Política e contradições

Começou a campanha eleitoral. Mesmo os políticos mais dissimulados, a esta altura, já tomaram partido, literalmente. Partido e coligação. As contradições afloram.

Na mais flagrante de todas, o candidato criticava abertamente o adversário e dizia que até aceitaria uma aliança com Alfredo Nascimento, desde que este aceitasse ser o vice na chapa dele. O tempo passou e o resultado foi que Serafim Corrêa é que acabou vice.

As contradições são tantas que tem muita gente com vergonha de declarar publicamente os nomes de seus candidatos. E os políticos mais experientes procuram gravitar, de um lado para o outro, mantendo o mínimo de compromisso possível, para ganhar o máximo de voto.

É nesse momento que muitos confundem política com cristianismo. São os que procuram anjos ou arcanjos entre os políticos. É quase impossível encontrar, infelizmente. É a Bíblia, aliás, quem afirma que “não há um (humano) justo, nenhum sequer”. E o Novo Testamento ressalva apenas a figura de Jesus.

O pior desse mundo, porém, é o “apolítico”. O sujeito, julgando-se altamente informado e “politizado”, em flagrante contradição, afirma, com ar superior, que “político nenhum” terá o seu voto.

Eleito, no entanto, o político assume o comando da sociedade. O mesmo eleitor que vira as costas à política vai passar na rua esburacada, xingar o trânsito que não anda, chorar pitangas quando a próxima invasão desvalorizar o terreno que a família guarda há tantos anos e pagar pela urbanização dessa fonte do seu prejuízo.

O “apolítico” também vai pagar os impostos que os políticos cobrarão, para cobrir a folha de pagamento inchada pelo aparelhamento da máquina por seus correligionários – competentes ou não, concursados ou não, prestando serviço bom ou ruim ao distinto público ou não.

O correto, portanto, é defender o seu candidato, de peito aberto, de cara limpa, com todas as contradições que possa ter. É desse processo democrático, em que defeitos e virtudes afloram com o máximo possível de clareza, que emergirá uma sociedade mais limpa, transparente, organizada e capaz. Ninguém precisa vencer, o tempo inteiro, o concurso de “miss simpatia”.

A boa política, hoje, é o equilíbrio das contradições. Mas nada de confundi-las com cinismo, cara-de-pau ou oportunismo. Aí é outra história. Afaste a hipocrisia. Repudie os hipócritas. E busque a virtù em quem tem o melhor espírito público.

A boa política se constrói por dentro. Afinal, se está tão ruim é porque você, que se julga tão bom, está de fora dela.

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Comentários

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  1. ALICE MOSQUERA disse:

    Olha Marcus Santos vc escreve muito e fala muito bem apenas quando quer. Infelizmente a contradição é sua amiga permanente e a hipocrisia sua companheira fiel nos seus textos.
    Contraditorias são suas posições politicas manifestadas pela paixão por uma candidatura posta.
    Hipocrita é sua a sua versão sobre fatos pois seus ataques a adversários daqueles que são sua preferencia, teimam por apequenar sua pena e sua voz.
    Vc ainda pode ser salvo. O problema é a sua dependencia e suas companhias.
    Ainda assim gosto de vc. És um sangue bom.

    RESPOSTA:
    Hipócritas escrevem com nome e sobrenome? Ou serão os que se escondem sob nomes supostos? É claro que tenho preferência. Como profissional disponível no mercado e que sempre trabalhou em rádio, jornal e TV, aliás, estou prestes a fechar trabalho para um candidato. É meu direito. Posso e devo exercer meu direito de escolha. Lutei e luto por isso.
    Vejo se desenvolver um processo que chamo de “neurastenia da conveniência”. Um colega da área de comunicação mandou-me e-mail criticando duramente determinado administrador público. Alguns dias depois, quando assumiu o posto de seu principal assessor, ligou-me dizendo algo do tipo “olhando aqui por dentro vejo que tem muita coisa boa, mas que, infelizmente, não era divulgada”. E, mais algumas semanas, tornou-se um defensor tão ferrenho que fiquei a me perguntar se realmente tinha ouvido as (duríssimas) críticas anteriores.
    O mesmo ocorre com certos políticos. Acham que conseguem dobrar as mentes das pessoas com proselitismo. Quem se rebela e não aceita essa manipulação vira inimigo.
    Não espere, no entanto, um inimigo aberto, direto, frontal. Essa gente escreve com nome suposto. E cala a boca quando alguém bate na mesa e manda calar.