Pastor alerta para repiquete de coronavírus, o perigo da segunda onda da pandemia

Pastor alerta para repiquete de coronavírus

Pastor alerta para repiquete de coronavírus, usando fenômeno amazônico para chamar atenção de todos. Ele faz tocante homenagem aos coveiros (foto), heróis da pandemia.

O repiquete, a enchente súbita dos rios, em pleno movimento de vazante, pode se repetir na pandemia de coronavírus. O alerta é do pastor Francimar Pontes Soares, que tem ministrado cultos de corpo presente nos cemitérios. “Os números de sepultamento estão gradativa e sucessivamente em vazante. Entretanto, as chuvas das aglomerações sociais são visíveis nas cabeceiras. O povo não está respeitando a quarentena como esperado”, alerta.

O pastor Francimar, que atua na Igreja Batista Liberdade Central, dá expediente, ao lado dos coveiros, no cemitério NS Aparecida, Parque Tarumã. “Esses caras merecem respeito”, escreveu. “Quando a pandemia passar, muitos terão os seus heróis. Alguns dirão que são os cientistas. Outros que são os profissionais de saúde. Quando, e se, perguntarem a minha opinião direi que, dentro do contexto onde Deus me permitiu servir, os coveiros e os profissionais da limpeza pública são os meus heróis”, enfatiza.

Os coveiros, acrescenta, “prestaram serviço indispensável para a população. Suaram, sangraram e adoecem para realizar a missão. Meu respeito e admiração por eles. Que o Senhor os abençoe”, disse.

 

Veja, abaixo, o texto do pastor Francimar, sobre o risco de repiquete do coronavírus:

“Repiquete é um fenômeno que acontece quando o nível das águas sobe devido às chuvas temporãs caírem nas “cabeceiras” dos rios. Ocorre, geralmente, no fim do período de vazante e pode ser confundido com o início do período de cheias. É conhecido também como efeito sanfona, porque as águas que estavam em processo de vazante voltam a subir, repentinamente, causando enchentes, que, por sua vez, causam grandes estragos em muitas cidades ribeirinhas, antes de voltar a baixar.

Alguns pescadores contam que nesse período o rio fica triste. Há um estranho silêncio nos lagos. Não se veem os costumeiros “banzeiros”, e os peixes param de comer. Torna-se inapropriado para a pesca esportiva.

Evoco a figura do repiquete para alertar as autoridades locais e o povo em geral sobre o perigo que corremos com a retomada das atividades comerciais, industriais e eclesiásticas, sem que a pandemia do coronavírus tenha sido, de fato, vencida.

Os hospitais estão ficando calmos e silenciosos, graças a Deus e ao trabalho árduo dos profissionais de saúde. Já não se vê os banzeiros formados pelas multidões desesperadas em busca de socorro. Temos engarrafamentos e aglomerações, antes mesmo do fim do distanciamento social. O comércio, que perdeu seu faturamento, por certo, voltará a todo vapor, oferecendo as irresistíveis promoções. As igrejas voltarão a funcionar dentro dos critérios estipulados, acredita-se. Mas existe um perigo real de se tornarem verdadeiras bombas biológicas. Isso me faz pensar: será que temos condições de controlar e fiscalizar tudo isso?

Faz-se necessário lembrar e conscientizar a população sobre os danos emocionais e prejuízos irrecuperáveis que esse vírus, assassino e ladrão, causou e ainda está causando em todo planeta.

Mesmo que os números de mortos tenham reduzido, uma família que perde seu ente querido sofre a dor com a mesma intensidade de uma multidão. A estatística tem uma conotação diferente para os enlutados. É mais que um número, pois é menos um membro que não é mais. Uma mãe que perde o filho querido não está interessada se o número de mortes diminuiu e quantos se recuperaram. Seu desejo é um somente: ter o filho de volta. E isso, nenhum decreto humano pode resolver. É inútil tentar.

Será que esquecemos que ainda não existe uma vacina disponível? Alguém, porventura, consultou os profissionais da área de saúde, que se encontram exaustos devida à prolongada pressão psicológica e pelos intermináveis turnos de trabalho em favor da vida? Não seria prudente deixá-los descansar um pouco mais? Estamos realmente preparados e aparelhados para enfrentar uma possível “recaída”?

Ainda nem nos recuperamos dos terríveis efeitos da primeira onda, e já nos achamos capazes de enfrentar uma segunda? Não seria mais prudente, e proveitoso para todos, aproveitarmos esse momento favorável para socorrer os irmãos feridos do interior?

Sinceramente, acredito que haja precipitação da nossa parte. Estamos tão ansiosos para voltar as atividades normais da vida, que nos esquecemos que o normal, nesses dias, é ter vida.

Espero estar completamente enganado. É desejo do meu coração que tudo volte ao “normal”, e que retomemos as nossas vidas o mais breve possível. No entanto, os gráficos e os números não estão em harmonia com a ansiedade da população. O povo não vê a hora de sair de casa.

Há apreensão por parte dos epidemiologistas e das equipes médicas. Eles sabem que podemos estar cometendo um erro que poderá nos custar um preço muito mais caro do que já pagamos. O perigo ainda está à espreita.

Não tem barulho nem banzeiros. Os peixes não estão comendo. O silêncio e a calmaria podem ser enganosos. Parece que a vazante ainda não terminou, e o período de cheias ainda não começou. O amazônico conhece bem esse macete. Não é o momento de voltar a pescar. Pode ter repiquete.”

Francimar Pontes Soares

Pastor da Igreja Batista Liberdade Central.

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