
Foto: Nara Mattos
Diante de um desafio recorrente das mulheres indígenas Huni Kuin – a dificuldade de escoamento de suas artes e o desestímulo à produção pelas novas gerações – nasce o Projeto Casa Ainbu Daya, realizado com patrocínio do Banco da Amazônia, no Jordão, Acre. “Esse é um projeto muito importante para que as mulheres possam estar unidas, trocando experiências, fortalecendo este trabalho”, disse Batani Huni Kuin, indígena e vice-presidente do Projeto Casa Ainbu Daya.
A ação recebe apoio do programa Rouanet Norte e estimula a autonomia econômica, preservação da cultura e fortalecimento das mulheres por meio da arte, formação e valorização dos saberes tradicionais Huni Kuin, reconhecidos como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2025. “O projeto está promovendo a união entre as mulheres, para que as mais jovens possam aprender e as mais velhas possam ensinar essa produção de cestaria, tecelagem, cultivo e produção do fio do algodão, o tingimento natural e muitas outras trocas de saberes”, relata Batani Huni Kuin.
Inaugurada em junho de 2025, a Casa Ainbu Daya foi alugada por seis meses e será ateliê e sede para as ações do Instituto Ainbu Daya. Durante este tempo, 44 mestras artesãs, guardiãs dos saberes tradicionais Huni Kuin, receberão bolsas mensais no valor mensal de R$ 96 mil, como incentivo para que continuem produzindo, ensinando e fortalecendo tradições através de seu trabalho artístico e cultural.
“Aqui nas aldeias algumas mulheres não falam tão bem o português e muitas vezes não acreditam que a sua produção das artes seja importante, pois é difícil vender e ter retorno. Essa ajuda financeira também é essencial para que as mulheres de diferentes aldeias possam se encontrar e para que possam transportar as artes, pois os custos são muito altos para transporte”, disse Batani Huni Kuin.
O projeto também contempla seis meses de oficinas on-line, com temas como: Gestão e Empreendedorismo, Finanças Básicas, Cadastro de Artesã/MEI, Informática Básica, Mídias Sociais e Desenvolvimento Criativo.
Kenê Kuĩ: patrimônio vivo, linguagem ancestral
No ano em que a Política de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial completa 25 anos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu o Kene Kuĩ – conjunto de saberes e técnicas envolvidos na produção dos grafismos do povo Huni Kuĩ, originário da Amazônia Ocidental – como patrimônio cultural do Brasil.
Os grafismos dos Kene possuem uma estética que equilibra simetria e assimetria, figura e fundo, e utiliza padrões geométricos elaborados que narram histórias e refletem uma cosmologia rica e complexa. Tradicionalmente, a produção do Kene é realizada majoritariamente por mulheres, que desempenham o papel de “aïbu keneya” (mestras do desenho), transmitindo os saberes por meio de práticas orais, cânticos e rituais. O aprendizado dos Kene inclui também a observação e a relação com os “yuxibu” (seres da floresta), que inspiram e guiam a criação gráfica.
Instituto Ainbu Daya: Mulheres Tecendo o Futuro
O Instituto Ainbu Daya é uma organização indígena que nasce da força ancestral e do sonho coletivo das mulheres dos três territórios Huni Kuin do Jordão: Alto Jordão, Baixo Jordão e Seringal Independência. Promove o protagonismo feminino dentro e fora das aldeias, com foco na transmissão de saberes, geração de renda e fortalecimento cultural.
Casa Ainbu Daya
A realização deste projeto é uma conquista pelo programa Rouanet Norte, com o patrocínio do Banco da Amazônia, parceria do Banco do Brasil, Caixa e Correios, com realização do Ministério da Cultura e Governo Federal.
O projeto está em sintonia com os princípios da Agenda 2030 da ONU e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), evidenciando o protagonismo indígena na preservação e regeneração da floresta amazônica.
Agência Gov
Deixe um comentário