Série com Wallace lidera audiência na Netflix; Folha de S.Paulo fala que Manaus ‘bairrista’ a abraçou

Mais de um mês de seu lançamento, a série “Bandidos na TV” continua na onda polêmica ao mostrar o ex-deputado e apresentador Wallace Souza, morto em 2010, não só como protagonista, mas por questionar se suas ações à frente do extinto “Canal Livre” o faziam um herói ou bandido.

A série documental e testemunhal mostra como Wallace foi acusado de ser chefe de uma facção criminosa, onde a máxima que imperaria era da audiência a qualquer custo, mesmo que isso fosse pago em sangue e morte.

Série com Wallace

Ao grupo foi atribuído mortes de rivais e traficantes, que eram exibidas no próprio programa e faziam parte da cultura do amazonense, passando particularmente no horário do almoço, numa espécie de “coma com a desgraça”.

Após ganhar audiência em Manaus, virar alvo de possíveis processos de personagens que apontam não terem autorizado uso de imagens, a série também tem sido sucesso na plataforma de streaming Netflix, como Reino Unido e Irlanda.

Contada em sete episódios, “Bandidos na TV” estreou em 31 de maio. Para as forças de segurança ouvidas, Wallace Souza não combatia o crime, mas usava o programa como fachada para estar ao lado de traficantes e homens perigosos, provocando mortes e encomendando. Tudo pela audiência.

Ranking

Menos de duas semanas depois de sua estreia na Netflix, “Killer Ratings” figurava entre as 10 mais vistas no Reino Unido e Irlanda. Ela despontava ainda em dois rankings distintos – foi o sétimo documentário mais assistido e também o sétimo programa em língua não-inglesa mais visto na última semana no Reino Unido e na Irlanda.

As listas incluem títulos consagrados e em cartaz há vários meses como “Nosso Planeta”, “The Rain”, “O Desaparecimento de Madeleine McCann” e “Por Dentro das Prisōes Mais Severas do Mundo”. A Netflix Brasil não divulga estatísticas oficiais de sua audiência no País.

Acusado de matar

Em matéria publicada nesta quarta-feira (3), o jornal Folha de S.Paulo fala da imensa popularidade da série e do ex-deputado que foi eleito três vezes com votações recordes, mas que “caiu em desgraça quando uma investigação policial o acusou de encomendar assassinatos para que sua equipe de TV chegasse antes da concorrência ao local do crime, entre outros delitos, como associação para o tráfico”.

Segundo a reportagem, a série foi um fenômeno instantâneo na cidade e segue citando que os manauaras, em geral bairristas, abraçaram “Bandidos na TV”, transformando o documentário em febre na audiência, nas redes sociais e nas ruas.

Pirata

Pelo Centro já é possível ver os pirateados episódios da trama com Wallace armado. O programa caiu em cheio no gosto por trazer uma memória afetiva de muitos, digamos, órfãos dos irmãos Wallace e do programa.

Mas, especialmente, por fazer o clássico contraponto entre a canção que fala que Manaus é porto de lenha e nunca será Liverpool, mostrando um forte apelo para o crime, poder , política e impacto visual. É o imaginário de uma cidade metrópole e a realidade crua, da violência.

Violência

Ainda segundo a Folha, a série reforçou o medo de morar na 37ª cidade mais violenta do mundo, segundo ranking da ONG mexicana Seguridad, Justicia y Paz. Em uma grande coincidência, a série entrou no ar na mesma semana em que 55 presos foram assassinados nos cárceres de Manaus.

Nas redes sociais, “Bandidos na TV” ganhou uma página local no Facebook, com quase 10 mil curtidas. No perfil, o julgamento tardio e póstumo de Wallace é dividido entre herói ou bandido, pendendo mais para o não tão culpado.

Curiosidades

Uma cena emblemática do “Canal Livre” não poderia ficar de fora dos episódios e virou meme, anos depois. É onde aparece o vendedor ambulante Gil da Esfiha, famoso pelo quitute, e o fantoche Galerito, que animava o palco. Ambos trocam socos e chutes no ar enquanto o cantor brega Nunes Filho cantava.

Quem foi Wallace Souza

Eleito deputado estadual em 1998, Wallace comandava, junto com os irmãos Carlos e Fausto Souza, um programa de TV que abordava casos policiais. Posteriormente, ele foi acusado de ser chefe de uma facção criminosa e de ordenar morte de traficantes rivais para exibir em seu próprio programa.

Cassado em 2009 por conta das denúncias, Wallace passou a sofrer com graves complicações no sistema digestivo e faleceu em 2010. Antes disso, chegou a ser preso.

Direção

A primeira vez que o diretor da “Bandidos na TV”, Daniel Bogado, ouviu a história de Wallace Souza foi em 2009, quando o caso ganhou repercussão nacional e internacional, e o mundo ficou hipnotizado pela história de um apresentador de TV brasileiro que ordenava assassinatos de criminosos e depois enviava equipes para filmá-los, a fim de aumentar a audiência de seu programa.

A série levou 17 meses para ser filmada, sendo uma grande parte dela em Manaus, onde se criou um time de produção de apoio, incluindo profissionais locais.