Avaliação do Fórum de Sustentabilidade por Beto Marubo

Beto Marubo, uma das lideranças indígenas da região do Vale do Javari, no Alto Solimões, participou do Fórum Internacional de Sustentabilidade, no Tropical Hotel, este fim de semana. E mandou a seguinte avaliação para o seu mailling:
“Estive presente nas discussões do Forum internacional sobre sustentabilidade na Amazônia. A pesar de ter sido uma participação “presencial”, pois não cheguei a discutir e/ou debater nas reuniões do evento, era o único representante da minha região (o Vale do Javarí) na ocasião; mas ouvi e quero apresentá-los uma síntese pessoal deste evento que, com toda certeza, será uma referência para as discussões posteriores que acontecerão na cidade do México. Como todos já devem ter tido acesso nos meios de comunicação, estavam presentes várias autoridades, ambientalistas, cientistas e empresários regionais, nacionais e internacionais.
É importante ressaltar que o evento tinha como foco principal a discussão dentro de uma visão de negócio, ou seja, sobre o interesse e para o interesse dos empresários, tanto é que foi públicada uma matéria no Jornal A Critica com o título “Quanto vale a Amazônia…”; mas alguns representantes de organizações ambientais tiveram a oportunidade de apresentar as suas preocupações e opiniões sobre o tema, dentre os quais o coordenador em exercício da COIAB, diga-se de passagem uma participação medíocre.
Há uma aparente preocupação no “mundo dos negócios” que os empresários estão tentando viabilizar, um “meio-termo” entre o contexto sócio-econômico, as exigências do mercado e terem de lidar com a questão da proteção e preservação do meio embiente. Porém, existem divergências entre esses segmentos quando o assunto é  ter de se adequarem aos indicadores oficiais ou de encarar o processo de estudos, partindo de dados (informações) que deverão ser coletados pelo “mundo comercial”.
O Governador do Amazonas “vendeu o seu peixe” com o tal “bolsa-floresta” e outros projetos pontuais que vêm sendo financiados pelo Estado; o parente Gecinaldo (nosso Secretário estadual Indígena) teve de dizer aquilo que o Governador queria que dissesse, é claro, (o nosso governador é muito bom e tem ajudado os índio e….blá…blá..blá..) e findou que quem realmente falou a “linguagem” da sociedade foram os representantes das ONgs Greenpeace e SOS Mata Atlântica. Ou seja, uma discussão importante, as intensões foram boas, mas que foram pautadas sem a participação dos principais atores, que são os amazônidas, os índios das aldeias; o fator humano necessário para que qualquer programa e/ou política pública venha a proporcionar os resultados desejados.
É importante que esse movimento surja das bases, que essa discussão venha das origens, ou seja, daqueles que vivem e sofrem nas margens dos rios, nos mais longínquos rincões amazônicos. Caso contrário, seremos adicionados aos dados (na maioria das vezes) maquiados pelo Governo e, o pior de tudo, com o aval das nossas organizações e muitas vezes daqueles que deveriam nos fazer frente nessas discussões. É um tema e uma realidade que exige a participação dos índios e quem não se antecipar a essas dicussões, munidos das devidas informações e argumentos, serão deixados para trás. Digo isso porque as informações a respeito do tema sobre meio ambiente são muito dispersas, tanto é que ainda não foram apresentados ( de forma consolidada) um denominador comun de como mensurar e fiscalizar o tal de crédito de carbono. Sabe-se que existem mecanismos e que esses mesmos mecanismos também são questionáveis, e por aí vai. Há muitas divergências.
É importante destacar o esforço pessoal de Clóvis Marúbo, que no Vale do Javarí é quem vem tentando nortear essa discussão e conscientização das aldeias sobre este assunto. Está sendo muito difícil, até porque não dispomos de recursos financeiros, os próprios parentes ainda não entendem o assunto e precisa ser debatido e discutido aos poucos, numa perspectiva de 3 ou 4 anos, para que estejam inteirados ou pelo menos conscientes disso. Contudo, já é uma sementinha que vem sendo plantada, é o início de um movimento lá na nossa região.
Convoco aos parentes que têm acesso a este grupo de discussão que façam o mesmo, provoquem essas dicussões nas reuniões de suas aldeias, nas assembléias… É um tema novo, mas, se parerem para perceber, convivemos com isso no nosso dia-a-dia. Um cientistas francês lá da Europa se diz expert em meio ambiente, por que nós não podemos discutir e debater e trazer aos “representantes” sobre as nossas demandas e realidades?
Se não tomarmos a frente dessas dicussões, posso garantir que alguém vai fazer isso por nós. E, na maioria das vezes, é alguém que nunca nos ouviu, num sabe nem o que é viver no mato, não sofre e nem vem sofrendo com as limitações e o esquecimento das nossas regiões, ou quando sabe, serve de papagaio nos ombros dos piratas…Façamos com que não se tornemos mais um número oficial, nos quais geralmente “…tudo está bom….está maravilhoso…”
Beto Marúbo
Vale do Javarí”
Veja também
Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. José Garrido disse:

    Estou de pleno acordo com o seu posicionamento e deixo aqui uma angústia com tudo o que leio e ouço sobre certas inverdades que são noticiadas, quando a realidade do povo da amazônia é outra, não é só o bolsa floresta, mas existem outros projetos pontuais, e porque não dizer eleitoreiros, financiados pelo próprio Governo, ou seja com o dinheiro do povo, como Regularização fundiária em terras da Amazônia, Projeto Nossa Varzea e Regularização de terras às margens dos rios, sem que o povo tenha condições de arcar com a regularização de suas terras futuramente. E cadê emprego?