Guerra de facções no AM reforça presença de Tropas Federais. Traficante apoia candidato a governo nas redes sociais

Forças de segurança tem preocupação em reprimir a criminalidade e poder das facções. Foto: Divulgação TSE

As autoridades estaduais e federais brasileiras têm indícios de que as facções criminosas que atuam no país já agem para tentar influenciar o processo eleitoral em pelo menos 9 estados, incluindo o Amazonas, espalhados pelas cinco regiões do Brasil, segundo documentos e relatos obtidos pelo UOL.

Essa relação pode ser ainda maior porque, na grande maioria dos casos, as investigações sobre as tentativas das facções de se infiltrarem no mundo político são conduzidas sob enorme sigilo.

Polícia Federal

De acordo com o coordenador-geral de Defesa Institucional da Polícia Federal, Thiago Borelli, o temor de que as facções influenciem as eleições nunca foi tão grande.

“Nossa preocupação é maior neste ano. Infelizmente, em que pese os esforços para reprimir a criminalidade, a gente percebe que houve um crescimento no poder das facções no país”, diz Borelli.

O delegado acrescenta que as três principais preocupações das autoridades em relação à ação das facções nas eleições são: financiamento ilegal de candidatos ou partidos, candidaturas de integrantes de facções ou de pessoas ligadas a elas, e ainda a capacidade de coagir eleitores a votar em candidatos apoiados por essas organizações.

Confira abaixo um panorama do risco de influência das facções criminosas nas eleições de cada uma das cinco regiões do país.

Guerra de facções x Tropas Federais

Na região Norte, o Amazonas é o berço daquela que é considerada a terceira mais poderosa facção criminosa do país: a FDN (Família do Norte).

Durante vários anos, o grupo comandou, sozinho, uma das principais rotas de escoamento da cocaína produzida pela Colômbia e pelo Peru: o rio Solimões. Hoje, tem rivais.

Com a prisão dos seus principais chefes, a FDN passou também a controlar os presídios do estado. Em 2017, a organização ordenou, segundo investigações da Polícia Civil, o massacre nas cadeias amazonenses que resultou na morte de 56 detentos.

Documento obtido pelo UOL mostra que o temor em relação a essa guerra fez com que a PM reconhecesse que não teria condições de garantir a segurança do pleito sozinha e pedisse o apoio de tropas federais.

Cidades

No último dia 10, o TSE aprovou o envio de tropas federais para 25 municípios do estado, entre eles Manaus, epicentro do comando da FDN, e Tabatinga, principal porta de entrada da droga colombiana e peruana na Amazônia.

Traficante condenado é cabo eleitoral

No Amazonas, além dos potenciais conflitos entre facções, outra preocupação é a atuação de traficantes nas campanhas eleitorais. No mês passado, os juízes do TRE do estado ordenaram que um homem apagasse postagens em uma rede social consideradas ofensivas ao senador e candidato a governador Omar Aziz (PMN).

O internauta em questão era Carlos Condera Nascimento Filho, 35, um traficante de drogas condenado em julho deste ano e apontado pela Polícia Civil como um dos principais distribuidores de drogas nas zonas norte e leste de Manaus.

Em 2013, ele foi preso pela PM. Com ele, os policiais encontraram aproximadamente 600 gramas de cocaína. Condera foi denunciado por tráfico de drogas, mas foi solto em outubro de 2013, graças a um habeas corpus.

Preso novamente

Em maio de 2015, Condera foi preso novamente. Ele apareceu em conversas telefônicas interceptadas, com autorização da Justiça, comandando a distribuição de drogas e o recolhimento de dinheiro em bocas de fumo de Manaus.

Em um relatório produzido pela Polícia Civil, Condera, cujo apelido é “Garotinho”, é apontado como o principal “cabeça” de uma organização criminosa especializada na distribuição de drogas em Manaus. Ele foi solto novamente em fevereiro de 2016, mas continuou respondendo ao processo iniciado em 2013 por tráfico de drogas.

Funcionário público

A sorte de Condera começou a mudar a partir de outubro de 2017. Amazonino Mendes (PDT) assumiu o governo após vencer as eleições suplementares realizadas naquele ano.

Dois meses depois, em dezembro de 2017, Carlos Condera foi nomeado como assessor na Sejusc (Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos). No cargo, tinha direito a um salário bruto de R$ 4.200.

Em fevereiro deste ano, Condera, que sempre teve uma vida política agitada, finalmente se filiou a um partido político.

Escolheu o Solidariedade, partido presidido no Amazonas pelo ex-vice-governador Bosco Saraiva, que comandou a SSP (Secretaria de Segurança Pública) no início do governo de Amazonino Mendes com a missão de conter o avanço da FDN. Saraiva é candidato a deputado federal.

Redes sociais

Em junho deste ano, cinco anos após sua primeira prisão, Carlos Condera foi condenado por tráfico de drogas. Sua pena foi fixada em dois anos de reclusão, mas, como o processo prescreveu, sua punição foi extinta. Em agosto deste ano, Condera pediu exoneração.

Nas redes sociais, ele posta vídeos e fotos em apoio à reeleição de Amazonino Mendes e à eleição de Bosco Saraiva.

A reportagem do UOL tentou fazer contato direto com Carlos Condera e Bosco Saraiva para comentar essa reportagem. Nenhum dos três atendeu às ligações.

O UOL enviou perguntas tanto ao Governo do Estado do Amazonas como ao comando da campanha à reeleição de Amazonino Mendes. Por meio de nota, o governo do estado disse repudiar “qualquer tentativa de ligação do nome do governador Amazonino Mendes com o tráfico de drogas”.

Nota

A nota prossegue, dizendo que “o governador sempre combateu o narcotráfico em seus quatro mandatos e que Carlos Condera não tem participação oficial em sua campanha à reeleição”. O texto termina afirmando que “não havia impedimento legal contra a contratação de Carlos Condera”.

Por telefone, o advogado de Condera, Emerson Siqueira Faria, disse que seu cliente é inocente e que não pode falar sobre as interceptações telefônicas feitas pela polícia, por se tratar de uma investigação ainda em curso.

Sudeste: lar das maiores facções coleciona suspeitos

Investigadores de São Paulo e Rio de Janeiro revelaram que pelo menos 20 candidatos (dez em cada estado) são investigados por suas supostas ligações com facções criminosas como o CV (Comando Vermelho) e o PCC (Primeiro Comando da Capital).

O tema é tratado com sigilo pela maioria das pessoas envolvidas nos casos. Em São Paulo, a polícia tenta identificar os objetivos da ligação entre os candidatos com criminosos.

Rapper e PCC

Um dos casos que chamou a atenção dos investigadores foi a candidatura de um filiado ao PTC, partido do senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello. Segundo promotores, ele é irmão de um rapper que mantém ligações com o PCC. Os nomes da dupla foram mantidos sob sigilo para não prejudicar as investigações.

Enquanto essas suspeitas ainda são investigadas, o MP e a Justiça de SP afirmam que já há pelo menos um caso concreto de ligação entre o PCC e a política em território paulista: Ney Santos (PRB), prefeito de Embu das Artes.

Santos teve duas passagens criminais pela polícia antes de virar prefeito. Em 1999, ele foi preso por receptação e formação de quadrilha. Em 2003, por roubo a banco. Em 2005, foi solto por falta de elementos probatórios, sem nunca ter sido condenado criminalmente.

Em 2009, ele se filiou ao PSC e, três anos depois, foi eleito vereador. Em 2016, foi acusado pelo Ministério Público de integrar o PCC e de ter cometido os crimes de lavagem de dinheiro e associação ao tráfico de drogas. Mas, em outubro daquele ano, acabou eleito prefeito da cidade.

Liminar

Santos só assumiu a gestão municipal porque conseguiu uma liminar expedida pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal). Em 2018, porém, ele foi declarado inelegível, a partir de uma ação por abuso de poder econômico. O prefeito pode recorrer da ação no cargo, do qual está atualmente licenciado.

A reportagem pediu entrevistas com o assessor de Ney Santos, mas ele não retornou. Uma desembargadora de São Paulo confirma: ainda há processos tramitando contra o prefeito.

Funkeiro investigado no Rio

No Rio, a situação ganha contornos ainda mais complexos porque, além da atuação de facções como o CV, as milícias representam uma ameaça já conhecida. As autoridades acompanham candidatos suspeitos de colaborarem de alguma maneira com facções e milícias.

Em entrevista concedida ao UOL, o general e secretário de Segurança do Rio, Richard Nunes, afirmou que algumas candidaturas suspeitas já foram identificadas e que a intenção é impedir que políticos vinculados a esses grupos criminosos cheguem a ser diplomados.

Milícias

Uma reportagem publicada pelo jornal “O Globo”, no último dia 9, revelou que as autoridades mapearam 300 pontos sob influência do tráfico ou de milícias que funcionariam como “currais eleitorais”.

Em algumas dessas áreas, apenas candidatos autorizados pelo chefe do tráfico ou da milícia podem fazer campanhas. Muitas vezes, segundo a reportagem, o poder paralelo cobra taxas para que candidatos possam fazer suas campanhas nessas regiões.

Além de controlar o acesso de candidatos, facções criminosas estariam tentando infiltrar pessoas ligadas a elas entre os possíveis eleitos. Um dos candidatos já investigado por suas supostas ligações com o CV foi o funkeiro Fabiano Baptista Ramos, conhecido como MC Tikão (SD-RJ), que pretendia disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.

Chefes do CV

Nas últimas semanas, ele foi flagrado fazendo um show para um público em que havia homens com fuzis em mãos. A Polícia Civil investiga se o local era um ponto de encontro dos chefes do CV.

Durante a apresentação, o funkeiro pediu a liberdade de traficantes e cantou a música “Faixa de Gaza”, em que cita nomes de criminosos e exalta a facção. Além disso, ele também foi flagrado fazendo as letras C e V com as mãos durante o show.

À polícia, o candidato disse que estava embriagado ao longo da apresentação e que não viu pessoas armadas no local. Mesmo assim, ele foi indiciado por apologia ao crime.

Exaltação

A exaltação do CV em suas músicas, porém, não é a única ligação entre Tikão e o CV investigada pela Polícia Civil do Rio. Em 2017, ele foi preso por suspeita de ajudar na fuga do traficante Rogério Avelino, o Rogério 157, um dos chefes do tráfico na favela da Rocinha.

À época, Tikão negou envolvimento na fuga de 157. Em abril deste ano, ele se filiou ao Solidariedade. No último dia 13, a Justiça eleitoral indeferiu a sua candidatura a deputado federal.

Confira a matéria do UOL na íntegra clicando aqui

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1 comentário

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  1. Edmilson Lim disse:

    É por isso que minha esperança está na vitória de BOLSONARO. Eleito vamos ver a coisa mudar.