Lucilene Castro e Márcia Siqueira lançam videoclipes com releituras das toadas ‘Kananciuê’ e ‘Tempo de Tucandeira’

Nos videoclipes, as composições ganham nova roupagem sonora e os personagens masculinos das composições são transmutados em elementos ocultos de empoderamento feminino. Foto: Divulgação

As cantoras Lucilene Castro e Márcia Siqueira lançaram no YouTube, cada uma, um videoclipe com releitura das toadas “Kananciuê”, de Ronaldo Barbosa, e “Tempo de Tucandeira”, de Tony e Inaldo Medeiros. Nos filmes, as composições ganham nova roupagem sonora e a releitura narrativa da estética audiovisual se encarrega de transmutar personagens masculinos das composições em elementos ocultos de empoderamento e sororidade do feminismo.

A produção musical é assinada por Jonilson Reis (La Bamba) e a direção de audiovisual é de Cristiane Garcia. A obra é a conclusão do projeto “Desafio das Cores”, contemplado pelo edital Conexões Culturais da Prefeitura Municipal de Manaus, em 2019, lançado e concluído somente em 2021. A demora se deu em decorrência da pandemia mundial de Covid-19, deixando inviável a execução do projeto.

“Desafio das Cores”

No mês de maio, foi lançado em todas as plataformas digitais de áudio seis toadas, sendo três do Boi Caprichoso e três do Boi Garantido. Dentre as composições escolhidas estão “Sensibilidade”, “Vento Norte”, “Kananciuê”, “Decameron”, “Poderoso Kuraca” e “Índios do Brasil”.

Além das composições, foram lançados os videoclipes para “Kananciuê” e “Tempo de Tucandeira”. De acordo com a roteirista e diretora audiovisual Cristiane Garcia, o grande desafio da criação do roteiro dos clipes foi buscar na poética das toadas elementos femininos ocultos para desenhar a narrativa e a estética audiovisual, uma vez que as duas músicas retratam manifestações de povos originários, protagonizadas por personagens masculinos.

Para o resultado final dos filmes, Cristiane buscou construir a narrativa a partir da identificação de quatro elementos principais em cada toada: o recorte de tempo, o protagonista masculino central, a ação e o universo da personagem. A partir destes elementos foi possível trazer, de forma livre, para o primeiro plano, as expressões femininas presentes nas duas toadas alinhadas com a personalidade e o estilo de cada intérprete.

O lançamento dos videoclipes marcam a conclusão do projeto “Desafio das Cores”. Foto: Divulgação

“Kananciuê”

A narrativa do clipe “Kananciuê” se passa no momento em que o jovem arauanã (inã) Haríuá transgride as leis de Kananciuê e emerge das águas do Berohokã tornando-se um Inã-Son-Wéra, gente-verdadeira e mortal. Este Inã-Son-Wéra, ao emergir das águas do grande rio, inicia uma jornada no novo mundo onde depara-se com maravilhas que antes faziam parte apenas do mundo primordial do onipresente Kananciuê.

Com base nessa ideologia foram criadas as personagens que o jovem Inã-Son-Wéra encontra em sua jornada e são apresentados por Lucilene Castro. São eles os personagens: Urubu-rei, Ú-à-dí (o arcos-íris), Maheíco, Canaã, Nadí (a Mãe) e Kãoera.

Foto: Divulgação

“Tempo de Tucandeira”

A música “Tempo de Tucandeira” descreve a força de um ritual de passagem do povo Sateré-Mawé que, ao resistir à implacável força do tempo, torna-se um aliado dele com a introdução de novos elementos de resistência na dinâmica da tradição, numa fusão entre o passado e o presente, mas sem perder seu significado. No videoclipe, a diretora buscou destacar dois pontos: a alma feminina presente na simbologia do ritual, representada pela Tucandeira (introduzida luva com enfeites plumários), a guiança espiritual feminina tribal e, sobretudo, destacar o protagonismo dos indígenas que vivem no contexto urbano na luta pela preservação das tradições ancestrais.

O recorte de tempo mostrado no videoclipe é o instante da ferroada na mão do menino iniciado, que simbolicamente representa o chamado feminino para o desenvolvimento e o aprimoramento da alma e que, no instante da dor, é lançado numa viagem sensorial que o faz refletir sobre seu papel como membro da comunidade numa relação de entrega aos desígnios tribais e à força da natureza.

A partir daí, a diretora criou a personagem Tucandeira (sua ferroada liga o jovem guerreiro ao divino), representada pela bailarina do Balé Folclórico do Amazonas Huana Viana, e quatro personagens femininas apresentadas na obra audiovisual por Márcia Siqueira. São elas: A Teia do Tempo, Mãe Natureza, Tradição e Márcia Siqueira (interpretada por ela mesma).

Os videoclipes “Tempo de Tucandeira” e “Kananciuê” estão disponíveis no YouTube nos seguintes endereços: https://youtu.be/lytrpjGcSZ4 (Lucilene Castro, “Kananciuê”) e https://youtu.be/71VInUuXGlE (Márcia Siqueira, “Tempo de Tucandeira”).

Reportagem: David Batista

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