Os bastidores da compra da usina de Parintins e a guerra por oxigênio no Amazonas

Os bastidores da compra da usina de Parintins

Os bastidores da compra da usina de Parintins revelam um enredo cinematográfico. Na foto, o prefeito Bi Garcia cumprimenta o comandante da aeronave da FAB que levou a usina para a cidade. Fotos: Yuri Pinheiro e Arleison Cruz

A Prefeitura de Parintins surpreendeu o País ao revelar que estava comprando uma usina de oxigênio da Alemanha. Mais ainda ao trazê-la de São Paulo e anunciar que terça (19/01), no máximo, estará em funcionamento. “Temos uma usina que produz 192 metros cúbicos (m3) por dia, que foi o máximo consumido na primeira onda. Agora, o consumo chegou a 1,008 mil m3/dia. O hospital Jofre Cohen, que teve 55 internados, em abril/ maio, agora tem 103. E o agravamento está mais rápido”, revela o prefeito Bi Garcia. A usina custou R$ 1,430 milhão.

Compra, chegada, instalação e funcionamento da usina de Parintins, porém, guardam enredo cinematográfico, só agora revelado. “O vendedor recebeu ofertas em dinheiro e mais elevadas que a nossa. Foi como os norte-americanos fizeram com as máscaras, na primeira onda, comprando nos aeroportos da China, na hora do embarque. Graças a Deus que, no final, o vendedor honrou o contrato conosco”, disse.

Emenda para custeio e investimento na saúde de Parintins, do senador Omar Aziz, e a interferência do deputado federal Marcelo Ramos foram decisivas. A Força Aérea Brasileira (FAB), que fez o transporte, queria deixar a usina em Manaus. Marcelo conseguiu convencê-los a deixá-la diretamente em Parintins, acelerando todo o processo.

 

Pará

Parintins chegou a ter, no auge da crise, apenas seis horas de oxigênio. E uma ponte aérea se estabeleceu entre a cidade e a capital, com a Rico Táxi Aéreo, levando cilindros carregados e trazendo vazios para recarregar. “Conseguimos também trazer oxigênio de Santarém (PA), de helicóptero, para suprir esses momentos”, revela Bi.

Cidade mais impactada pelos Municípios do entorno, Parintins recebe doentes de Urucará, São Sebastião do Uatumã, Barreirinha, Nhamundá e Boa Vista do Ramos, entre outros, no Amazonas. Também atende a Municípios paraenses, como Faro, Terra Santa, Juruti Novo, Juruti Velho, Oriximiná e Óbidos.

Quando o governador do Pará, Jader Barbalho, fechou as divisas fluviais com o Amazonas, tentando conter o coronavírus, Bi Garcia foi aconselhado a praticar a reciprocidade. Ele recusou. “Não tem como. Temos que nos ajudar porque a pandemia não tem Estado, nem Município. Nem Pátria”, disse.

 

Compra anterior

Outro segredo na aquisição da usina de oxigênio foi a previdência do prefeito. “Nós compramos nossa usina, desse mesmo vendedor, ainda na primeira onda. Agora, quando vimos o problema se agravando em Manaus, recorremos novamente a ele. Deu certo”, comemora Bi Garcia.

Parintins tem 120 leitos disponíveis para Covid-19, no hospital Jofre Cohen, e “uma reserva” no hospital Padre Colombo, ainda não utilizada. Entre os 103 internados há 5 intubados, esperando transferência para Manaus. Há 10 altas/dia, em média, contra o registro de 23 internações, diz o prefeito.

O consumo de oxigênio foi às alturas. A nova usina produzirá 840 metros cúbicos/ dia e elevará a capacidade instalada do Município para 43 metros/hora ou 1,032 mil m3/dia. “A usina tem capacidade de envasamento e isso nos permitirá encher cilindros dos Municípios próximos, que já estão precisando”, disse o prefeito.

 

De onde veio o dinheiro

A Prefeitura foi buscar o dinheiro para compra da usina no Fundo Municipal de Saúde (FMS). “Havia 6,2 milhões de emenda para custeio e investimento na saúde, de autoria do senador Omar Aziz. Usamos cerca de R$ 2 milhões, até agora. É com isso que estamos pagando médicos prestadores de serviço, material cirúrgico, medicamentos etc.”, disse Bi.

O pagamento, apesar dos decretos de urgência e emergência do Governo do Estado e da Prefeitura, só pode ser feito com a usina em Parintins. Isso aumentou a tentação do vendedor, com as ofertas de dinheiro em espécie. O pagamento acontece nesta segunda (18/01).

 

Confisco

Um tanque de 7 mil metros cúbicos, comprado pela Prefeitura de Parintins à empresa Nitron, foi confiscado, ainda na indústria, pelo Governo do Estado, dia 13/01, diante do apagão em Manaus. Outro tanque só chegou à cidade porque o prefeito conseguiu entendimento com o governador Wilson Lima.

É por isso que a interferência do deputado Marcelo Ramos foi fundamental. Ele evitou que a burocracia parasse a usina em Manaus e retardasse a chegada a Parintins, obtendo o transporte direto para a cidade.

O digital influencer Vitor Israel, do “É de Comer”, fez vaquinha eletrônica e comprou 70 cilindros, que seriam destinados a Parintins, e todos foram confiscados, também por conta da crise em Manaus. O prefeito conseguiu a liberação, novamente, junto a Wilson Lima.

 

UTIs

A dura realidade é que, apesar da primeira onda da pandemia, o interior do Amazonas continua sem nenhuma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Isso se revelou um bumerangue porque todos os pacientes mais graves do interior ajudam a lotar hospitais da capital. “Parintins está adquirindo dez leitos de UTI. Compramos no meio da primeira onda, mas a inauguração deve ocorrer somente em março”, revela Bi Garcia. São quatro UTIs neonatais e seis para adultos.

A aquisição foi feita em parceria com a empresa responsável pela extensão do Linhão de Tucuruí até Parintins. O arranjo exigiu criatividade. “Eles precisavam de licença ambiental e nós de UTI. Toparam antecipar o imposto e estão investindo R$ 3,6 milhões na compra”, disse o prefeito.

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Trabalhadores de Parintins ajudam no desembarque da usina de oxigênio, que chegou em peças

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A usina, no momento da chegada

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O cargueiro da FAB que levou a usina até Parintins, num esforço de guerra para salvar vidas

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