quatro de ouro e duas de prata, enfileirando uma competição atrás da outra. E não cansou.

Quando se encerrarem os jogos de Londres, no entanto, vai começar um novo “ciclo olímpico”. Os atletas terão pequeno tempo de descanso – os mais obstinados nem descansarão – e depois entram num trabalho geralmente dividido em Base, Alto Rendimento e Polimento. Phelps estreou em Sydney/2000 e ficou em quinto lugar nos 200m borboleta. Cinco meses depois, aos 15 anos e 9 meses, se tornou o mais jovem a bater um recorde mundial, nadando na mesma prova.

Os políticos brasileiros, por outro lado, parece que ainda não se acostumaram ao “ciclo administrativo” da redemocratização brasileira, que agora é de oito anos – eleição e reeleição – e não mais de quatro, como antes. A não ser que o administrador seja muito incapaz para, com tanto dinheiro público disponível, inclusive destinado à mídia, não alcançar visibilidade que lhe garanta o ciclo completo.

Um prefeito de Manaus que vá suceder Amazonino Mendes, por exemplo, pode muito bem planejar os oito anos porque terá direito à reeleição.

Vamos pensar em algumas coisas que dá para fazer?

 

Asfalto

No lugar do famoso asfalto “morenou”, aquele que vai embora na primeira chuva, muito comum por estas plagas, o administrador de oito anos pode assumir a determinação de que, em cada rua que entrar, o asfalto seja feito com sub-base, base e uma camada de impermeabilização (asfáltica) de vergonha. Vide o exemplo da estrada do Aeroporto Eduardo Gomes. Uma via feita com esse cuidado dura, sem aparecer buraco, mais de dez anos. Imagine quanto dinheiro público é jogado fora na indústria do asfalto no Amazonas?

 

Educação

A reciclagem dos professores e o incentivo através de premiações salariais – não reajuste puro e simples, mas prêmio pelo mérito – é um caminho seguro para atingir resultados de médio prazo. Outra ideia é trazer intercâmbio com especialistas de outros Estados para oxigenar o ambiente docente no plano municipal.

Não fazer reforma de escola durante o período escolar. De jeito nenhum. Tem tanta escola fechada, hoje, em obras que atravessam mais de dois anos, que até as estátuas coram.

 

Esporte

Massificar o esporte fazendo retornar a obrigatoriedade da educação física até a 9ª Série do Ensino Básico. E criar diversas competições, formando seleções municipais para participar de competições interestaduais e até internacionais – nos países limítrofes –, promovendo seminários com os técnicos e esportistas mais consagrados do mundo. Falei do mundo? Sim. É isso mesmo. Uma passagem não é cara e quem atinge o topo no esporte é gente boa. Não cobra tão caro assim.

O resto, em se tratando de esporte, é oba-oba sem consequência alguma. Coisa de amador, num País onde ou os dirigentes esportivos se profissionalizam ou vão provocar uma decepção acachapante na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.

 

Zona Leste e Zona Norte

Os “administradores” da urbanização de Manaus, Irmã Helena e Raimundo Socorro, criaram os grandes bairros dormitórios da cidade. A maior parte fica na Zona Leste. A outra parte foi puxada pelos militares, com a construção do conjunto Cidade Nova, constituindo o núcleo da Zona Norte. Lá não se cria nenhuma infraestrutura de lazer. Não tem teatro nem cinema, não tem ginásios de esporte (exceto o deplorável Zezão), não tem praça nem espaço de lazer para a comunidade. Quando alguém pensa em lazer, aliás, imagina logo uma obra na Ponta Negra. E haja a atração de gente para um funil onde não cabia mais ninguém no “velho” calçadão e agora é a praia que não tem lugar.

É preciso, então, reurbanizar, organizar e dotar de infraestrutura as zonas Leste e Norte. Ou então não vai ter Ronda do Bairro que dê jeito.

Depois a gente sugere mais. São oito anos, afinal, não é mesmo?

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3 comentários

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  1. cassius disse:

    Excelente artigo. Quantos as idéias, creio q quanto aos professores iremos discordar, o magistério ainda não paga o suficiente para premiações, na verdade na atual conjutura seriam vistas mais como complemento, mas é um caminho.

  2. Henrique disse:

    Pô, Marcos, mas se asfaltarem direito as ruas, nos moldes por você sugerido, aí o motivo para que eles, os políticos, roubem terá acabado! Sem chance, meu caro…

  3. maria jose disse:

    Os políticos sabem o que fazer, o que precisa é trabalhar em prol do povo. Em nossas vidas algumas vezes deixamos alguns projetos de lado por não termos condiçoes financeiras para executar, na administração pública deixa-se de fazer por falta de amor e de respeito com a cidade e seus moradores. Acorda Manaus, vamos eleger pessoas que estejam realmente comprometidas com a cidade!!