Presidente da CNBB diz que novo papa vai precisar pregar numa ‘sociedade marcada pelo medo’

Presidente da CNBB (à esquerda) diz que novo papa vai precisar pregar numa ‘sociedade marcada pelo medo’

Se o colégio de cardeais reúne os mais notáveis prelados do Vaticano, não é nenhum exagero colocar o arcebispo brasileiro Jaime Spengler, de 64 anos, como aquele que atualmente é o mais ilustre nome da América Latina.

O critério, neste caso, é objetivo. Desde 2023, este franciscano, catarinense da cidade de Gaspar, preside a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o colegiado de bispos do maior país católico do mundo.

Medo e conflitos

No mesmo ano, Spengler também foi eleito para presidir o Celam, o Conselho Episcopal Latino-Americano.

“Gosto muito de ler um pensador coreano [o filósofo Byung-Chul Han] que diz que a gente vivia, até alguns anos atrás, numa sociedade marcada pelo cansaço. Hoje estamos vivendo numa sociedade marcada pelo medo. E o medo se expressa de muitas formas hoje. Haja visto, por exemplo, os diversos conflitos armados. Na nossa realidade latino-americana a questão do narcotráfico, das milícias, a situação dos jovens que não sabem se vão conseguir superar talvez um curso universitário, se depois conseguem um lugar de trabalho à altura e por aí adiante”.

Mensagem de paz

Ordem franciscana

Ele assume a humildade de sua ordem franciscana para desconversar sobre o peso que suas palavras, discursos e opções eleitorais devem ter no conclave que ocorre agora em maio.

Spengler foi ordenado padre em 1990. Vinte anos mais tarde tornou-se bispo. Durante a Jornada Mundial da Juventude de 2013, no Rio de Janeiro, conheceu pessoalmente o papa Francisco.

Jovens

Na ocasião, ele foi um dos religiosos brasileiros designados para ministrar encontros catequéticos com os jovens. Ele atribui a esse primeiro contato com o argentino a sua nomeação, dois meses depois, para comandar a arquidiocese de Porto Alegre, onde está até hoje.

Recorda-se que seu primeiro encontro com Francisco ocorreu em um almoço realizado com mais de 300 bispos no Rio de Janeiro.

“Depois cada um podia, se quisesse, se aproximar do papa para saudá-lo. Eu pensei: não vou. Tinha tanta gente, era uma confusão tremenda, eu nunca fui desse tipo de bajulação, não é o meu espírito”, recorda. “Mas apareceu um espaço e eu estendi-lhe a mão.”

Capital gaúcha

O papa então teria lhe perguntado nome e sobrenome. E respondido com um “ah” que, como semanas depois interpretou o hoje cardeal, significava que ele já estava designado para comandar a igreja na capital gaúcha.

Spengler foi feito cardeal no último consistório – reunião do colégio de cardeais – de Francisco, em dezembro do ano passado.

É um novato dentre os pertencentes à categoria, portanto. Mas, apesar disso, não se trata de figura desconhecida nos corredores do Vaticano. Em 2014, por nomeação de Francisco, passou a integrar o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada, órgão do Vaticano responsável por supervisionar ordens religiosas, congregações e sociedades de vida apostólica.

Spengler está em Roma, onde acompanhou o funeral de Francisco e, em seguida, tomará parte no conclave.

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