
Um oi que trouxe a torcida do Caprichoso para mais perto de apresentador e levantador virou a marca de Arlindo Jr.
Era um simples “oiiiii”. Mas a torcida do Caprichoso se ouriçava na arquibancada e começava a cantar junto. Era o “oiiii” da voz poderosa e carismática de Arlindo Jr., depois consagrado como “O pop da selva”.
O ano foi 1989 (ano corrigido, veja nota de rodapé*). Já vai longe e talvez muitos não entendam o significado do momento.
Paulinho Faria, cantando e apresentando, dominava com maestria a torcida do Garantido. Levantava o microfone e a torcida já sabia o que fazer. Essa empatia rendia títulos e dificultava demais o trabalho do Caprichoso.
A torcida azul e branca ia ao tablado ou Bumbódromo – de madeira, até 1987 – para “apreciar” o boi. O envolvimento era difícil. A gente terminava as apresentações com os pulmões em pandarecos, tentando motivá-la. O “oiiii” de Arlindo colocou o Caprichoso no jogo. Foi um grande alívio, iniciando a festa contagiante que hoje vem das arquibancadas do bumbá.
Arlindo Jr. entrou no Boi Bumbá pelas mãos do falecido ex-presidente do Caprichoso Rubem dos Santos, José Carlos Portilho, Acinélcio Vieira e Odinéia Andrade. O cantor não se cansava de lembrar disso. Primeiro, ele o convidou para fazer backing vocal para Rei Azevêdo, no vinil oficial do Caprichoso. O outro backing? David Assayag.
O Pop atraía multidões para o pagode do grupo “Levanta Poeira”, no bar Marajá, de Afonso Rodrigues. Tinha sido convidado para um aniversário em Parintins e foi ficando, ficando, se entrosando… E acabou no curral, no Bumbódromo e na história do Festival de Parintins.
O sucesso da estreia, em 1988, se espraiou para Manaus. Arlindo virou carro-chefe do Bar do Boi, na TVlândia, auge do Movimento Marujada na capital. O sucesso era tanto que, sob a presidência de Sérgio Viana, o Movimento, criado para comprar tambores para a Marujada de Guerra, chegou a bancar o boi inteirinho.
Só por curiosidade: esse “boi inteirinho” custou, à época, US$ 300 mil. E foi um boi grande, um dos maiores da história, no agigantamento das alegorias do Festival de Parintins, comandado por Simão Assayag. Por cima, hoje, isso daria R$ 1,5 milhão. Por isso é tão difícil entender o débito de R$ 13,4 milhões do Caprichoso e outro tanto do Garantido.
O Pop da Selva, enfim, merece todas as homenagens que recebe.
Fez da luta contra o câncer seu melhor momento, sem abandonar o palco e reverenciando amigos, carreira, toada, música.
Fica a lembrança das peraltices que fizemos, naquele 1988, quando a diretoria do Caprichoso teve que nos confinar numa casa. Ou não teria apresentador, nem levantador nos dias 28, 29 e 30.
Descanse em paz, parceiro. O Caprichoso e o Festival de Parintins jamais esquecerão seu legado.
Deixe um comentário