Pai do suposto assassino de miss morre em São Paulo. Psiquiatra e psicóloga analisam

Pai do suposto assassino de miss

Pai do suposto assassino de miss

Dor, ciúmes, drama, possessão. Transtorno Delirante Persistente de Ciúmes. Mais uma vítima dessa série de conflitos, após o assassinato da miss Manicoré Kimberly Mota, 23: o pai de Rafael Fernandes Rodrigues, 31, morreu nesta sexta (15/05), em São Paulo. O delegado Paulo Martins, da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros do Amazonas (DEHS), informou que ele se jogou nos trilhos, em São Paulo, na passagem de composição de metrô.

Rafael, suspeito de matar Kimberly, em Manaus, foi preso esta tarde, em Pacaraima (RR), na fronteira Brasil-Venezuela. A polícia civil do Amazonas não soube dar outros detalhes da morte do pai do suspeito.

A mãe de Rafael chegou a relatar aos policiais que vivia uma relação tumultuada com o marido. As brigas eram constantes, mas o casal não chegou a se separar.

Amigas da modelo assassinada disseram à polícia civil que Rafael era ciumento e possessivo. Esse seria um dos motivos da briga que culminou com o assassinato da miss. Rafael não aceitava o fim do namoro com Kimberly.

As testemunhas relataram que Rafael costumava fiscalizar a vida da modelo, com frequência, mesmo após o término do namoro. Teria sido o medo da reação possessiva do namorado que levou Kimberly a encerrar o relacionamento.

 

Transtorno Delirante Persistente de Ciúme

“Mais de 96% dos casos de suicídio têm transtorno psiquiátrico por trás, não diagnosticado e não tratado. Pode ser depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, dependência química…”, diz o doutor em Psiquiatria Luiz Henrique.

“Talvez o pai sofresse do mesmo transtorno do filho, o Transtorno Delirante Persistente, subclassificado como ‘de ciúme’. Mesmo que ele tivesse boa educação, ainda assim poderia ter uma situação como essa. Nem sempre os valores que a pessoa absorve, na infância e adolescência, são suficientes para evitar que cometa crime. Transtorno psicótico muda a realidade na percepção da pessoa. Ela não vê o mundo com os olhos que as pessoas veem. Ela chega ao ponto de ver, no pai, mãe ou pessoa mais próxima, a imagem de um monstro e ser agressivo. Sem que a pessoa tenha feito nada para ela”, analisa.

“Rafael parece ter um Transtorno Delirante Persistente. Nunca o examinei e não ouso dar um diagnóstico agora. Mas tudo leva a esse comportamento disfuncional, de ficar investigando a vida da pessoa, criando problema na vida dela e não aceitar a separação. A ponto de se considerar dono da Kimberly. Não me parece psicopatia e sim esse Transtorno Psicótico Delirante”, avalia Luiz Henrique.

“O pai pode ter o mesmo transtorno. Isso poderia culminar nas duas fatalidades, tanto a do assassinato, quanto a do suicídio”, acrescenta. “Os valores, muitas vezes, não fazem diferença para quem tem um transtorno psiquiátrico. Mas, independente do transtorno, os valores, a educação e a espiritualidade são indispensáveis no desenvolvimento do ser humano, com ou sem transtorno psiquiátrico”, diz o especialista.

Veja, em áudio, a análise do psiquiatra Luiz Henrique sobre Rafael: Transtorno psiquiátrico; pensamento delirante; descontrole emocional; comportamento disfuncional; homicídio:

Veja, em áudio, a análise do psiquiatra Luiz Henrique sobre o pai do suposto assassino de Kimberly: transtorno psiquiátrico; descontrole emocional; comportamento disfuncional; suicídio:

 

Formação familiar

A psicóloga e psicoterapeuta Clise Saba Ribeiro Angelo afirma que a falta de boa estrutura de base familiar é dos principais vetores que podem levar a pessoa a suicídio ou assassinato. Alguém bem estruturado, com boa infância, dificilmente comete esses atos.

A maioria das pessoas que cometeram suicídio, mutilou-se, maltratou ou matou outras pessoas, normalmente, acumulou problemas na vida. Eles podem ser de cunho afetivo, físico ou de estrutural, conforme a especialista.

Para fugir do pensamento suicida, a pessoa precisa se tratar. Deve procurar psiquiatra, para tomar remédios, e realizar terapias que ajudem. “A pessoa que tenta o suicídio não quer tirar a própria vida. Ela quer apenas tirar uma dor que está dentro dela. Tal e qual as pessoas que se mutilam. Aqueles que se mutilam imaginam que, se cortando, estão transferindo para aquele golpe a dor que está na cabeça e no coração delas. É uma questão emocional”, destacou a psicóloga.

 

Sinais

Os sinais do eventual suicida são sempre dados. Amigos e familiares precisam estar atentos, uns aos outros, para identificar esses sinais. Frases como “eu queria dormir e não mais acordar” ou “eu queria sumir”, “eu queria não mais existir”, precisam ser averiguadas. “Devemos ficar atentos a essas pessoas para abraçá-las, dar apoio. Não podemos dizer que é frescura, fraqueza ou que isso é bobagem.”

De acordo com Clise, a maioria das pessoas não entende o que é sofrer depressão. As pessoas depressivas vivem em situação de conflitos internos e externos, além de momentos de muita tristeza, que podem culminar com suicídio.

“Os sinais do eventual suicida são sempre dados. Pessoas leigas, a família, os amigos, não estão preparados para isso. Nós precisamos estar atentos e acolher essas pessoas”, conclui a psicóloga.

Clise Ângelo é psicóloga e psicoterapeuta, formada há 15 anos, especializada em Psicologia Organizacional, MBA em Gestão de Pessoas por Competências, MBA em Gestão Empresarial e coach.

 

Homenagem

Na tarde da última terça-feira (12), o corpo de Kimberly chegou ao aeroporto da cidade de Manicoré, no Amazonas. Dezenas de pessoas – entre amigos, familiares e conterrâneos – participaram de uma carreata de despedida.

O cortejo percorreu as principais ruas de Manicoré, passando em frente a escolas e à casa da família da jovem.

Reportagem: David Batista

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1 comentário

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  1. Lena disse:

    Quanta tristeza MEU DEUS!!! Filho suposto assassino ! O Pai se suicida ! O que falta mais …Estou inconformada com tudo isso ! SÓ POR DEUS