
Lula fala sobre comércio com a Rússia: ‘Não podemos perder oportunidades’
Em entrevista ao fim da agenda de compromissos na Rússia neste sábado, 10 de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou que uma das intenções das conversas bilaterais com o presidente russo, Vladimir Putin, foi trabalhar para equilibrar o déficit comercial entre as duas nações e de gerar oportunidades para o Brasil em setores como a transição energética e área de minerais críticos.
“Nós temos uma relação comercial deficitária aqui na Rússia. No fluxo de praticamente 12 bilhões de dólares anuais, nós temos quase 11 bilhões de déficit comercial. A minha vinda aqui foi para discutir comércio, para tentar equilibrar, porque trabalhamos com a ideia de que uma boa política comercial é uma via de duas mãos. A gente compra e a gente vende mais ou menos na mesma proporção para que ninguém seja prejudicado”, afirmou Lula.
Parcerias
Lula lembrou que a Rússia é um parceiro importante na questão de óleo e gás e em pequenos reatores nucleares, “uma novidade extraordinária para que a gente possa ter energia garantida para todo o sempre”, definiu o presidente. “Sabemos que em um país que quer ser a sétima, a sexta, a quinta economia do mundo, vai precisar de ter muita energia e garantia de que nunca vai faltar”, disse, lembrando que o sistema brasileiro de distribuição energética já está quase 100% integrado.
“A minha vinda aqui foi para discutir comércio, para tentar equilibrar, porque trabalhamos com a ideia de que uma boa política comercial é uma via de duas mãos. A gente compra e a gente vende mais ou menos na mesma proporção para que ninguém seja prejudicado”.
Comércio internacional
Para ampliar os canais de comércio, o presidente levou na comitiva ministros conectados ao setor de energia e ciência e tecnologia, retomou na conversa com os russos canais para instâncias de conversa em alto nível entre as duas nações e acordou a vinda de empresários e representantes russos para o Brasil nos próximos meses.
Um dos focos no horizonte é a pesquisa e exploração dos chamados minerais críticos, como lítio, cobalto, níquel, grafite, e elementos das terras raras, essenciais para setores estratégicos, como tecnologia, defesa e transição energética.
“Nós temos a ideia de aumentar a nossa pesquisa e exploração de minerais críticos, porque só se fala nisso agora e achamos que o Brasil não pode jogar fora nenhuma oportunidade. A oportunidade da transição energética, dessa transição climática, desses minérios críticos, porque apenas 30% do nosso território já foi pesquisado, ainda falta muita coisa para pesquisar e nós queremos construir parceria com todos os países do mundo que têm expertise, para que a gente possa tirar proveito e para que o Brasil se transforme numa grande economia”, definiu Lula.
Balança comercial
Em 2024, o comércio bilateral entre Brasil e Rússia atingiu recorde histórico, de US$ 12,4 bilhões (aumento de 9% em relação a 2023). Foram US$ 1,4 bilhão de exportações (aumento de 8% em relação a 2023) e US$ 11 bilhões de importações brasileiras (aumento de 9%). Atualmente, as exportações brasileiras se concentram em soja (33%), café não torrado (18%) e carne bovina (18%). As importações envolvem óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (57%) e adubos e fertilizantes químicos (34%).
Paz entre Rússia e Ucrânia
O presidente brasileiro também falou sobre as tratativas de construir a paz entre Rússia e Ucrânia. “Vocês poderão perguntar: vocês discutiram a questão da guerra da Ucrânia? Discuti antes, durante e depois, porque dissemos ao presidente Putin aquilo que a gente vem dizendo desde que começou a guerra: a posição do Brasil é contra a ocupação territorial do outro país. O Brasil integra um grupo de países que, junto com a China, criou um grupo de amigos e eu disse ao presidente Putin que estamos dispostos a ajudar na negociação, desde que os dois países que se enfrentam queiram que a gente possa participar”.
Guerras
Para o presidente, além das perdas de vidas e estruturas materiais importantes nos países, as guerras fazem com que os países conectados e aliados invistam trilhões em defesa e armamentos e deixem de focar no que é efetivamente mais importante para a humanidade.
“O Brasil acha uma loucura ficar incentivando guerra, a Europa estar voltando a se armar, a Inglaterra estar voltando a se armar. Estamos gastando trilhões de dólares com armas, quando o mundo precisa que a gente gaste trilhões com educação, saúde e comida para o povo que está passando fome. É esse mundo que a gente quer construir”, disse Lula, que também fez uma referência à importância simbólica do evento dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, que acompanhou em Moscou.
Aliados x tarifações
“Esse é um país que, de todos os que participaram com os Aliados, foi o que mais perdeu gente. Perdeu praticamente 26 milhões de pessoas. Chegou num momento em que a população, a juventude, praticamente estava dizimada pela Segunda Guerra Mundial. Eu vim ver porque é uma festa importante. Precisamos ter consciência de que a gente não pode nunca mais permitir, sabe, que coisas como o nazismo voltem a acontecer no planeta Terra”.
Outra perspectiva enfatizada pelo presidente foi a de defender o multilateralismo e o livre-comércio, diante de um momento em que protecionismos e tarifações ocupam os horizontes geopolíticos.
“Fiz questão de vir aqui para dizer que o Brasil está defendendo o fortalecimento do multilateralismo. Não é possível que a gente não tenha aprendido uma lição com a importância do que foi o multilateralismo depois da Segunda Guerra. Ele humanizou o comércio entre os países. Querer voltar à teoria do protecionismo não interessa a ninguém, a não ser quem propôs a ideia, porque o que nós queremos é um comércio mais flexível, justo, em que a gente possa, inclusive, fazer políticas de favorecimento dos países mais pobres”, argumentou Lula.
ONU
Nesse contexto, para o presidente, é essencial renovar e fortalecer instituições multilaterais, como a Organização das Nações Unidas, na intenção de que seja mais capaz de refletir o mundo atual.
“É por isso que o Brasil continua defendendo a renovação do Conselho de Segurança da ONU com a entrada de novos países. É por isso que o Brasil quer participar como membro permanente. É por isso que o Brasil acha que a Índia tem que estar presente, a Alemanha tem que estar presente, o Japão tem que estar presente, vários países africanos têm que estar presentes. Para que a gente possa dar força à existência da ONU. Vamos continuar querendo a paz e vamos continuar conversando com todas as pessoas que queiram conversar”.
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