Os 85.910 habitantes do Município de Coari, com PIB de R$ 1.320.621.465,00, estão sendo governados por prefeita que não foi eleita para isso. Trata-se de Maria Ducirene da Cruz Menezes, que usa o nome político de Dulce Menezes, 48 anos. Ela se elegeu presidente da Câmara Municipal, para o biênio 2021-2022, com 14 votos a 1. O voto contrário foi do adversário, vereador Zezinho Bastos.
Dulce é tia de Adail Filho, que renunciou ao mandato encerrado em 31/12/2020 no dia 18/11/2020. Depois, vencedor da eleição de 15 de novembro do ano passado, Adailzinho, como é conhecido, teve o registro da candidatura cassado. O Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) entendeu que a eleição foi para um terceiro mandato dentro do núcleo familiar. O pai dele, Adail Pinheiro, foi o prefeito que o antecedeu e o filho venceu a reeleição.
Dulce, como presidente da Câmara e com a chapa eleita sub-júdice, assumiu a Prefeitura, no dia 1º de janeiro. Coari não teve prefeito diplomado nem empossado. Ela é irmã de Valdirene Pinheiro, ex-mulher de Adail pai e mãe de Adail Filho.
Negócios de família
A história política de Coari é marcada pela família Pinheiro, Adail pai como líder, movendo os cordéis.
Keyton Pinheiro, primo de Adail Filho e sobrinho de Adail Pinheiro, era presidente da Câmara Municipal e tinha o papel de vice-prefeito de Coari. A vice-prefeita, eleita com o irmão Adailzinho, em 2016, foi a deputada estadual mais votada em 2018, Mayara Pinheiro.
Com a renúncia de Keyton, evitando se tornar inelegível na chapa de Adail Filho, assumiu a presidência da Câmara Municipal Jeanny Pinheiro, tia do prefeito renunciante. Ela é que passou a comandar a prefeitura de Coari, até 31 de dezembro do ano passado.
Jeanny foi eleita vereadora mais votada do pleito de 2020. Mas a outra tia, Dulce Pinheiro, no estranho acerto interno da família, foi quem se candidatou à presidência da Câmara. E obteve a vitória acachapante de 14 a 1, tornando-se sucessora de prefeito e vice, impugnados, assumindo a Prefeitura.
O processo
Ainda cabe recurso do processo que cassou o registro de candidatura de Adail Filho. Primeiro virão embargos declaratórios, no próprio TRE-AM. Depois um recurso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A defesa pedirá “efeito suspensivo” ao recurso, até que transite em julgado, isto é, que não tenha mais nenhuma instância a recorrer. O último recurso, no caso, seria o Supremo Tribunal Federal (STF), bastando que alguma parte alegue questão constitucional.
A concessão ou não do “efeito suspensivo” terá que ser analisada pelo relator designado para o processo no TSE. Em caso recente, o da cassação do prefeito de Presidente Figueiredo, Romeiro Mendonça, o TRE-AM negou efeito suspensivo ao recurso dele e o relator do TSE concedeu, mantendo-o no cargo.
O candidato
Keyton Pinheiro, o vice-prefeito na chapa impugnada de Adail Filho, não fica inelegível. Fontes próximas à família afirmam que não há outro nome para se candidatar, caso haja nova eleição no Município.
O “núcleo familiar”, para a legislação eleitoral, só vai até irmão. Keyton, primo de Adail Filho e sobrinho de Adail pai, está livre para se candidatar. Primos e sobrinhos estão liberados pela lei.
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