Como trancar cardeais em uma sala ficou conhecido como conclave
Roma nem sempre foi a sede do poder do papado. Durante dois períodos notáveis da história da Igreja, papas viveram fora de Roma e serviram como sucessores de São Pedro, longe da Cidade Eterna.
Século XIV
Você já deve ter ouvido falar do Papado de Avignon, um período de 68 anos no século XIV, quando os pontífices residiam em Avignon, França, após um conflito entre o papado e o monarca francês.
Mas, talvez um período menos conhecido e potencialmente mais significativo foi o breve período em que uma pequena cidade a apenas 90 minutos ao norte de Roma se tornou não apenas a residência de nove papas, mas também o berço do conclave como o conhecemos hoje.
Mas por que a cidade de Viterbo era sequer uma opção como sede do poder papal?
Norte de Roma
Roma no século XIII era muito diferente do que vemos hoje. Era repleta de violência e divisão. Duas famílias – os Guelfos e os Gibelinos – governavam e disputavam a autoridade para nomear bispos e abades. Uma acreditava que o governante secular detinha o poder, enquanto a outra defendia a autoridade papal.
Como resultado, a cidade de Roma foi tomada por conflitos. Foi considerada insegura e o Papa Alexandre IV decidiu transferir a sede papal para Viterbo.
A pequena cidade tinha uma série de vantagens: sua proximidade com Roma, seus laços com a família Guelfa e sua muralha circular de quatro quilômetros e meio. Para os cristãos, Viterbo era significativa por estar localizada ao longo da importante rota de peregrinação chamada Via Francigena.
Com todas essas forças, em 1257, Roma foi abandonada como residência dos Papas e Viterbo foi adotada.
Como eleger um Papa… antigamente
Durante 24 anos – de 1257 a 1281 – o Palácio dos Papas em Viterbo foi a residência dos pontífices. Foi lá que nove homens foram escolhidos para chefiar a Igreja Católica. No entanto, até 1268, o processo eleitoral era muito diferente do atual, que é muito mais claramente definido e rigoroso.
Historiadores e canonistas geralmente sustentam que, até o século XIII , o papel papal era exercido como qualquer outra diocese, o que significa que a eleição de um novo Papa era feita por bispos vizinhos, clérigos e fiéis de Roma. Outros argumentam que foi somente no século IV, após o Papa Silvestre I, que os leigos foram incluídos no processo eleitoral. Às vezes, imperadores e monarcas europeus nomeavam um sucessor.
No entanto, a ideia do conclave só foi formada após a morte do Papa Clemente IV, marcando uma mudança drástica na forma como os pontífices eram eleitos.
Tranque-os até que decidam
Em 1268, a Igreja enfrentava uma sede vacante (uma sé vaga) e a eleição de um novo Papa. Naquela ocasião, 19 dos 20 cardeais eleitores viajaram a Viterbo para participar da escolha de um sucessor. Ninguém sabia que essa eleição se tornaria o conclave mais longo da história da Igreja.
Após um ano sem a escolha de um novo Papa, os cidadãos de Viterbo tomaram a iniciativa. Na tentativa de pressionar os cardeais a tomarem uma decisão, eles, juntamente com o capitão do povo, Raniero Gatti, trancaram os cardeais no Palácio dos Papas com uma chave ou “cum clave”, em latim, de onde deriva a palavra conclave. Os cardeais, trancados por fora, também ficaram limitados a pão e água.
Finalmente, em setembro de 1271, depois de mais de três anos sem um pontífice, o Papa Gregório X foi eleito.
Lições aprendidas
Após a experiência em Viterbo, alguns cardeais perceberam que o longo e não oficial processo de eleição de Papas estava ultrapassado. O pontífice recém-eleito, Gregório X, publicou uma Constituição Apostólica, Ubi periculum , com regras concretas para a seleção de um novo Papa. Essa constituição apostólica continua sendo a base do processo moderno que a Igreja ainda utiliza hoje.
Com isso, Viterbo – também chamada de Cidade dos Papas e local da mais longa eleição papal da história – tornou-se o berço do conclave.
Por Marcos Santos
Deixe um comentário