O aleitamento combate doenças por toda vida e pode diminuir a flacidez nos seios da mãe

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A pediatra Rossi Pinheiro, com dois de seus pequenos cliente, na série de fotos que chama de “nós amamos a Tia Rossi”, ressalta as vantagens do aleitamento materno

Começa, nesta sexta-feira (01/08), a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM), que vai até o dia 7. Trata-se de um momento especial porque o aleitamento acompanha o ser humano pela vida inteira, combatendo doenças que se transformam cada vez em epidemias, como é o caso do diabetes. A médica pediatra Rossi Pinheiro, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, que tem trabalhado com parteiras e incentivando o aleitamento, fala sobre as vantagens desse gesto ao mesmo tempo simples e com repercussão tão complexa na vida humana. O trabalho dela tem repercussão nacional e a faz uma das palestrantes mais requisitadas do País, em congressos de especialistas. Eis a íntegra da entrevista:

blogdomarcossantos – Fala-se muito nos benefícios do aleitamento materno para a criança. E para a mulher? É correta a máxima popular de que o aleitamento torna os seios flácidos?

Rossi Pinheiro – A flacidez nos seios é mais relacionada a aspectos individuais (mulheres de raça branca aparesentam mais flacidez) que propriamente com a amamentação, mas sabemos que se a mãe não amamentar exclusivamente e os seios ficarem turgidos (cheios) isto pode influenciar na flacidez. Portanto, quanto mais a mãe amamenta mais firme fica a musculatura que sustenta o seio. O maior conselho é amamentar pois o seio ao “encher” e ‘esvaziar” está praticando musculação e fica menos flácido.

 

Blog – E quais são os benefícios para a criança? É verdade que o leite é um alimento tão completo que o bebê não precisa de mais nada, nem água?

Rossi – A criança que é amamentada recebe muito mais que alimento, recebe atenção, carinho e segurança … O leite materno é “humano”, portanto, específico para a raça, não tendo contra-indicações. O leite da mãe é específico para seu bebê. Por isso as mães não podem amamentar outras crianças. A quantidade de proteínas, gorduras e carboidratos estão com relação ideal no leite humano, não gerando riscos de obesidade ou malnutrição. Somente o leite humano tem anticorpos específicos para doenças que acometem a raça humana, por isso previnem infecções. Somente o leite materno contém acidos graxos essenciais (gorduras) que são responsaveis pelo desenvolvimento ideal do cérebro, por isso crianças amamentadas tem um desenvolvimento melhor, são mais ageis, são mais espertas e podem ter melhor aprendizado na escola. O leite humano tem fatores de crescimento que não existem em fórmulas artificiais. As crianças amamentadas não precisam de água porque o leite humano tem água suficiente para a sua hidratação (mesmo em Manaus, com altas temperaturas).

 

Blog – São vantagens para o bebê. E para a mãe?

Rossi – A amamentação tem muitas vantagens para a Mãe também – emagrece mais rápido (perde 700 calorias por dia) e diminui o risco de doenças como diabetes, câncer de mama e colo de útero. A amamentação ajuda no planejamento familiar (não evita 100%, mas diminui o risco de nova gravidez).

Blog – Qual é o balanço do aleitamento materno no Amazonas? Há estatística confiável mostrando qual o porcentual de mulheres que amamentam por todo o período necessário, capital e interior? Que órgão produz esses números ou que órgão poderia produzir?

Rossi – No Brasil, o número de crianças amamentadas tem aumentado ano a ano, devido aos investimentos do Ministério da Saúde (MS) e de parcerias com organizações não governamentais, mas sabemos que muitas estretégias precisam ser melhoradas. Atualmente, o controle deste números é feito a partir dos dados da Rede Amamenta Brasil (vinculado à área técnica da criança no MS). A pesquisa de prevalencia da amamentação, realizada em 2008, mostrou que se avaliarmos as crianças que são amamentadas exclusivamente, até seis meses (sem água, chás e outros alimentos), no Brasil, a Região Norte ficou em primeiro lugar, com 45,9% e dos sete Estados na Região Norte, Manaus ficou em terceiro lugar, com 41,1%. Ou seja, em 100 mães e bebês cerca de 42 mães amamentam exclusivamente o bebê até seis meses.

 

Blog – Com qual idade o bebê deve ser desmamado?

Rossi – Esses bebês devem continuar sendo amamentados pelo menos até dois anos, recebendo também outros alimentos. E aí, ao avaliarmos a prevalência até um ano, crianças que recebem leite materno até um ano, observamos que a Região Norte continua no primeiro lugar, com 72,9%, mas Manaus ficou em sexto lugar (dentre as sete capitais do Norte) com 71,9%. Sabemos que nos últimos anos muitos investimentos foram realizados na cidade de Manaus, como os Hospitais Amigo da Criança (todas as maternidades públicas), Banco de Leite Humano, Postos de coleta, programas de estímulo ao aleitamento materno, por isso houve um incremento muito grande no número de crianças amamentadas.

Blog – Há alguma relação entre o parto natural e o aleitamento. É expressivo o número de mulheres que amamentam entre as que fazem parto natural ou parto cesariano?

Rossi – Sim, o parto natural beneficia maior interação entre mãe e bebê, além disso ajuda a amamentação na primeira hora de vida (essencial para o sucesso da amamentação), mas, mesmo no parto cesáreo, o bebê deve ser colocado para mamar, porém as mães que fazem cirurgia sentem dor, desconforto na posição deitada e dificultam a sucção nos seios. Isso, com certeza, é um obstáculo.

 

Blog – Qual é a participação das parteiras, com as quais a senhora trabalha, nesse processo? Elas são boas orientadoras do aleitamento?

Rossi – Nossa população ribeirinha, rural e, inclusive, em grandes cidades no interior do Amazonas, são assistidas por parteiras em parto fora do hospital e elas têm demonstrado muito interesse em estimular a amamentação. Elas funcionam como consultoras neste processo e de forma mais que instintiva auxiliam a mãe, no início da amamentação, pois praticamente 100% dos bebês são colocados ao seio imediatamente após o nascimento … momento que o bebê mais procura o seio materno (após uma hora, o bebê dorme). Algumas etnias (bem poucas) usam outros alimentos para os bebês nas primeiras horas de vida.

 

Blog – Como estão os bancos de leite e a distribuição deles no Estado?

Rossi – Nosso Estado tem o maior Banco de Leite em tamanho estrutural no Brasil, na maternidade Ana Braga, mas temos Banco de Leite na maternidade Azilda Marreiro e no Instituto da Mulher, porém, a cobertura aos recém-nascidos internados nas UTIS neonatais precisa ser aumentada, pois o processamento precisa ser otimizado. Segundo a Rede Brasileira de Banco de Leites (Fiocruz), em 2013, os Bancos de Leite no Amazonas conseguiram coletar quase 2 mil litros de leite e distribuir aos recém-nascidos internados.

Blog – Como será a Semana Mundial de Aleitamento (SMAM) no Amazonas?

Rossi – Desde 1990, o mundo tem participado de discussões acerca dos fatores que influenciam na mortalidade infantil. Não temos dúvida, e é cientificamente comprovado, que nossos bebês morrem menos se forem amamentados. Anualmente, na primeira semana de agosto (1 a 7), o Brasil se volta para esta discussão na SMAM. Este ano, o tema é “Amamentação – uma vitória para toda a vida”. Comprovando a importancia de aumentar e manter a proteção, apoio e estímulo ao aleitamento materno, lembrando as oito metas do milênio, ressaltando que o Brasil já diminui a mortalidade infantil em dois terços, em 2013, e a meta era para 2015.

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