Zelensky diz que ataque da Rússia a Kiev foi tentativa de humilhar a ONU

Zelensky diz que ataque da Rússia a Kiev foi tentativa de humilhar a ONU

As sirenes antiaéreas soaram, em Kiev, por volta das 19h (13h em Brasília), seguidas de explosões. Cinco mísseis rasgaram o céu da capital ucraniana e pelo menos um deles atingiu um prédio residencial, no bairro central de Shevchenkivskyi, ferindo seis pessoas.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, estava na cidade e tinha acabado de se reunir com o presidente Volodymyr Zelensky. O líder da Ucrânia acusou o homólogo russo, Vladimir Putin, de tentar humilhar a ONU e defendeu uma resposta “apropriada e poderosa”. Um dos mísseis caiu perto do hotel onde estavam hospedados Guterres e assessores.

Em entrevista à emissora portuguesa RTP, o chefe da ONU admitiu que ficou “em choque” com os bombardeios, não por terem ocorrido em sua presença, mas pelo fato de Kiev ser uma “cidade sagrada” para ucranianos e russos. Mais cedo, ao visitar Bucha — localidade a 15km de Kiev e cenário de um massacre de civis —, o secretário-geral lamentou o “fracasso” do Conselho de Segurança em evitar o conflito.

“Quando vemos esse local horrendo, isso me faz sentir como é importante termos uma investigação completa e uma punição”, desabafou Guterres, que também esteve em Borodianka, a 25km a noroeste de Bucha, e em Irpin.

Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, solicitou ao Congresso a liberação de US$ 33 bilhões em ajuda adicional à Ucrânia, dos quais, mais de US$ 20 bilhões para assistência militar. “Não estamos atacando a Rússia. Estamos ajudando a Ucrânia a se defender contra a agressão russa”, justificou o democrata. Ele detalhou propostas de novas leis para permitir o uso de bens de luxo confiscados de oligarcas russos — uma forma de indenizar a Ucrânia.

Professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, Olexiy Haran contou que as explosões ocorreram em uma área não muito distante das casas de sua mãe e da filha mais velha. “Como os ataques ocorreram durante a visita de Guterres, a estratégia do Kremlin parece ter sido desafiar a comunidade internacional e ameaçar a Ucrânia. Os bombardeios levantam dúvidas sobre a sinceridade do ‘acordo’ anunciado por Putin sobre corredores humanitários em Mariupol (sudeste)”, disse à reportagem.

Oleksandr Pogrebyskyi, sargento do batalhão de voluntários “Irmãos em Armas” e deputado do Conselho Municipal de Kiev, criticou o timing do bombardeio russo. “Vejo isso como uma demonstração da Rússia de desprezo pelo direito internacional e pelas instituições internacionais”, disse ao Correio. “A resposta a esse ataque deveria vir com a imposição de novas sanções, até o completo isolamento da Rússia”, acrescentou.

Cientista político e professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Mauricio Santoro afirmou ao Correio que os bombardeios a Kiev são uma “mensagem muito poderosa” de Moscou sobre a falta de interesse em encontrar uma solução pacífica para o conflito.

“O ataque pode ter colocado em risco a vida do secretário-geral. É uma manifestação muito forte também do poderio militar russo e da capacidade de atacar Kiev a qualquer momento. Embora a guerra não esteja indo bem para os russos, eles gostam de reafirmar essa capacidade de ação internacional”, avaliou.

Santoro lembrou que, apesar de ter se tornado local de visita para dignatários, Kiev é a capital de um país em guerra. “O risco de um bombardeio está sempre presente. Dada a importância diplomática do secretário-geral e o fato de ele ser alguém sempre empenhado em buscar soluções pacíficas, acho que caberia um protesto forte das grandes potências, ainda que o impacto político disso seja muito pequeno.”

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