Insolação e exaustão: bombeiros relatam situação no caminhão com corpos e sobreviventes nos EUA

Insolação e exaustão: bombeiros relatam situação no caminhão com corpos e sobreviventes nos EUA

Quarenta e seis pessoas foram encontradas mortas em um caminhão abandonado em uma rodovia de San Antonio, Texas, nos EUA, nesta segunda-feira (27). Outras 16 pessoas — 12 adultos e quatro crianças — foram levadas para o hospital conscientes. Ainda não se sabe a identidade das vitimas, mas a hipótese inicial é que elas sejam imigrantes.

“Até o momento registramos 46 corpos”, disse o comandante dos bombeiros de San Antonio, Charles Hood.

“Os pacientes que vimos estavam quentes ao toque, estavam sofrendo de insolação, exaustão pelo calor e sem sinais de água no veículo. Era um caminhão refrigerado, mas não havia unidade de ar condicionado visível em funcionamento.”

Os 60 bombeiros que foram enviados ao local devem receber apoio psicológico, segundo Hood. “Não estamos preparados para abrir um caminhão e ver diversos corpos lá”.

Operação de emergência

Uma grande operação de emergência foi mobilizada com a presença de policiais, bombeiros e ambulância.

O chefe de polícia de San Antonio, William McManus, afirmou que as autoridades foram alertadas às 17h50 locais (19h50 de Brasília).

“Um funcionário de um dos edifícios atrás de mim ouviu um grito de socorro”, disse. “[Ele] saiu para investigar, encontrou um contêiner com as portas parcialmente abertas, abriu para dar uma olhada e encontrou vários indivíduos mortos.”

Três pessoas foram detidas, mas o chefe de polícia não sabe se “estão absolutamente conectadas com isto ou não”. A investigação foi transferida para o Departamento de Segurança Nacional.

O prefeito de San Antonio, Ron Nirenberg, pediu que as pessoas rezassem pelas vítimas. “Esta noite estamos lidando com uma horrível tragédia humana. Por isso, peço a todos que pensem com compaixão e rezem pelos falecidos, pelos feridos, pelas famílias.”

“E esperamos que os responsáveis por colocar estas pessoas em condições tão desumanas sejam processados em todo o rigor da lei.”

A cidade

San Antonio, a 250 km da fronteira, é uma importante rota de trânsito para traficantes.

O caminhão com os corpos foi visto em uma estrada perto da rodovia I-35, que segue de maneira direta até a fronteira com o México. Este tipo de viagem é extremamente perigoso, principalmente porque os veículos desse tipo não costumam ter sistemas de ventilação ou refrigeração.

Caminhões como o encontrado em San Antonio são um meio de transporte amplamente utilizado por migrantes que buscam entrar nos Estados Unidos.

“O Senhor tenha misericórdia deles. Esperavam uma vida melhor”, escreveu no Twitter o arcebispo de San Antonio, Gustavo Garcia-Siller.

“Mais uma vez, a falta de coragem para lidar com uma reforma migratória está matando e destruindo vidas.”

A cidade também está sofrendo com uma onda de calor, que chegou a 39,5 ºC no dia em que os corpos foram encontrados.

Repercussão

O ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, lamentou a tragédia. Ele disse que as nacionalidades das vítimas não foram determinadas, mas que entre os sobreviventes estão dois guatemaltecos.

O governador do Texas, Greg Abbott, republicano que defende uma linha dura contra a migração, atacou o presidente Joe Biden e culpou as “mortais políticas de fronteiras abertas” do democrata.

“Estas mortes estão na conta de Biden”, tuitou Abbott. “Mostram as consequências mortais de sua recusa em fazer cumprir a lei”.

Tragédia em 2017

San Antonio foi cenário de uma tragédia parecida em 2017, quando 10 pessoas morreram sufocadas em um contêiner que seguia para os Estados Unidos. O ar condicionado do caminhão estava danificado e os espaço de ventilação cobertos.

Dezenas de pessoas foram hospitalizadas por insolação e desidratação, embora se acredite que o caminhão transportasse até 200 pessoas — a maioria fugiu quando o veículo parou em um estacionamento.

O motorista do caminhão, que alegou não saber que transportava mais de 100 pessoas no veículo, foi condenado em abril de 2018 à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.

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