
Grupo Braga dá detalhes de operação que investiga uma de suas 12 empresas, em coletiva, com Braga Neto (centro), o advogado Sérgio Vieira (paletó) e o diretor-executivo João dos Santos Braga (direita)
A Operação Francamente, que apura a venda ilegal, em outros Estados, de carros utilitários com incentivos da Zona Franca de Manaus, levou joias e dinheiro, reais, euros e dólares, da família Braga e não da empresa investigada. A afirmação foi feita pelo empresário João dos Santos Braga Neto, durante entrevista coletiva, nesta quarta (17/11).
Braga Neto, como é conhecido, é o presidente do Grupo Braga e do Sindicato de Veículos Automotores do Estado do Amazonas.
O advogado da empresa, Sérgio Vieira, revelou que a investigação iniciou quando a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu, no Mato Grosso, uma cegonha com duas picapes S10 e uma Hilux. Foi em junho do ano passado. As S10, que são da marca Chevrolet, foram vendidas, em Manaus, dias 13/05/2020 e 21/05/2020. “Todo o faturamento havia sido feito de acordo com a legislação. Terceiros é que podem ter vendido sem recolher os impostos”, disse o advogado.
Veículos utilitários têm preços diferenciados, quando negociados da Zona Franca para a Zona Franca. Para vender a outros Estados, os revendedores têm que recolher os impostos ou o gravame restringindo a circulação precisa ser mantido.
Inquérito
Sérgio Vieira disse que causou surpresa imagens da operação terem sido veiculadas na imprensa no momento em que os fatos ocorriam. “A investigação corre em segredo de Justiça. Quem decidiu isso foi o juiz”, disse.
O advogado revelou que teve acesso aos autos, com a decisão judicial, na tarde de ontem, enquanto a operação ocorreu pela manhã. “O inquérito apura revenda de utilitários, de pessoas físicas e jurídicas, para outros Estados”, disse.
São investigadas 996 picapes S10, comercializadas de janeiro 2016 a outubro 2020, pelas três concessionárias Chevrolet do Amazonas – Braga Veículos, Pedragon Manaus e Garcia Veículos. Desse total, 247 foram vendidas pela Braga Veículos.
Foram alvos de busca e apreensão 25 pessoas jurídicas (CNPJs) e físicas (CPFs), 19 em Manaus e os demais em outros Estados. Os investigados são as concessionárias Chevrolet, revendedores, pessoas físicas e jurídicas.
“Desde junho de 2020 prestamos informações ao Detran e diversas demissões ocorreram. Não teria problema prestar qualquer informação, novamente, agora. Estiveram aqui (na sede do Grupo Braga) cerca de 20 pessoas, da PF, Receita e Ministério Público Federal (MPF)”, disse o advogado.
Bens apreendidos
Braga, que estava ao lado do sócio e diretor-executivo do Grupo Braga, João dos Santos Braga, que dirige a parte operacional das empresas, revelou detalhes das apreensões. “Foram levados US$ 737 (dólares) € 16.135 (euros) R$ 77.939,00 (reais) e um número considerável de joias. Nos cofres das empresas havia R$ 472 mil, nos caixas de 12 CNPJs. Somente R$ 231 mil eram da Braga Veículos (investigada) e a gerente financeira demonstrou isso”, disse Braga Neto.
“Levaram dinheiro de empresas que não têm nada a ver com a operação. Da Motocicletas Yamaha levaram R$ 128 mil, da loja de acessórios R$ 14 mil e da loja da BMW, que fica na Djalma Batista, foram levados R$ 93 mil. Todos valores lançados, contabilizados, registrados”, disse o advogado.
Braga, senador, não participa
O Grupo Braga, no processo de governança familiar, separou a família das empresas. Braga Neto explicou que, no mesmo prédio, na rua Ramos Ferreira, funcionam as 12 empresas do grupo e a sede do Conselho Familiar, que foi apartado dos negócios. “Não temos nada a ver com política”, disse. Trata-se de uma referência, que não chegou a ser explicitada na coletiva, a possível perseguição ao senador Eduardo Braga, que é candidato ao Governo do Amazonas.
Braga Neto adiantou também que o Grupo Braga é formado por quatro empresas sócias do conglomerado – e, mais uma vez, deixou claro que Eduardo Braga não participa: Kiko, de Ricardo Braga; Pinheiro, de Sandra Rocha; Dudaline, de Fátima Braga Roman, e JBN, que é de Braga Neto.
O empresário ficou revoltado com as ilações que começaram a surgir nas mídias sociais. “Uma loja de carros tem joias? Ou as joias foram compradas com dinheiro da operação ilegal? Meu Deus do céu! Tem joia ali com mais de 80 anos, que foi da minha avó. São joias de família, devidamente registradas em Imposto de Renda”, disse.
Ilegalidade conhecida
“Nós, concessionários, sempre lutamos para que esses malfeitores fossem presos pela Polícia Federal e Receita Federal. Falo como presidente do Sindicato de Veículos Automotores do Estado do Amazonas. Damos total apoio para o combate a esses maus contribuintes e esperamos que paguem aquilo que estão fazendo errado. Puni-los é muito bom para nós porque nós estamos trabalhando direito”, disse Braga Neto.
“Só recebemos dinheiro do CNPJ de quem compra. O que cada um faz com o carro, quando sai por aquela porta, é problema dele. É público e notório que aparecem carros, lá fora, comprados na Zona Franca. Mas não foram vendidos por nós para fora. O problema foi gravame e o Detran revelou que diversos funcionários foram presos por retirar esse gravame ilegalmente”, acrescentou.
Braga Neto lembrou que interessa para a empresa que os carros fiquem em Manaus. “Eles geram o que chamamos de ciclo de negócios, com oficina, garantias, reparos e revenda, em dois anos. Esse tipo de negócio (ilegal) não nos interessa porque esse carro vai embora”, revelou.
Foi feito backup dos computadores, pela PF. O grupo, segundo os participantes da coletiva revelaram, vai recorrer à Justiça para reaver bens e joias apreendidos, na ótica deles, irregularmente.
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