Maiores narcotraficantes do AM serão ouvidos pelo TJ sobre chacina no Compaj; veja quem são

Maiores narcotraficantes do AM serão ouvidos pelo TJ sobre chacina no Compaj; veja quem são

Maiores narcotraficantes do AM serão ouvidos pelo TJ sobre chacina no Compaj; veja quem são. Foto: Reprodução

Os maiores narcotraficantes, homicidas sanguinários e líderes de facções criminosas no Amazonas estão na lista de 17 detentos denunciados como autores intelectuais, interlocutores e executores do massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), ocorrido em 1.º de janeiro de 2017, que resultou em 56 mortes de presos.

O julgamento de 213 réus da ação penal começou neste mês e os interrogatórios dos réus presos em Manaus acontecem no Fórum Ministro Henoch Reis. Os réus que estão cumprindo pena em presídios federais (total de 17) serão todos ouvidos por carta precatória.

As cartas precatórias já foram enviadas pelo Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) e há um prazo de 30 dias para resposta das mesmas, a partir da data do recebimento. Conheça a seguir um pouco do perfil dos presos que serão ouvidos e como participaram das cenas de horror no complexo.

Maiores narcotraficantes

Entre os 17 que serão ouvidos estão os narcotraficantes apontados como autores intelectuais e interlocutores do massacre, José Roberto Fernandes Barbosa, o Zé Roberto da Compensa, Gelson Lima Carnaúba, o “Carnaúba” ou “Mano G”, e João Pinto Carioca, o João Branco.

Na denúncia feita à Justiça pelo Ministério Público (MPAM), com base na investigação da Polícia Civil e das equipes de inteligência, Zé Roberto, ao lado de João Branco e Carnaúba, são apontados como membros da elite da facção criminosa Família do Norte. Carnaúba, no entanto, já mudou de lado e migrou para liderança do Comando Vermelho (CV).

Os três mandaram cartas aos membros da família custodiados no Compaj, na época, informando as ameaças de morte por parte da outra facção rival, o Primeiro Comando da Capital (PCC), reforçando a ordem para “exterminar” presos ligados à organização criminosa de origem paulista.

Ordem de Zé Roberto

A ordem para execução do massacre partiu do capo de “tutti capi” Zé Roberto, hoje preso em Campo Grande, com apoio de Mano G e João Branco, que estão detidos no Paraná. Na época da chacina, a trinca comandava a FDN. Entre os emissários que levaram a ordem estava a esposa de José Roberto, Luciane Albuquerque de Lima, para fazem chegar a carta a todos. A rebelião foi acertada para iniciar às 16h, aproveitando as comemorações da virada do ano.

Zé Roberto consolidou a FDN entre 2010 e 2012, para dominar o tráfico na região, mesmo estando preso no período em Porto Velho (RO). De lá, passou a unir “gerentes” no consórcio do tráfico e grandes somas em dinheiro para adquirir droga diretamente dos produtores vizinhos, como Colômbia e Peru.

A família se firma como a maior e mais influente facção no sistema carcerário local. João Branco atuou no narcotráfico no Mauazinho, com diversos antecedentes criminais, e reconhecido no mundo do crime pela extrema violência e crueldade, inclusive como ativo integrante do Tribunal do Crime. Ele foi condenado pela morte do delegado da Polícia Civil Oscar Cardoso.

Maior rebelião

No mesmo ano, a família coordenou a maior rebelião da história dos presídios amazonenses até então, culminando na fuga de 176 presos. Vinculada ao CV, o grupo chegou a ter, segundo dados da Polícia Federal, aproximadamente 200 mil membros cadastrados, mostrando-se a maior organização criminosa do Brasil em números absolutos de filiados, com um lucro auferido entre R$ 6 milhões e R$ 12 milhões de por ano.

Reconhecido como autoridade máxima da organização, Zé Roberto, também chamado de “Z”, “Messi”, “Mano Zé”, ou “Perturba”, poderia ter enviado a ordem ainda pela esposa ou pela irmã do preso Jaime Grande “Machuca”, segundo as autoridades. Nos depoimentos e investigação fica claro que a ordem excluía matar agentes de socialização, autorizando o que “fosse necessário com os policiais militares”. Os meios de execução ficaram a cargo dos executores locais.

Gelson Carnaúba, o “Mano G”, será julgado como um dos mentores da chacina de 1º de 2017. A ordem era para que fossem mortos todos os apenados custodiados no “seguro” do complexo. Ele está detido na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. Natural de Eirunepé, João Branco, o “JB” ou “Potência Máxima”, também será ouvido de Catanduvas.

Líderes gerais

“Caroço” ou “Mano Leão”, Janes do Nascimento Cruz, foi apontado por cerca de 25 testemunhos confidenciais como um dos representantes do Pavilhão 3 e o líder geral da FDN dentro do Compaj, estando à frente da rebelião. Ele usava armas de fogo e um colete balístico. Foi visto atirando contra o policial que fazia a guarda da portaria e participando do grupo de internos que invadiu a inclusão. Teve ação decisiva nas mortes e esquartejamentos ocorridos na quadra do Pavilhão 3. Foi responsável por encomendar as armas usadas no massacre.

Três meses antes da rebelião, “Caroço” teria comparecido à inclusão, com os demais representantes da FDN, quando avisaram que quem quisesse “descer” para os pavilhões estaria “de boa”, pois eles não queriam qualquer problema com os presos ali custodiados. Os líderes queriam a área para servir como triagem. Ele foi apontado como responsável por vários esquartejamentos em janeiro de 2017;

Florêncio Nascimento Barros, o “Marabá”, era um dos líderes locais da chacina, armado e ativo participante da tomada da portaria 3, que deu início ao motim. Ele foi o negociador junto às autoridades do fim da rebelião e libertação dos reféns.

Fez parte do grupo de presos que deu início ao levante, rendendo os agentes de socialização. Foi visto por testemunhas com colete e controlava a chamada “massa carcerária”, impedindo que os rebelados executassem reféns. Testemunhos contam que participou da morte de um dos “soldados” do preso alcunhado de “Velho Sabá”.

Tiros contra PMs

“Marabá” foi um dos que se envolveu no tiroteio com o policial da guarda do presídio. Ele teria, segundo relatos, lido em voz alta a carta com as ordens de Zé Roberto.

Vulgo “Garrote”, Márcio Ramalho Diego, aparece na denúncia como autor de tiros em duas celas especiais, além de ser acusado de ter torturado física e psicologicamente o preso “João Professor”. Era representante do Pavilhão 1 e um dos líderes locais do motim.

Considerado por muitos um dos mais violentos presos custodiados no Compaj, “Garrote”, portava uma pistola PT .40 e estava de colete. Dentro da cadeia, ele seria o segundo após “Caroço”. Testemunha conta que no dia 30 de dezembro, Márcio saiu à procura de João Paulo Venâncio, e o arrastou até o Pavilhão 1, iniciando tortura com os seus “soldados” do tráfico.

No “seguro”, ele ingressou com uma espingarda .12, atirando em várias vítimas, que à sua ordem foram decapitadas. Sobreviventes da chacina relataram que no fim de novembro de 2016, os representantes de cada pavilhão, dentre eles “Garrote”, foram até a inclusão e disseram aos presos que desocupassem o setor, porque a FDN queria usar o local como motel. Ele ordenava quem iria ser morto e/ou esquartejado.

Esquartejados

Mário José Lopes Carneiro, “Márcio Doido”, foi denunciado por atirar em PMs durante a chacina, os que estavam na muralha. Ele aparece sendo flagrado atirando contra internos que tentavam fugir da morte pelos corredores entre o gradil e o muro do presídio. Participou ativamente dos eventos ocorridos na Portaria 3 e nas celas especiais, onde 5 internos foram mortos, e ainda da invasão da área da inclusão. A ele foram atribuídos esquartejamento de vários corpos, como do “Velho Sabá”.

Alex Sandro de Araújo Ventura, o “Tatuador”, e Adailton Farias da Silva também serão ouvidos por carta precatória. Eles estão no grupo de rebelados armados com pistolas. Danilo Oliveira Duarte é atuante no episódio que resultou no massacre das celas especiais, logo no início da rebelião.

“Demo” ou “Demétrio”, o Demétrio Antônio Matias, era o representante do Pavilhão 1 e um dos líderes locais. Dele partiu a ordem de deter agentes de socialização como reféns. Participa ativamente das cenas de barbárie do Compaj, matando os chamados “jacks”, os estupradores na grade. Estava armado e usava colete, ordenando, junto com “Garrote”, quem morreria ou seria esquartejado.

Segundo testemunhas, ordenava que os “soldados” levassem as vítimas para acabarem de ser esquartejadas. Também teria responsabilidade na disseminação da carta de Zé Roberto e teria, pessoalmente, decapitado o preso “Manoel Tatu”, ainda vivo, junto com José de Arimatéia.

Desafetos

Na lista dos 17 presos que serão ouvidos está ainda João Ricardo Santos da Costa, vulgo “Kaká”, representante do Pavilhão 5, líder e ativo nas mortes e esquartejamentos. Foi um dos responsáveis pela deflagração da rebelião e um dos primeiros detentos a se insurgir contra os agentes de socialização.

Podia ordenar mortes ou poupar vida de desafetos. Usou os agentes como escudo humano para se proteger da possível reação dos PMS que estavam na guarda da Portaria 3. Para algumas testemunhas, “Kaká” é tido com o 01 do Compaj, estando acima de “Caroço” na hierarquia da facção.

José Bruno de Souza Pereira, “Bruno” ou “Bruninho”, é apontado na denúncia como um dos representantes do Pavilhão 3 e estava armado durante o motim. Trocou tiros com os policiais militares e, de acordo com relatos, foi um dos presos que negociou a liberação de reféns no dia de horror.

Reconhecido por sua barbárie e por ser sanguinário, José Arimatéia Façanha do Nascimento, vulgo “Ari”, é reconhecido como um dos matadores da FDN. Primo de Zé Roberto, é apontado por decapitar “Manoel Tatu”, junto com Demétrio. Usava uma arma .12 no motim.

“Loiro” ou “Loirão”, Rivelino de Melo Muller era do Pavilhão 2, um dos líderes do massacre, ordenando várias mortes. Ele usou um rifle. Também estava armado e no grupo de líderes locais Xavier da Silva Pinto.

Processo principal

Na primeira fase da instrução já foram ouvidas testemunhas de acusação e de defesa. Após ouvir todos os réus, os três juízes que respondem pela 2.ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Manaus poderão proferir a sentença de pronúncia.

Para facilitar a instrução, em comum acordo com o Ministério Público do Estado do Amazonas, o processo principal foi desmembrado em 22 processos, sendo um processo com quatro acusados; um processo com sete acusados; dois processos com onze acusados e 18 processos com dez acusados.

A Ação Penal começou com 213 réus, porém, 07 morreram durante a instrução e agora 206 respondem pela autoria de 56 homicídios qualificados; seis tentativas de homicídio; 46 vilipêndios de cadáveres; tortura em 26 vítimas e organização criminosa.

Processo tem mais de 2.600 páginas e 350 pessoas foram ouvidas durante inquérito

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1 comentário

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  1. fabio mendes de andrade disse:

    Fabio