
Hotel Cassina renasce e com ele parte importante da memória manauara no Período Áureo da Borracha, a Belle Époque

Prédio ficou completamente abandonado e vários prefeitos tentaram negociações com herdeiros, mas só agora foram obtidas as condições para a reforma
O hotel Cassina é agora Casarão da Inovação Cassina. O local, onde os barões da borracha acendiam charutos cubanos com notas de US$ 100, está reformado e pronto para inaugurar. O ato ocorreria nesta sexta (13/11), mas, devido à falta de pequenos retoques, foi transferido, ainda sem data definida. O nome foi escolhido em enquete realizada pela Prefeitura.

A vista privilegiada do por-do-sol, com a ponte jornalista Phelippe Daou ao fundo, promete ser disputada

Paisagismo marca lembrança da Floresta Amazônica
O empreendimento, com a reforma, tem aproximadamente 1,6 mil metros quadrados. Tem laboratórios, salas de desenvolvimento de startups e treinamento, 54 estações de coworking e auditório. A vedete para os visitantes, no entanto, é o espaço café no terraço, com vista para o rio Negro. No por-do-sol, o local promete se tornar ainda mais disputado.
O projeto inicial previa mais dois pisos, acima da estrutura antiga, mas foi vetado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A Prefeitura teve que negociar cada passo e a obra chegou a ser paralisada por conta dos humores de funcionários do Iphan.
O Cassina fica localizado na praça Dom Pedro II, no entorno do Museu da Cidade, por sua vez sediado no prédio do antigo Paço Municipal.
Para colocar no GPS com exatidão: o endereço é rua Bernardo Ramos, na confluência das ruas Governador Vitório e Frei José dos Inocentes. O waze que lute😂!
Empreendedorismo. Fachada preservada
O primeiro centro de empreendedorismo e inovação da Região Norte, no centro histórico da cidade, é considerado um marco na criação do Polo Digital de Manaus. Fruto das ações do Planejamento Estratégico Manaus 2030, implantado na atual gestão, o espaço oferecerá capacitações empreendedoras, oficinas na área da Indústria 4.0 e servirá de apoio para startups que buscam se desenvolver.
No caso do Cassina, além da perpetuação no imaginário manauara, a preservação da condição de ruína das fachadas torna a intervenção única: o edifício é o último representante em Manaus de fachada com argamassa pigmentada com pó de pedra jacaré.
Esta técnica original, usada para o acabamento das paredes externas, consiste num tipo de argamassa, aplicada para nivelamento da parede, já pigmentada com cor natural. Esse processo, geralmente, era usado em prédios públicos e estabelecimentos mais nobres. Tinha a função de dar destaque maior para o prédio, entre as outras edificações, valorizando e causando imponência.
Os quatro pavimentos da área foram projetados para revelar o valor da memória popular e cultural, associado ao bem histórico, na construção do futuro centro de inovação, digitalização e preparação. O centro promete se tornar a porta de entrada da capital amazonense na economia 4.0 e na rota de empresas de inovação. O imóvel terá amplas áreas envidraçadas, escada em aço e espaços generosos de vegetação, que dão ao ambiente uma amplitude espacial de qualidade.
Floresta tropical
A área de transição do jardim tem paisagismo de floresta exuberante e tropical, associado ao vidro, às transparências e ao aço. Vai mesclar a história da ruína do Cassina com o futuro do polo digital, em reflexos nas áreas envidraçadas. “Essa dimensão espacial, os reflexos e a transparência da construção, são noções muito ligadas à tecnologia, à virtualidade. Dá contemporaneidade ao projeto”, explica o autor, o arquiteto Laurent Troost, diretor de Planejamento do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb).
O jardim estará posicionado por trás da fachada histórica, que faz frente à praça Dom Pedro II. A fachada nova, inteiramente envidraçada, será, portanto, erguida em um plano recuado em relação à fachada existente, o que irá evidenciar e valorizar mais o perfil histórico, com mais de um século de fundação. Foi no Cassina que Manaus comemorou a chegada do Século XX.
Os jardins vão criar áreas de contemplação e de circulação, servindo como área de transição entre a praça, de tipo “jardim romântico”, e a intervenção contemporânea, no coração do hotel Cassina. Uma passagem entre a história e o futuro. Além de criar um microclima, favorecendo a ventilação natural, esse pátio tropical será também a oportunidade, acessando o novo polo de tecnologia pela passarela, cruzando o vazio sobre o jardim, de todos lembrarem a razão intrínseca da cidade de Manaus: a floresta.
A floresta tropical, exuberante, foi recriada para o espaço, associada ao vidro e ao aço industrial, mesclando história, cultura e inovação, virtualidade e contemporaneidade.
A intervenção para a criação do Casarão da Inovação Cassina levou, para o antigo casarão da época da borracha, os elementos do imaginário da região, saindo da era dos barões para a nova economia digital.
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