Força Nacional do SUS previu: ‘vai faltar oxigênio na madrugada’. E faltou. E muitos morreram

Força Nacional do SUS previu: ‘vai faltar oxigênio na madrugada’.

A Força Nacional do SUS acompanhou toda a crise de oxigênio, informando, inclusive, quando se daria o colapso na rede hospitalar. Foto: Divulgação

Um dia antes do colapso de oxigênio na rede hospitalar de Manaus, a Força Nacional do SUS, convocada pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para atuar na cidade, enviou um relatório informando a escassez de oxigênio, inclusive com a previsão de quando ocorreria o colapso.

“Prioridade ZERO do Estado do Amazonas é a falta de oxigênio. Nível muito crítico”, diz o relatório da Força Nacional do SUS do dia 13/01. “O colapso vai acontecer na madrugada de hoje. Não existe O2 para repor durante a madrugada. Todas as médias de projeção foram quebradas hoje durante o dia”. No dia seguinte, 14/01, vários hospitais de Manaus, inclusive o Getúlio Vargas (HUGV), de gestão federal, amanheceram sem oxigênio, levando à morte vários pacientes.

Os relatórios de técnicos da Força Nacional do SUS mostram, dia após dia, a evolução da crise de escassez de oxigênio na cidade. Foram encaminhados relatórios ao Ministério da Saúde nos dias 8, 9, 11, 12 e 13/01.

O primeiro relatório da Força Nacional do SUS, do dia 8, já continha uma anotação sobre a crise de oxigênio. “Foi mudado o foco da reunião, pois foi relatado um colapso dos hospitais e falta da rede de oxigênio”. O relatório também aponta “dificuldade crítica nos respiradores (oxigênio)” dos hospitais que atendem pacientes com covid-19.

No dia 9, após visitar o Hospital 28 de Agosto, foi constatada a dificuldade dos fornecedores em garantir o abastecimento de oxigênio. “Estão preferindo não medir a saturação dos pacientes na sala rosa 1, pois, ao medir, vários pacientes precisarão de oxigênio e não terão como suprir a demanda”, dizem os técnicos.

No relatório do dia 11, a Força Nacional do SUS aponta “exaustão nos hospitais, alas clínicas com superlotação e fornecimento do oxigênio em reserva em todos os hospitais da rede”. A Força Nacional propôs a instalação de usinas de oxigênio com urgência. Naquele dia, o consumo já atingia 50 mil m3, quase o dobro da produção da White Martins, que já havia avisado o Ministério da Saúde que não tinha como atender a demanda.

No dia 11, os técnicos orientaram para a necessidade de transportes de balas de oxigênio por via aérea, terrestre e fluvial.

No dia 12, o secretário de Atenção Especializada em Saúde do Ministério, coronel Luiz Otavio Franco Duarte, visita o HUGV e teria apontado a “necessidade urgente de autuar a White Martins pela negligência quanto ao abastecimento de oxigênio no estado do AM”, sendo que a empresa já tinha informado não ter condições de atender a demanda. O governo ainda discutia qual seria o meio para trazer mais oxigênio para o Estado.

No dia 13, véspera do colapso, o relatório da Força Nacional aponta a necessidade de 70 mil m3 de oxigênio por dia. Desde o dia 8, as Forças Armadas já faziam o transporte de cilindros de oxigênio, mas em quantidades inferiores ao necessário.

No dia 14/01, ocorre a tragédia nos hospitais de Manaus, provocando a morte de vários pacientes de Covid-19 por falta de oxigênio.

 

Com informações da Agência Folha

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