Mais de 3 mil casos de violência contra a mulher são registrados em janeiro de 2018, no AM. Especialistas comentam

Dados mostram que não muito a se comemorar no Dia Internacional da Mulher. Foto: Reprodução

BRUNA CHAGAS- ESPECIAL PARA O PORTAL DO MARCOS SANTOS

Feminicídio, assédio, exploração sexual, estupro, tortura, ameça, lesão corporal, violência psicológica, agressões por parceiros ou familiares e perseguição. Essas formas de violência contra as mulheres continuam bastante intensas e infelizmente presentes em diversos lugares no mundo, motivando graves violações de direitos humanos. Só no Amazonas 3. 498 casos foram registrados pela polícia já em janeiro de 2018, segundo dados da  Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM).

Nesta semana, alguns casos chamaram a atenção como o da adolescente de 15 anos que o próprio pai estuprava e agredia fisicamente e psicologicamente da jovem, no interior do Amazonas. E ainda, o da professora que foi esfaqueada na véspera do dia das mulheres em Itacoatiara, pelo cunhado. Esses casos mostram como a violência contra a mulher predomina e estão virando rotineiros não apenas nas grandes cidades, mas nos interiores.

Em janeiro deste ano, a ativista LGBT e professora de informática Mary Lucia da Silva Ribeiro foi agredida brutalmente por um vizinho. Os socos provocaram traumas na face e na cabeça da professora. Integrante do Fórum Permanente das Mulheres de Manaus, Mary não participará do ato devido aos problemas de saúde que ainda enfrenta, no entanto, seu agressor continua em liberdade.

Na sociedade

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De acordo com o cientista social, Luiz Nascimento, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), o mais perverso da sociedade é que a violência, a exclusão e abusos que as mulheres sofrem são vistos como normal e algo rotineiro na vida das próprias mulheres. “Por exemplo, uma mulher é atacada e abusada sexualmente  e a primeira coisa que vão perguntar é se ela provocou isso. Essa desigualdade é acompanhada de discriminação, preconceito e de muita violência. Parte desse conteúdo é resultado de um modelo de formação de sociedade machista, judaico-cristã, onde a mulher é colocada em posição subalterna o tempo todo.”.

Para a psicóloga Karina Salazar, o que acontece com as mulheres vítimas de violência, seja física ou psicológica é que há uma criminalização da vítima, na qual a mulher é responsabilizada pela própria violência sofrida, questiona-se principalmente o merecimento de tal violência.

Conforme a especialista, a sociedade brasileira, tem sido profundamente marcada por essas violências de gênero, por ainda existir uma cultura da violência, o Brasil tem uma das maiores taxas mundiais de homicídios contra a mulher e mais de 50% dessas violências são realizadas por familiares, parceiros ou ex-parceiros das vítimas, segundo Mapa de Violência, Homicídio contra Mulher de 2015.

Mudança

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Conforme a delgada titular da Delegacia Especializada em Crimes contra a mulher, Débora Mafra, nunca houve e nem haverá mudança social instantânea, pois a história tem mostrado que as mudanças de comportamento social ocorridas até o momento sempre percorrem um caminho longo.  “Essas mudanças nascem com as ações de conscientização de todas as pessoas e isso vai depender também da realização dessas atividades, pelos órgãos responsáveis tais como escolas, secretárias criadas para este fim, governos, somado ao esforço familiar, por meio das informações.”, explicou a delegada.

“Tenho certeza que um dia teremos uma sociedade livre destes comportamentos primitivos que trazem transtornos as mulheres vítimas. Enquanto isso façamos nossa parte, no sentido de denunciar os atos, para que o Estado possa usar o seu “jus puniendi” (poder de punir)”, ressaltou a autoridade policial.

Denuncie

No Amazonas, em 2017, mais de 120 mil mulheres denunciaram nas delegacias que foram vítimas de agressões, conformes informações da Secretaria Estadual de Justiça (Sejus) ao Núcleo de Pesquisa e Estudos de Gênero (Neiregam) da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). No estado, é crescente também o número de agressões e mortes contra mulheres lésbicas, transexuais e transgêneros.

A delegada lembra que para denunciar basta ligar no Disque 180 e a mulher receberá apoio e orientações sobre os próximos passos para resolver o problema. A denúncia é distribuída para uma entidade local, como a Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) ou Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (DEAM), conforme o estado.

Quando não houver uma delegacia especializada para esse atendimento na região do fato ocorrido, a vítima pode procurar uma delegacia comum, onde deverá ter prioridade no atendimento. Se estiver no momento de flagrante da ameaça ou agressão, a vítima também pode ligar para 190 ou dirigir-se a uma Unidade Básica de Saúde (UBS), onde há orientação para encaminhar a vítima para entidades competentes.

No Brasil

Cronômetro divulgado pelo Instituto Patrícia Galvão mostram o tempo em que cada mulher sofre violência no Brasil.

 

“É inaceitável que uma em cada três mulheres no mundo sofra violência em algum momento de suas vidas”, disse Phumzile Mlambo-Ngcuka, subsecretária geral das Nações Unidas e diretora executiva da ONU Mulheres.

Seguem os dados divulgados pela SSP-AM

Reportagem: Bruna Chagas

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