A tragédia do Rio de Janeiro e nós

Chocante. O Brasil assistiu a cenas de fazer chorar, nesta quinta-feira, por conta das chuvas que devastam a região serrana do Rio de Janeiro. Como isso é possível?

Os políticos temem, em nossa sociedade, duas coisas: os poderosos, que os sustentam, e perda de votos.

Quem aceita o risco da encosta é o desvalido, aquele que não tem para onde ir. Mas eles resistem, escudados na repercussão que uma reintegração de posse tem na mídia, na incompetência dos administradores em oferecer alternativas e no que a retirada deles pode representar em perda de votos para o chefe do Executivo de plantão.

Abro parênteses para lembrar que uma reintegração de posse, geralmente, segue o ritual do pedido (por representante do poder público ou do particular proprietário da terra), referendo do Ministério Público, ordem de um juiz ou desembargador e execução, por um oficial de Justiça, que pode requisitar força policial para tal. Não é, portanto, um ato apenas da polícia. O comandante da PM pode, aliás, em caso de desobediência à ordem judicial, ser enquadrado em crime de responsabilidade. É claro que o leitor sabe que esse juridiquês não é meu. Aprendi nesses 38 anos de vida profissional – que completo dia 15.

Voltando ao tema, em resumo, o sujeito está correndo risco de vida, com toda sua família, mas se recusa a deixar o local, na esperança de que surja uma indenização ou mesmo uma alternativa. Como nada disso aparece, ele vai acreditando na sorte até o dia em que, literalmente, a casa cai.

Manaus, como o Rio de Janeiro, está cheia disso. Somadas as pequenas tragédias provocadas por incêndios e alagações, em Manaus, temos vítimas em número significante, embora ainda distante do que hoje se vê em terras fluminenses.

Não temos a Globo cobrindo ao vivo no Jornal Nacional as nossas tragédias. Nem vontade política para meter a mão nessa cumbuca. Resta-nos o apelo cidadão para que o planejamento urbano lute para passar à frente desses e de outros problemas. Alguém duvida, por exemplo, que o mundo vai cair de pau em cima de nós, moradores da Amazônia – e de Manaus, em particular – por conta do que foi feito com os mananciais de água traduzidos nos igarapés e mesmo com o dinheiro do Prosamim, que não os recuperou?

O período de chuvas já começou. Olhem com carinho, por humanidade ou mesmo por voto, para as nossas tragédias anunciadas.

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7 comentários

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  1. Ajuricaba disse:

    Leio quase todos os dias seu blog, do Ronaldo e da Rádio. Quem tem a obrigação de estar bem acordado somos nós, que temos esses meios de divulgação. Vou dar uma kibada e colocar lá na Tribo dos Manaós. Depois confira e veja se ficou de seu agrado.
    Vou divulgar no twitter e facebook também

  2. Muitos programas do rádio e televisão estão fazendo a cobertura dessa catástrofe climática. Comentários pertinentes estão sendo feitos, análises sobre a ocupação do solo desordenada, crescimento das cidades, moradias em áreas de risco. Mas apenas um, que eu tenha percebido, ressaltou que pela quantidade de chuvas que caíram não existiria cidade que suportasse, sem que houvesse vítimas. Foi uma catástrofe climática. Contra as forças da natureza ainda somos pequenos e frágeis. Esse único que ressaltou a enorme quantidadede de chuva, sem precedentes, foi o Coronel Roberto Robadey, Coordenador da Defesa Civil de Nova Friburgo, registrando a informação de 300 mm de chuva em cerca de 36 horas.
    Nós assistimos, mês a mês, semelhantes tragédias mesmo em países desenvolvidos. Na Austrália , há dez dias atrás chuvas fortes inundaram vastas regiões daquele desenvolvido país, deixando muitos mortos. Nem os Estados Unidos escapam das forças da natureza , basta lembrar de New Orleans e o Furacão Katrina.
    O número de vítimas é de cerca de 500. Deve ser a maior tragédia climática já ocorrida no Brasil.
    Podemos trabalhar , e devemos, para diminuir o risco desses fenômenos, mas simplesmente evitá-los ainda não está ao nosso, humano, alcance.
    Newton Almeida http://limpezariomeriti.blogspot.com
    MEIO AMBIENTE RIO DE JANEIRO

  3. Marcos Santos existem areas em Manaus aos montes de risco. Haja visto o que aconteceu no porto chibatão. Você já viu a comunidade SHARP, como e parecida a situação.

  4. Muito bom o comentário do Newton Almeida, penso assim. Somos pequenos. Devemos sim continuar aprendendo e aplicando o aprendizado na defesa da vida, mas pouco se pode fazer com esse volume morro abaixo.
    Lógico que tem gente abusando da sorte aqui mesmo na capital do Amazonas. Tem gente pendurada em barrancos que não aguentam mais um chuvisco.

  5. DARLAN BERNARDO disse:

    Marcos Santos, por favor
    Da para acreditar na justiça? Li num destes jornaiszinhos de nossa cidade que foi concedido liberdade ao traficante que usa o codnome “Melk”, do Mauazinho.
    Bom, meu questionamento é o seguinte: o que passa na mente de um policial que ganha um salário (mísero), não há estrutura física digna de trabalho (viaturas sucateadas, armas ultrapassadas, fardamento apertado, entre outros…) Quando o mesmo arrisca sua propria vida para tirar das ruas bandidos de alta periculosidade e vêm esses magistrados (que pensam que são deuses) e soltam o meliante que não tem nem trabalho de limpar a cela da cadeia…
    Marcos, como é que pode…? ptz!
    Um abraço

    Bernardo

  6. Xico Branco disse:

    Pertinente o comentário do colega blogueiro Newton Almeida. Porém faltou observar que na Austrália morreram pouquíssimas pessoas. Vi uma reportagem sobre um brasileiro que lá mora, que 01 dia antes recebeu uma carta URGENTE dizendo que ia chover acima da média na região, e na carta vieram todas as instruções de como agir. A casa dele e de vários ali inundou, mas eles nada sofreram pois haviam saído, ou seja, lá tem prevenção e alertas que funcionam.

    Outra coisa, se houvessem políticas sérias de ocupação de solo impróprio; como morros, barrancos, charcos, pântanos, beiras de rios e igarapés; e estas fossem cumpridas e quem não as cumprissem fosse energicamente punidos, creio que menos pessoas morreriam.

    Aqui em Manaus temos várias áreas que uma hora ou outra irão virar estatística de tragédia coletiva. Aqui onde moro, nesse exato instante vejo pela janela duas dessas áreas enquanto digito.

    O PROSAMIM, Marcos, colocou concreto onde deveria ter colocado árvores nativas margeando os igarapés para melhorar a absorção de água. Bom pra ver, inútil pra algo mais. Amigos meus que vieram passear em Manaus disseram que o nosso sistema de esgoto é bem “legal”, quando viram aqueles igarapés levando água poluída, garrafas pets, etc, etc, já margeados por concreto e grama. O dinheiro que gastaram com PROSAMIM daria pra fazer várias estações de tratamento de águas e esgoto; remover o povo dali pra áreas planas e seguras, e ainda ganhar eleição.

  7. Raimundo disse:

    Outro fato também preocupante, é o despejo diário de entulhos por caminhoões de empresas de “Disk-entulhos”, na margem do igarapé do passarinho,mais precisamente no trecho que fica próximo ao Centro de treinamento veicular -Detran(atrás da expoagro).Já houveram alagações naquela área,interditando a av. Grande circular 2.Isso, não causou grandes transtornos,hoje,uma vez que aquela área é pouco habitada,no futuro se não fizerem algo,certamente será motivo de grandes consequencias.
    Existem as “calmidades climáticas”,mas é claro que são reações da própria ação do homem para com a natureza,pois “cada ação,corresponde a uma reação,na mesma intensidade ou não”.A lei da física é clara.