A morte de Klinger Araújo e o recado enviado pela pandemia de coronavírus

A morte de Klinger Araújo

A morte de Klinger Araújo (foto) chocou fãs, amigos e parentes, no momento em que a pandemia parecia ter arrefecido

A morte de Klinger Araújo, falecido em 29/09, aos 51 anos, traz lições que deixam claro a presença e o risco da pandemia de coronavírus. Cantor, flautista, radialista, ele estava internado no hospital Prontocord-Samel, desde o dia 13 de setembro. Ficam, além do vazio pela partida do amigo, lições que precisam ser compartilhadas.

Quando Klinger se internou parecia mais uma precaução protocolar. A saída estava marcada para cinco dias depois, como acontece com a maioria dos que contraem Covid-19.

O levantador de toadas, nascido em Parintins, na casa vizinha à de Luiz Gonzaga, um dos fundadores do Caprichoso, lutou na pandemia. Foi ele, ao lado do cantor Arlindo Neto, filho de Arlindo Jr., quem obteve a remoção de Jair Mendes de Parintins. Pediu, insistiu e conseguiu, junto ao presidente da Samel, Luís Alberto, o Beto.

Atuou na ajuda, com internação e tratamento médico, de vários outros colegas, aproveitando a amizade pessoal com Luís Alberto. A Samel se tornou uma espécie de “hospital de referência para Parintins”, graças à ação, entre outros, de Klinger.

Prince do Boi, o Amo do Caprichoso, se internou quase ao mesmo tempo. Todos os olhares estavam fixos nele, devido às comorbidades. Mais de uma semana antes da fatalidade, porém, Prince obteve a alta.

 

O que houve?

Klinger resistiu ao tratamento. Está cada vez mais evidente que os cinco primeiros dias, após a manifestação da Covid-19, são decisivos. Justo nesse período, o levantador não aceitou a Cápsula Vanessa. Também sofreu rejeição aos remédios.

A intubação foi consequência daquele primeiro momento. Ele precisava ventilar os pulmões, cada vez mais comprometidos, e assimilar a medicação.

O tempo, pelo que tudo indica, acabou se revelando fatal.

A família pedia orações e Klinger, intubado, lutava pela vida. Insensíveis, os sem-coração multiplicavam boatos do falecimento dele.

Os médicos recuperaram os pulmões, mas a Covid-19, que parece agir de emboscada, atacou rins e fígado. Os rins paralisaram. Klinger teve que se submeter a hemodiálise – a filtragem do sangue por equipamento externo. O estado geral, porém, não permitiu a urgente repetição diária do procedimento. Debilitado, ameaçava entrar em choque todas as vezes que a hemodiálise era iniciada.

A traqueostomia – um tubo na traqueia para fazê-lo respirar – foi evitada até o último momento. Caso se submetesse a esse procedimento, o cantor poderia comprometer as cordas vocais, a voz, principal instrumento de trabalho.

Foi assim que, no amanhecer do dia 29/10, aos 51 anos, Klinger Araújo veio a falecer.

 

História

Klinger era um brincalhão. Entrava nos locais falando alto e estabelecendo contato imediato. Bajulava os amigos, exageradamente, mas no fundo estava apenas mostrando a alma expansiva e bem-humorada.

(Parênteses para escrever na primeira pessoa)

Em 1987, quando fui apresentador do Caprichoso, ele tinha 18 anos. Era radialista da Rádio Alvorada, onde seu pai, o radialista Artêmio Guedes de Araújo, havia sido comentarista esportivo. Vários amigos vieram falar dele como “um apresentador-cantor de futuro”, que me representava no comando do bumbá em apresentações fora do Festival.

Pouco tempo depois, o “radialista-cantor-apresentador promissor” assumia um programa na Rádio Difusora do Amazonas. Imitava Sílvio Santos, Roberto Carlos, Pelé, Gilberto Mestrinho e quem mais lhe desse na telha. Exibia a voz privilegiada. Tocava toadas. Levava os levantadores e compositores para conversar sobre as músicas. Logo alcançou o sucesso.

Klinger se tornou “O furacão do boi” porque seus shows eram repletos de energia. Humilde, na essência, sem traço de falsidade, abria shows dos medalhões e quando eles iam embora continuava cantando, animando, exibindo o talento nato.

Parecia capaz de qualquer coisa, no mundo das artes. Tocava flauta, como diletante, e se apresentou tocando no Teatro Amazonas, em show de Arlindo Jr. Cantar, entre todos os atributos dele, foi o ponto em que teve mais dificuldade. Mas se aprimorou, ao longo do tempo, e chegou a se apresentar cantando no programa de Xuxa Meneghel, no auge da Globo. Era amigo próximo de poderosos, aos quais tratava igualzinho aos amigos mais humildes, criando atmosfera de proximidade.

Foi esse cara, um Klinger Araújo querido e admirado, que o Amazonas perdeu. Pêsames aos familiares. Siga em paz, parceiro.

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