O Chile acordou!

É fundamental ficar atento aos acontecimentos que abalam o Chile. O que o presidente Sebastián Piñera classificava de “oásis de paz” se transformou em palco de guerra. O que os neoliberais tinham como laboratório de suas ideias para “vender” aos demais países se transformou em desalento, insatisfação e morte dos próprios cidadãos.

Claro que o Chile era uma bomba relógio, a explodir a qualquer momento. Proposta de estado mínimo ou da redução da presença do Estado deve ser muito interessante e tentadora para o mercado financeiro, para os empresários que lucrarão com escolas particulares, clínicas e hospitais, segurança privada, terceirização dos serviços públicos, previdência privada, privatizações, só para citar alguns. Isso interessa a você? Você é rico?

Claro que por aqui muita coisa deve ser aperfeiçoada, principalmente no quesito qualidade dos gastos públicos, até porque não adianta aumentar a arrecadação se do outro lado temos um saco sem fundo, principalmente com tantos cargos comissionados, apadrinhamentos, terceirização nos serviços públicos, onde alguém acaba lucrando com isso.

No Chile, especialistas apontam para a desigualdade socioeconômica, a privatização e a baixa qualidade dos serviços públicos, entre eles o transporte e a previdência que fizeram a população explodir em fúria. O pior é ver uma população desesperada sendo brutalmente contida pelas forças policiais do país, ou seja, cidadãos sofrendo na carne pelos erros dos governantes.

Lá os índices do crescimento econômico eram espetaculares, o que levou certos economistas a lamberem os beiços e a endeusarem determinado ministro, por ter feito parte da equipe que montou tal plano. E que isso sirva de alerta para as tantas reformas, sob o olhar inerte de parcela significativa da população, sem saber que quando perceberem pode ser tarde demais.

No Brasil, impressiona a rapidez das aprovações das tais reformas, na linha parecida com a chilena, sem preocupação com o que acontecerá lá adiante. A Previdência já foi pro saco.

As respostas governamentais à crise brasileira bem como as linhas mestras da Reforma Administrativa que se avizinha se apoiam, implícita ou explicitamente, em visão distorcida do Estado brasileiro, da máquina pública e dos servidores. 

É imperioso apresentar ao conjunto da sociedade – que é quem usufrui serviços públicos e se beneficia ou sofre com as falhas de desenho, implementação e avaliação das políticas públicas – informações e dados qualificados sobre o tamanho, funcionamento e produção da máquina pública.

O Fórum das Carreiras Típicas de Estado alerta para os mitos mais frequentes sobre o setor público e a economia que, das mais variadas formas, orientam tal reforma, quais sejam: o Estado é muito grande e a máquina pública está inchada; as despesas com pessoal na União são muito altas e estão descontroladas; o Regime Próprio de Previdência dos Servidores federal é insustentável; o Estado é intrinsecamente ineficiente; a estabilidade do funcionalismo é um privilégio e é absoluta; o dinheiro do governo acabou; as reformas da previdência, administrativa e microeconômicas vão recuperar a confiança dos investidores privados, o crescimento e o emprego. Muito cuidado com essas mentiras!

No Chile a população não aguentou mais os abusos dos poderosos, com a privatização dos serviços públicos e com cobranças inviáveis para os mais pobres, aí incluídos saúde, educação, transporte, moradia, água, luz e energia.

Eis no que deu só pensar num lado, esquecendo-se da sociedade. Como propagado por lá nas redes sociais, o Chile acordou!

*Auditor fiscal e professor.

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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