EXCLUSIVO Após negociar clientes, Unimed vai encarar dívidas. Veja patrimônio e como fica para médicos cooperados

A alienação compulsória tem consequências duras. Uma delas é a possibilidade de liquidação da cooperativa. Isso corresponde, numa sociedade de capitais, à falência da empresa. Foto: Arquivo

A Unimed Manaus, em fase de alienação compulsória de sua carteira de beneficiários, ainda terá que pagar os R$ 500 milhões que acumulou em dívidas. A carteira de beneficiários, com 122 mil usuários, é a parte boa da empresa.

Depois da venda obrigatória, que tem 30 dias de prazo, vem o pagamento das dívidas. O portal consultou especialistas para entender esse futuro. “Pode ocorrer venda de patrimônio e integralização das cotas dos médicos cooperados que ainda não integralizaram”, disse um deles.

A alienação compulsória tem consequências duras. Uma delas é a possibilidade de liquidação da cooperativa. Isso corresponde, numa sociedade de capitais, à falência da empresa.

Passivo de R$ 350 milhões

Na liquidação, as dívidas fiscais que estão parceladas, vencem integralmente e de imediato. Trata-se de um passivo em torno de R$ 350 milhões.

“Segue-se a venda do patrimônio e a integralização das cotas que cooperados subscreveram e ainda não integralizaram”, explica especialista. Cada médico que integra a cooperativa seria responsabilizado pela parte que lhe cabe na dívida conforme sua produção ano após ano.

“Haveria uma longa discussão judicial e os credores, com muita luta, podem chegar até ao patrimônio pessoal dos cooperados”, acrescenta. Há entendimentos de que os cooperados podem ser responsabilizados pessoal e linearmente em relação a dívidas trabalhistas e fiscais, pois dissociadas da produção médica, ou seja, de cunho geral. São cerca de 900 médicos subscreventes.

Separação

A diretoria recentemente destituída fez um movimento saneador. Criou a Unimed de Manaus Empreendimentos S.A. inicialmente subsidiária integral da cooperativa. Integralizou as ações para a Sociedade Anônima por meio dos bens da cooperativa. Separou, no grupo econômico Unimed, a “operadora de plano de saúde” da “prestadora de serviços médicos e hospitalares”.

“O Bradesco e a Sul América Seguros, por exemplo, não têm hospital. A Unimed tem. Planos de Saúde são submetidos às regras rígidas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que só existem no Brasil. São específicas e diferentes da contabilidade das demais empresas. O ‘Ativo Garantidor’, por exemplo, é uma conta com alguns milhões de reais que toda a operadora de plano de saúde precisa ter para garantir o atendimento da carteira de beneficiários em caso de oferta pública e de liquidação. A ideia foi desvincular as atividades para ter contabilidade menos rígida e mais adequada à prestação dos serviços”, disse um consultor.

Patrimônio

O patrimônio da empresa está avaliado em torno de R$ 100 milhões. O principal ativo é o Hospital Maternidade Unimed (HMU), na avenida Constantino Nery. Os outros são Central de Serviços, Central de Consultórios e um prédio no Centro, onde funciona o arquivo da cooperativa.

Venda e credores prioritários

A liquidação de cooperativas segue um rito especial. O “ativo garantidor” será utilizado. Nele são depositados os valores relativos à venda da carteira em oferta pública, se a tanto chegar. Os credores são colocados em lista de prioridade.

“Dívidas trabalhistas, inclusive geradas pela antecipação de rescisões, têm prioridade. Depois vem a dívida fiscal, cujos parcelamentos vencem de imediato”, explica outro especialista.

“É aí que questões trabalhistas e tributárias, Justiça do Trabalho e Fisco têm prioridade. Podem até invadir a esfera patrimonial dos cooperados para receber dívidas”, explica.

Avaliação da carteira

A venda da carteira de beneficiários está sob avaliação da Central Nacional Unimed (CNU) há meses. Diretores da Unimed Manaus e técnicos da CNU não conseguiram chegar a acordo quanto aos valores. Aí veio a alienação compulsória e acelerou o processo.

A avaliação principal é a da chamada “sinistralidade”. “Quantas vidas existem? Quanto elas custam por mês para se manter? Plano de saúde saudável é o que dá em torno de 80% de sinistralidade”, diz o consultor.

A da Unimed, que estava em 105%, teria sido reduzida pela diretoria atual para algo em torno de 85%. O principal saneamento foi a devolução da carteira IBBC, um desastre comercial atribuído à diretoria destituída.

Outros parâmetros para o preço da carteira são o cálculo atuarial, ou seja, se o tíquete médio do valor dos planos está bom. E a distribuição das vidas dentro das faixas etárias. Quanto mais vidas tiver até 18 anos, a primeira faixa, e a segunda faixa (19 a 23), mais ela vale. “A Unimed tinha mais gente nas faixas do meio” (39 a 43 anos), diz ex-diretor.

Quebra

“Um dos motivos da quebra foi o envelhecimento dos cooperados. Por 20 anos, a cooperativa endureceu a entrada de novos associados. Os antigos perderam capacidade de trabalho, sendo que a maioria não acompanhou a evolução da medicina no que diz respeito às subespecializações. A Unimed ficou sem quadro ativo de cooperados para produzir e acompanhar o crescimento do mercado. O resultado é que o quadro ficou improdutivo justamente no momento que o mercado ficou exigente quanto ao tempo curto de atendimento”, avaliam os consultores.

“Hoje, outros planos de saúde oferecem atendimento quase imediato em diversas especialidades médicas, mesmo que feito por médicos sem especialização. O usuário quer, em primeiro lugar, ter atendimento de maneira rápida. Se o seu problema for mais sério, aí sim faz questão de ser atendido por um especialista”.

Briga com ANS

Outro problema foi a briga com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), acerca de obrigações previstas na Lei dos Planos de Saúde. E também com o fisco municipal e federal, referente a tributos que os cooperados entendiam que não era necessário pagar.

“Não houve provisionamento para pagamento de dívidas discutidas judicialmente, o que gerou um passivo gigantesco. Outras dívidas sequer foram discutidas judicialmente e também não foram provisionadas, como o ressarcimento ao SUS”, explicou um cooperado que não quis se identificar. “O estoque de dívida tributária da Unimed Manaus vem desde a década de 90”, asseverou.

O fato é que a Unimed Manaus quebrou e isso afetará toda a sociedade local.

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1 comentário

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  1. Norberto Ferraz de Campos disse:

    E A ADMINISTRAÇÃO DO DR. ASDRUBAL NÃO VAI SER RESPONSABILIZAR EM NADA? DESASTROSA!