MAUAZINHO Soldados de Zé Roberto ameaçam reduto de João Branco na guerra

MAUAZINHO Soldados de Zé Roberto ameaçam reduto de João Branco na guerra

Mauazinho: Soldados de Zé Roberto ameaçam reduto de João Branco na guerra. Foto: Arquivo

Policiais da Ronda Ostensiva Cândido Mariano (Rocam) foram acionados na noite desta terça-feira (29), para conter um possível ataque de soldados do tráfico, no Mauazinho, zona Leste, ligados ao traficante José Roberto Fernandes, o Zé Roberto da Compensa, e ao narcotraficante João Pinto Carioca, o João Branco.

Diversas mensagem e áudios circularam por aplicativos de redes sociais, avisando da eminente sequência de execuções que acontecia na região. Ainda nos áudios, era claro aviso para que pessoas, não envolvidas com tráfico e crime, não saíssem de casa, para evitar morte de inocentes.

Mauazinho

O ataque seria conduzido por soldados de Zé Roberto contra o bonde de João Branco, incluindo amigos e familiares do narcotraficante. Nos áudios há relatos de avisos para que pessoas não saiam de casa e fechem comércios.

Os ataques seriam cometidos por soldados, já distribuídos em veículos e fortemente armados. Uma fonte da polícia, que não quis se identificar, confirmou a veracidade da ameaça.

Rocam

Policiais militares das Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam) e PMs da 29ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom) reforçaram o patrulhamento na região. Apesar das ameaças, não houve alteração no bairro.

Uma das vítimas, em uma gravação, conta que foi abordada duas vezes em seguida. Uma no ponto próximo ao Igarapé do 40 e outra na avenida Tefé.

Em outra mensagem, soldados ligados à Zé Roberto confirmam que dois carros, com homens armados, estariam indo ao Mauazinho para iniciar o ataque prometido.

Linhas de ônibus que circulam dentro do bairro ficaram paradas por algumas horas na rotatória da Gillete, que dá acesso a principal e única entrada à região.

Racha

O racha entre os fundadores da FDN, traficantes condenados e encarcerados em presídios federal, o João Branco e Zé Roberto, é pauta antiga no mundo do crime. Com as 55 mortes no sistema prisional, a autofagia entre eles ganhou capítulos extras, encorpada por áudios e até vídeos de soldados entregando o serviço.

Segundo o Departamento de Inteligência Penitenciária do Amazonas (Dipen), o racha é real. Em documentos e relatórios deste ano, foi verificada a tensão causada entre os traficantes, prontos para travar uma nova guerra, agora interna.

Vários salves de facções criminosas, da FDN e do Comando Vermelho (CV), divulgados desde o início das mortes, buscam atribuir responsabilidade e motivação à série de mortes nos presídios.

Vídeos gravados de um homem identificado como Magdiel Barreto Valente, vulgo “Magnata”, mostram parte de um suposto complô armado por membros da própria FDN que teria resultado nas 55 mortes nas cadeias.

Guerra declarada

Nos vídeos, “Magnata”, que aparece amarrado e com marcas de tortura, conta as relações perigosas que teriam levado a mulher de João Branco, Sheila Faustino Peres, a iniciar os ataques que derem origem aos novos massacres.

Sheila é a mulher que teria motivado a morde do delegado de Polícia Civil, Oscar Cardoso, no dia 9 de março de 2014. O narcotraficante foi acusado, na Justiça, de ser o mentor da execução do delegado.

Tribunal de rua

Ele foi denunciado pelo Ministério Público Estadual, que aponta que o crime foi motivado pelo torpe sentimento de vingança, visto que João Branco entendia que um grupo de policiais presos na operação “Tribunal de Rua”, comandado pelo delegado Cardoso, teria sequestrado, extorquido e estuprado Sheila Faustino Peres, em 2013.

Citada como a terceira maior facção criminosa em estrutura no País, a FDN foi apontada também como fomentadora e executora das 56 mortes em 2017, em confronto com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Sheila e JB

Além do racha interno, a facção ainda teria no seu calcanhar o CV, que busca comandar o tráfico na cidade. A ordem para a matança teria partido de Sheila, com aliados, e colocaria João Branco contra Zé Roberto, em um novo capítulo bastante sangrento.

Sheila era a responsável por levar as ordens do marido para seus aliados, mas Zé Roberto descobriu o plano. E neste mundo, de soldados, xerifes, homicidas e executores, trair a família não fica barato.

De avião a narcotraficante

JB começou no crime ainda jovem, como “avião”, mas criou seu próprio negócio, dominando o tráfico no Mauazinho, seu reduto. Há tempos ele estaria insatisfeito com os caminhos da FDN sobre o comando do Mano Z, como também é chamado Zé Roberto.

Dentro do seu bonde e com os seus, o narcotraficante usa mais duas siglas, a FDN Pura e Potência Máxima. Os aliados dele, fecham com os dois apelidos e seguem suas ordem. Apesar de presos, sob custódia do Estado, os xerifes nas cadeias obedecem exatamente a esses dois homens e seus aliados.

[KGVID]https://s3.amazonaws.com/img.portalmarcossantos.com.br/wp-content/uploads/2019/05/29082436/WhatsApp-Video-2019-05-29-at-12.18.36.mp4[/KGVID]

‘Magnata’

Conforme vídeos gravados por “Magnata”, um pouco em contradição, Sheila teria as ordens para as mortes de lideranças rivais, ou que não fecham com JB. Segundo a inteligência penitenciária, 200 nomes estariam jurados de algum ataque e 55 foram executados.

O ministro da Justiça Sérgio Moro afirmou, após autorizar envio de Força Nacional para o Amazonas, que o massacre tem perfil de conflito entre facções criminosas dentro dos presídios e que isso pode acontecer em qualquer lugar do mundo. “Não deveria. Nós temos a obrigação de tentar controlar esses casos específicos”.

Em 2017, antes da segunda maior chacina do Brasil registrada no Compaj, a inteligência também tinha informações sobre um possível motim. Foram 56 executados, alguns com requintes de barbárie.

Foto: Arquivo

O início

Antes de ser criada a facção criminosa FDN, o tráfico tinha comando de grupos rivais, divididos em seus territórios. Zé Roberto atuava na zona Oeste, o Luís Alberto Coelho, o “Bebeto da 14”, na Praça 14 de Janeiro, zona Sul; e João Branco, no Mauazinho.

Preso em 2005 pela Polícia Federal, com 60kg de cocaína, dois anos depois João Branco foi transferido para o presídio federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, onde estavam os presos como Fernadinho Beira-Mar, o traficante colombiano Juan Carlos Abadía e o mentor do assalto ao Banco Central de Fortaleza, José Reginaldo Girotti.

João Branco voltou a Manaus em 2011 e foi levado para o regime fechado do Compaj. Progrediu para o semiaberto, de onde fugiu em março de 2014. Hoje ele cumpre pena no presídio federal, novamente.

Veja também
Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *