PSDB troca Arthur por Plínio. Veja nota do ex-prefeito e a nova executiva estadual

O presidente nacional do PSDB, Bruno Cavalcante de Araújo, acaba de destituir Arthur Virgílio, ex-senador e ex-prefeito de Manaus, da presidência estadual do partido. O senador Plínio Valério é o novo presidente. A decisão provocou reação imediata de Arthur, que publicou nota em redes sociais pedindo desfiliação da sigla, da qual é fundador.

Arthur Virgílio consta como membro, na lista da nova executiva estadual, de acordo com a Resolução CEN-PSDB Nº 048/2022. Mas, com a desfiliação, o cargo está vago. Arthur terminou a recente eleição para o Senado em terceiro lugar, atrás de Omar Aziz, eleito para a única vaga do Estado, e de Coronel Menezes.

 

Bisneto fica

“Sou membro da executiva nacional e vou ficar. O prazo final de filiação partidária é abril 2024. Até lá muita água vai rolar”, disse Arthur Bisneto, filho do ex-prefeito, que já foi presidente estadual.

“O PSDB deu a meu pai 26 segundos na TV, três inserções por dia, nesta eleição. Tem apenas 13 deputados federais e 2 senadores. Meu pai foi líder com 14 senadores e tinha vários convites para sair. A decisão da executiva nacional foi tomada como um alívio. Espero que o partido tome vergonha na cara. Como deixam (José) Serra de fora? Virou um balcão de negócios, mas eu ainda acredito que dá para mudar”, desabafou Bisneto.

 

Briga antiga

Plínio e Arthur tiveram uma disputa dura para indicação de Amazonino Mendes como candidato a governador. O atual senador queria a vaga para ele, mas Arthur bateu o pé e impôs Amazonino, então líder das pesquisas.

A direção nacional chegou a nomear uma comissão provisória, mas acabou mantendo as coisas como estavam. Plínio perdeu a queda de braço e só participou das eleições para manifestar apoio a Omar Aziz, adversário de Arthur na disputa do Senado.

O curioso é que Plínio Valério, vereador de mandato apagado na Câmara de Manaus, se tornou senador com apoio decisivo de Arthur Virgílio, então prefeito. Omar Aziz participou na condição de “cobrador da estrutura” e, também, foi decisivo na eleição.

 

Despedida

Veja, abaixo, a íntegra da carta publicada por Arthur Virgílio nas redes sociais:

“Presidente Bruno Araújo,

Fiquei feliz e aliviado quando soube, pelo meu filho e só por ele, da decisão do PSDB de entregar o comando regional do Amazonas a um grupo de pessoas às quais desejo felicidades, êxitos, distância da corrupção e independência em relação a certos partidos e certos políticos.

Fico feliz, porque me machucava bastante o coração ver aquele que já foi o melhor – e de mais significativo legado – partido da história republicana brasileira se descaracterizar e se ir transformando numa agremiação parecida com tantas outras, filhas da mesmice, da irrelevância e da mediocridade.

Minha lealdade e senso de responsabilidade me impediram, durante um bom tempo, de abandonar o partido que, incontestável e efetivamente, ajudei a construir.

Obrigado, portanto, por me propiciar a oportunidade de sair, de cabeça erguida e aliviado da carga que já não me agradava carregar.

Fiz parte da 1ª Executiva Provisória do MDB, no Rio de Janeiro, por indicação da liderança estudantil, para confrontar o adesista governador Chagas Freitas e não permitir que o partido de oposição à ditadura fosse dominado pelos que tinham apego mórbido a cargos e vantagens públicos.

Daí em diante foi uma sequência de missões que, inapelavelmente, me levavam a lutar com muita força pelo restabelecimento do regime democrático.

Conquistada a democracia, muitas lutas passaram a ser motivo de vida para meu cérebro e meu coração.

Fui deputado federal e senador por 20 anos, duas vezes líder congressual do presidente-estadista Fernando Henrique Cardoso, que me conferiu a honra de poder colaborar com o Brasil na condição de Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República. Como senador, liderei a brilhante, influente e numerosa bancada de senadores tucanos, atuando na trilha de uma oposição dura e sensata ao presidente Lula da Silva. Capitaneamos a derrubada do imposto injusto, que cobrava a mesma alíquota de ricos e pobres: a prejudicial CPMF. E mostramos ao presidente reeleito que, com aquela bancada respeitável a vigiá-lo, ele jamais conseguiria o que era, na verdade, o “venezuelano” terceiro mandato.

Muito bem, prezado presidente Bruno. Agradeço seu gesto. Essencial para entender a índole daqueles que hoje dirigem um partido decadente, que já foi o mais respeitado no país, com reflexos mais que positivos no exterior. Mas volto a agradecer sua atitude, para mim uma alforria, uma libertação. O futuro a Deus pertence. E como bem dizia o poeta Ronaldo Cunha Lima, “em política, ninguém mata, ninguém morre”.

Há futuro pela frente e, para mim, nem posso dizer se, um dia, me filiarei a algum outro partido.

Meu coração diz que não; vamos ver a mensagem do cérebro.

Comunico-lhe, enfim, minha desfiliação do partido que recebeu quase 35 anos da modesta contribuição que eu e minhas limitações lhe poderiam emprestar.

 

Saudações democráticas,

Arthur Virgílio Neto”

 

Veja a Resolução da executiva nacional do PSDB que destituiu Arthur Virgílio: