Respeito aos professores

Por Augusto Bernardo Cecílio

 

O dia 15 de outubro não é apenas a data em que reverenciamos os professores. É o momento para profunda reflexão acerca do que fizeram governantes e governados para abraçar a todos os profissionais da educação em busca da verdadeira libertação da sociedade brasileira.

Se realmente queremos que o Brasil seja uma grande nação, o trabalho passa pelos professores, pois todas as profissões inevitavelmente passam pela sala de aula, que é um verdadeiro laboratório para a vida lá fora.

Lamentavelmente, porém, o cenário não é nada animador. Em enquete da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. Essa violência nas escolas passa pela impunidade dos estudantes, que abusam e acabam aprovados, com regimentos escolares que sequer preveem esse tipo de crime.

Em São Paulo, por exemplo, a violência contra professores cresceu 189% do ano passado para cá. Em média, pelo menos três docentes são atacados a cada dois dias no estado. O problema é que muitos casos não dão em nada e o poder público acaba passando a mão na cabeça de alunos que um dia, lá na frente, poderão aprontar coisas piores.

Fica difícil pra qualquer professor atuar no magistério sabendo que não possui uma retaguarda que o ampare nas suas atividades. Em época de celular, imagine o que é ministrar aulas sem controle, sem limites, sem disciplina. Certos pais detestam que seus filhos sejam corrigidos, que sejam punidos por infrações praticadas. E em tempo de redes sociais, tudo serve para ser explorado, inclusive politicamente. E pra completar, existem as ameaças que vêm de fora, deixando o terreno escorregadio para a prática escolar.

Outro aspecto é a questão financeira. Claro que um feriado é bom, mas o mais importante mesmo é o reconhecimento estampado no salário, aliado às boas condições de trabalho e a certeza de que terão uma aposentadoria digna no final de sua missão. Dificilmente as negociações salariais caminham tranquilamente sem apelo às greves, o que reflete claramente que o discurso sobre a importância dos mestres não bate com a realidade.

Na hora da greve, dificilmente a sociedade fica ao lado do trabalhador da educação, em busca da valorização do ensino. Pra completar, ainda ocorre a inversão da culpa quando o tempo se arrasta sem acordo, levando a crer que os alunos estão perdendo aulas por causa dos grevistas.

O engraçado é que todos concordam com a importância do professor e do seu papel para as futuras gerações, mas dificilmente os pais desejam que os seus filhos sejam professores.

Como alertou Paulo Freire, apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho. A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”.

 

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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