O poder em frangalhos

A luta do homem pelo poder remonta aos primórdios da humanidade. Aristóteles, o filósofo, dizia que: “O poder, a riqueza e a amizade são atributos da felicidade de uma pessoa”.

A literatura ao ocupar-se do assunto é riquíssima. Na Grécia antiga o tema sempre esteve na ordem do dia. Mais recentemente, no século XVI, Maquiavel em “O Príncipe” deu aula sobre a conquista e manutenção do poder. Thomas Hobbes no seu “Leviatã”, tratado do século XVII, considerou que: “O desejo de poder só para com a morte”. “Onde encontrei vida lá estava a sede de poder”, Nietzsche 1885, em “Assim falou Zaratustra”:

Evidente que a humanidade, também, navega ao encontro de outros desejos e emoções, sem, contudo, perder o foco no poder.  Em busca dele o homem chega a aventurar-se em guerras, cujo objetivo é atingir seu principal alvo: o poder.

Nesse contexto aparece a política como imã de atração maior. É como se nela, o poder fosse mais poderoso. Talvez pela capacidade de gerar riquezas e fazer amigos rapidamente, condicionantes da felicidade, como entendia Aristóteles.

A trajetória política, contudo, sempre exigiu muita flexibilidade ética e moral, valendo-se, sobretudo, da ignorância de uma plateia que não conhecia seus direitos e, muito menos, a obrigação dos governantes, para com ela.

Nesse sentido, a ignorância, além de patrocinar a arrogância, transformava-se num eficiente escudo de proteção dos poderosos. E mesmo nos regimes democráticos, essa postura se aliava ao inconsciente coletivo, que guardava as marcas do autoritarismo dos reinados e dos regimes escravagistas. Esse quadro consolidava o domínio de poucos sobre muitos, com o que, desde o século XVI, já se ocupava o jovem filósofo francês Étienne de La Boétie, como mostrado no seu “Discurso da servidão consentida”.

Ao longo do tempo, no entanto, o avanço da educação nos países mais desenvolvidos, aumentou a consciência da população e a pressão sobre os governantes. Dois acontecimentos, no entanto, estão acelerando, radicalmente, as mudanças desse quadro.

O primeiro é o explosivo crescimento populacional do planeta ao longo do século XX que, como consequência, demandou aumento extraordinário por serviços público. Mas, embora a ignorância estivesse sofrendo redução significativa e aumentando o grau de insatisfação das populações, o escudo de proteção do poder, mostrava, ainda, muita resistência, a partir das dificuldades de acesso aos poderosos.

Em meados da segunda metade do século XX, no entanto, por meio de novas tecnologias, as telecomunicações se modernizam, e no final do século passado, a população mundial ganhava seu instrumento de poder: a internet. Era a tecnologia criando os mecanismos da informação e do acesso direto aos governantes.

No Brasil, essa onda tecnológica vem varrendo o poder em todos os níveis, destrói seus escudos protetores, expõe suas fétidas tripas e tudo fica às escancaras. No plural, “Os Reis estão nus”. Como no conto, nossos poderes foram desnudados e estão em frangalhos. Atônitos, não enxergam a complexa diversidade que se multiplica em alta velocidade, provocando o caos nas suas entranhas e tentam sobreviver às custas de velhos e carcomidos “scripts”.

Só um estado em permanente inovação é capaz de produzir dinâmicas auto renováveis. Preocupados em segurar-se à riqueza de origem duvidosa, os nossos poderes não percebem o momento e continuam construindo castelos de areia, via marketing ou na retórica do vácuo. Com isso, perdem a unidade de direção e, como uma biruta, entregam-se, involuntariamente, ao sabor dos ventos que, no mundo atual, muda de direção com destruidora frequência.

Para completar, parte da nossa população, numa demonstração de fidelidade às “histórias da carochinha”, enxerga solução na utopia socialista.

Nossos poderes estão em frangalhos. Perderam a credibilidade. E nós todos precisamos nos reinventarmos como Nação.

 

Francisco Cruz

Francisco Cruz

* Francisco R. Cruz é empresário e trabalhou muitos anos na área de tecnologia e, entre 2001 e 20...

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2 comentários

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  1. Narco disse:

    Concordo com a retorica , contudo, não se acredita em soluções socialistas,mas no estado democrático de direito o acordado não pode prevalecer pelo legislado.

  2. Francisco R. Cruz disse:

    Prezado Narco, desculpa, não lembro que tenha dito acreditar em soluções socialistas. Ao contrário, a solução está no liberalismo. De qualquer modo agradeço muito seu comentário