
Presidente ressalta importância estratégica da proposta, que agregaria uma população de 722 milhões de pessoas e um PIB em torno de 22 trilhões de dólares (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Durante entrevista coletiva concedida neste sábado (7/6) em Paris, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a destacar a importância da conclusão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Em tom enfático, Lula classificou o tratado como “o acordo mais excepcional já feito neste começo de século e uma resposta ao unilateralismo”. Segundo ele, o multilateralismo precisa prevalecer como base para o desenvolvimento global, assim como ocorreu após a Segunda Guerra Mundial.
O tema foi um dos principais pontos da agenda da visita de Estado do presidente brasileiro à França. Lula afirmou que o Brasil está pronto para avançar nas negociações e ressaltou a importância de superar as resistências dentro do bloco europeu, especialmente da França. “Eu disse ao Macron: abra o seu coração para o Brasil e vamos assinar esse acordo”, relatou o presidente, em tom bem-humorado.
A resistência do governo francês tem como base, principalmente, preocupações com a competitividade de seus produtores rurais frente ao agronegócio brasileiro. Lula buscou desfazer essa tensão ao destacar os pontos de complementaridade entre os dois países no setor agrícola. “A nossa agricultura pequena e média, possivelmente, tenha complementaridade com a francesa. Longe de mim querer prejudicar o pequeno agricultor francês”, disse.
O presidente também comparou a relação comercial entre os blocos a uma via de mão dupla. “Eu não quero que a gente pare de comprar vinho da França, embora a gente produza vinho. Não quero deixar de comprar champanhe da França, embora a gente produza. Não quero deixar de comprar queijo francês, embora a gente produza também. A política comercial é uma via de duas mãos. A gente vende, a gente compra.”
Lula destacou que o Mercosul e a União Europeia juntos reúnem uma população de 722 milhões de habitantes e somam um PIB de 22 trilhões de dólares. O Brasil, por sua vez, conta com quase seis milhões de pequenas propriedades rurais de até 100 hectares e mais de 2,5 milhões de produtores com propriedades de até 10 hectares — uma base que, segundo ele, não faz parte do agronegócio tradicional.
Embora o texto final do acordo tenha sido concluído em dezembro de 2024, durante a Cúpula do Mercosul em Montevidéu, a ratificação pelos países-membros ainda está pendente. Lula manifestou o desejo de que o tratado avance com apoio unânime. “Eu não quero que seja um acordo em que as pessoas fiquem de cara feia. Nós vamos continuar conversando com a França, porque a França é um bom parceiro político, econômico, cultural e histórico.”
O presidente brasileiro se mostrou otimista quanto à possibilidade de assinatura do tratado durante sua gestão à frente do bloco sul-americano, que começa em julho. “Estou convencido de que até eu deixar a Presidência do Mercosul vamos ter esse acordo assinado com todo mundo sorrindo.”
Por fim, Lula mencionou um próximo encontro com Macron durante a COP30, no Brasil, como uma nova oportunidade de aproximação. “Eu vou encontrar com o Macron na COP30 e penso que lá, quando ele estiver embaixo de uma árvore de 30 metros, quando perceber a beleza da floresta, ele vai fazer o acordo.”
A União Europeia é atualmente o segundo principal parceiro comercial do Brasil, com uma corrente de comércio de 92 bilhões de dólares em 2023. A expectativa é de que o tratado, além de ampliar o acesso a mercados, atraia investimentos e estimule a modernização da indústria brasileira.
Agência Gov
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