
ENTREVISTA Glenio Seixas, na foto, à esquerda da advogada Maria Benigno, na posse como juíza jurista substituta no TRE-AM, com o sucessor, Darlan Taveira (direita). Foto: Divulgação
O ex-prefeito de Barreirinha, Glenio Seixas, deixou a Prefeitura, após oito anos de mandato, com importante acréscimo no currículo: impediu que a pandemia de Covid-19 chegasse aos sateré-mawé do rio Andirá, o maior núcleo populacional desse povo. Darlan Taveira, o prefeito atual, veio de seu grupo político, numa vitória relativamente tranquila.
Glenio, que foi vereador no Município, aos 42 anos é o sucessor de família tradicional na política de Barreirinha. O pai é o ex-prefeito Gilvan Seixas, defensor público aposentado, ex-secretário municipal de Economia e Finanças e ex-chefe da Procuradoria Geral do Município (PGM) de Manaus. Os avós são o ex-deputado estadual Raimundo Andrade Seixas, falecido, e a ex-vereadora Maria de Nazaré de Aquino Seixas.
Barreirinha é um Município pequeno, mas carregado de cultura e tradição. Além de abrigar a maior parte da Nação Sataré-Mawé é a terra do falecido poeta Thiago de Melo. Nesta entrevista Glenio Seixas EXCLUSIVA ao Portal do Marcos Santos, ele revela as peculiaridades de dirigir uma Prefeitura assim. Veja, a seguir, a íntegra da entrevista:
Portal do Marcos Santos – A Prefeitura de Barreirinha agora está sob o comando do Darlan Taveira. Como é a relação de vocês?
Glenio Seixas – Com o Darlan? A melhor possível. Fizemos uma campanha bonita, com os percalços que você conhece, de uma Barreirinha com tantos distritos e comunidades importantes, mas sem problemas, no sentido eleitoral. Graças a Deus, regando a semente plantada pelo meu pai, o ex-prefeito Gilvan Seixas, e meu avô, Raimundinho Seixas, fizemos uma gestão que mostrou os frutos na eleição do Darlan.
“Fizemos uma campanha bonita, com os percalços que você conhece, de uma Barreirinha com tantos distritos e comunidades importantes, mas sem problemas, no sentido eleitoral.”
pms.am – O que a população pode esperar do novo prefeito?
Glenio – O Darlan é um sujeito organizado e executivo. É aquele que quando tem um projeto vai lá, luta, faz o que for necessário e executa. Esperamos quatro anos de tranquilidade administrativa e a manutenção do desenvolvimento da vida na Terra das Arirambas.
pms.am – Como é administrar Barreirinha?
Glenio – O Amazonas tem essa peculiaridade de uma capital gigantesca, com mais de 2 milhões de habitantes, com a população interiorana pulverizada em outros 61 Municípios. Estamos chegando perto dos 50 mil habitantes, embora o Censo do IBGE de 2022 nos tenha dado pouco mais de 31 mil. É um Município pequeno, com orçamento limitado, dependente dos repasses do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), da União, e do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), do Estado. Quando há um atraso nisso, a folha fica comprometida e vira um corre-corre danado. É aí que reside a criatividade e o trabalho do prefeito, na busca de alternativas que aliviem essa dependência. Pense comigo: se a folha de funcionalismo depende tanto dos repasses, federal e estadual, imagine o que sobra para a execução de obras de infraestrutura? A Prefeitura é como uma bicicleta, o prefeito precisa mantê-la andando, em busca de recursos extras, porque, se parar de pedalar, ela cai.
“Pense comigo: se a folha de funcionalismo depende tanto dos repasses, federal e estadual, imagine o que sobra para a execução de obras de infraestrutura?”
pms.am – Quais obras de infraestrutura o senhor conseguiu realizar, apesar dessa limitação de recursos?
Glenio – O levantamento do greide, a altura das ruas, da sede municipal é uma delas. Barreirinha sofre com as cheias do Paraná do Ramos e nem precisa ser cheia muito grande não. Então, desde a gestão do prefeito Gilvan, a gente vem trabalhando para mexer nessa realidade. Fizemos muro de arrimo e erguemos o greide, com material retirado do próprio paraná, para perenização do porto. Foi uma solução criativa e que deu muito certo. Fora isso, as comunidades rurais tiveram uma presença constante nossa, principalmente na área indígena, que é carente e tem toda a implicação do resgate do passivo histórico de todos nós, não-indígenas, para com esses povos.
“Fizemos muro de arrimo e erguemos o greide, com material retirado do próprio paraná, para perenização do porto.”
pms.am – Vamos abordar a questão indígena, mas queria antes que o senhor explicasse de onde vêm os recursos extras para realização de obras?
Glenio – Do patrimônio político que nós conquistamos. O senador Omar Aziz foi um grande parceiro. Da mesma forma, o senador Eduardo Braga, o deputado federal Átila Lins e deputados estaduais, como é o caso do presidente da Assembleia Legislativa, Roberto Cidade. As emendas parlamentares foram fundamentais em nossa gestão. Sem contar o governador Wilson Lima, também muito presente em Barreirinha.
“O senador Omar Aziz foi um grande parceiro. Da mesma forma, o senador Eduardo Braga, o deputado federal Átila Lins e deputados estaduais, como é o caso do presidente da Assembleia Legislativa, Roberto Cidade. Sem contar o governador Wilson Lima, também muito presente em Barreirinha.”
pms.am – Como é dirigir a Prefeitura que tem a gestão territorial da famosa Nação Sataré Mawé, embora todos sempre pensem que eles moram em Maués?
Glenio Seixas – A maior parte deles, na verdade, mora em Barreirinha, na região do rio Andirá. Temos uma excelente convivência. No período da Covid-19, que foi terrível, em todo o planeta, conseguimos isolar os sateré, criando barreiras que impediram a chegada de não-indígenas até eles. Só iam até lá onde eles moram, em períodos determinados, os barcos levando cestas básicas, medicamentos etc., com tripulação devidamente vacinada e exame médico em dia. Foi um sucesso esse trabalho, com os riscos que todos devem imaginar. Mas deu certo. Outro problema deles é a água. Alguns moram nas cabeceiras do rio, onde essas secas recordes, dois anos seguidos, foram ainda mais duras. Nesse período, eles precisam caminhar quilômetros para buscar água potável ou, caso não se disponham a isso, tomam lama. Construímos uma estrutura de poços artesianos para ajudá-los a enfrentar essas vazantes históricas.
“No período da Covid-19, que foi terrível, em todo o planeta, conseguimos isolar os sateré, criando barreiras que impediram a chegada de não-indígenas até eles.”
pms.am – O que ficou faltando fazer?
Glenio – Muita coisa. Barreirinha é uma terra de oportunidades. Temos uma região onde mana o babaçu e ainda não conseguimos explorar essa riqueza. É preciso perenizar o Furo do Pucu, que liga o paraná do Ramos ao rio Andirá. No período de seca, quando essa passagem fica na terra, os índios e demais comunitários do Andirá precisam navegar nove horas para chegar à sede. Não é nada que a engenharia não tenha feito em outros lugares. Mas ainda não conseguimos os recursos necessários para a dragagem, que chegou a ser iniciada e nunca foi concluída, e urbanização das margens. Vejo ali um espaço de expansão da sede municipal, embora seja várzea pura, necessitando de estruturação de muro de arrimo e arruamento. Vamos procurar ajudar o Darlan a enfrentar esse problema.
“Temos uma região onde mana o babaçu e ainda não conseguimos explorar essa riqueza. É preciso perenizar o Furo do Pucu, que liga o paraná do Ramos ao rio Andirá.”
pms.am – É uma obra grande…
Glenio – Rio é estrada, no Amazonas, mas também tem muito tabu em torno dele. Os franceses dominaram as marés que entram no rio Sena, com eclusas, a ponto de construírem praias, no verão, e transformá-lo em atração turística. Os ingleses urbanizaram o rio Tâmisa, na passagem por Londres e Oxford. Aqui, quando a gente fala em urbanizar o Furo do Pucu, criando áreas de lazer, pista de caminhada e ciclismo, anfiteatro etc., há muita dificuldade na obtenção de recursos. Não desistimos, de forma nenhuma, de tocar esse projeto, que virou uma espécie de desafio do nosso grupo político.
pms.am – Qual o futuro político de Glênio Seixas?
Glênio – No momento, o meu grande projeto é ajudar o Darlan, ficando à disposição dele, no que for necessário. Tenho visitado meus amigos prefeitos de vários Municípios. Fui a Parintins, Maués, Boa Vista do Ramos. Senti a necessidade de um interlocutor, entre o prefeito e a bancada parlamentar do Amazonas, assim como o Governo do Estado. Tenho oferecido minha ajuda, nesse sentido, para preencher essa lacuna. Em 2026, ano de eleição para deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente da República, vamos analisar com nosso grupo e tomar a melhor decisão.
“Senti a necessidade de um interlocutor, entre o prefeito e a bancada parlamentar do Amazonas, assim como o Governo do Estado. Tenho oferecido minha ajuda, nesse sentido, para preencher essa lacuna.”
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