Inverno amazônico: Norte enfrenta chuvas intensas enquanto resto do Brasíl tem o verão

Inverno amazônico: Norte enfrenta chuvas intensas enquanto resto do Brasíl tem o verão

Enquanto o Brasil está mais aquecido com o verão e com as praias cheias, o Norte vive o chamado “inverno amazônico”, uma temporada de chuvas intensas que altera o clima da região e causa impactos no cotidiano e no meio ambiente.

O fenômeno intensifica as chuvas na região, contribuindo para a cheia dos rios, que em 2023 e 2024 enfrentaram secas extremas na Amazônia.

Além disso, a elevação da umidade do ar causa um aumento nas doenças respiratórias. Na última quinta-feira (2/1), mais de 5 mil pessoas procuraram unidades de saúde em Manaus devido ao aumento de casos de síndromes gripais leves, associadas ao período de chuvas intensas, segundo a Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM).

Zona de Convergência

A Região Norte ainda é afetada pela Zona de Convergência do Atlântico Sul, ou na forma abreviada, ZCAS (pronuncia-se zacas), caracterizada por uma larga e prolongada zona de convergência de umidade sobre o Brasil, que gera grandes áreas de chuva sobre parte do país, por vários dias consecutivos.

A ZCAS é responsável por um período prolongado de chuva frequente e volumosa sobre parte das Regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e até em parte do Nordeste. A influência sobre estados da Região Sul é pouco usual, mas pode ocorrer.

Mais chuvoso

Em muitas áreas destas regiões, o elevado volume de chuva produzido durante um episódio da ZCAS pode representar grande parte da chuva do trimestre mais chuvoso do ano.

Quando a ZCAS se forma, uma extensa faixa de nuvens carregadas persiste sobre o Brasil por vários dias consecutivos, cruzando o país sobre parte da Região Norte, do Centro-Oeste e do Sudeste ou até do Nordeste.

Fatores

A meteorologista Andrea Ramos explica que o fenômeno, presente em todos os estados da Região Norte — Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins — é resultado de uma combinação de diversos fatores:

A ausência de estações bem definidas na Região Norte;

A oscilação de uma faixa de nebulosidade sobre a linha do Equador;

O transporte de umidade do Atlântico Norte;

E, por fim, especificamente neste ano, o fenômeno La Niña.

“Ao contrário do restante do país, onde as estações são mais bem definidas, na Região Norte não é possível perceber essa divisão. Lá, temos o período chuvoso — o inverno amazônico — e o período menos chuvoso, conhecido como verão. O período de chuvas vai de outubro a março”, explicou.

La Niña

Sobre o La Niña — que se refere ao resfriamento da faixa Equatorial Central e Centro-Leste do Oceano Pacífico —, Andrea acredita que, apesar de ser um fenômeno importante, ele terá pouca influência na Região Norte este ano.

“Não estamos observando algo muito acentuado. O fenômeno deve atingir seu pico entre janeiro e fevereiro, mas não será algo significativo. As chuvas que ocorrem neste período na Amazônia são originadas dessa faixa de nebulosidade que fica sob a Linha do Equador e avança, em determinados momentos do ano, para a América Central e, durante este período, para a Região Norte do Brasil. Esse avanço é acompanhado também pela umidade vinda do Atlântico”, explicou.

Região Norte

Isso, no entanto, não significa que a Região Norte não enfrente altas temperaturas durante o período chuvoso.

“A chuva segue dentro do padrão, mas ocorre em grandes volumes, podendo chover em dois ou três dias o que seria esperado para um mês inteiro. Além disso, temos o calor excessivo e a umidade trazida por esses fenômenos”, explicou Andrea Ramos.

Mas o inverno amazônico não é o único fator que faz o clima da Região Norte ser diferente do restante do país.

Inverno e verão

Isso ocorre porque, enquanto as outras regiões do país vivenciam o inverno entre junho e setembro, os nortistas enfrentam o auge do calor no “verão amazônico”, com temperaturas que podem ultrapassar os 35ºC e a sensação térmica chegar a 40ºC. 

“A umidade presente na Amazônia influencia as chuvas em todo o país, pois transporta essa umidade, que, associada ao calor, favorece as precipitações. Embora as frentes frias afetem as regiões Sul e Sudeste, são os rios atmosféricos que saem da Amazônia e se dirigem para o restante do país que têm um impacto significativo. A Amazônia desempenha um papel crucial no transporte da umidade para outras regiões”, explicou a meteorologista.

Alerta

Cumprindo o padrão do inverno amazônico, os estados do Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Tocantins e parte do Amazonas estão em alerta para chuvas intensas neste fim de semana. Apenas Roraima deve registrar tempo firme, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A previsão indica que a região pode enfrentar chuvas de 20 a 30 milímetros por hora, com uma média de 50 milímetros por dia. Além disso, há risco de corte de energia elétrica, queda de galhos, alagamentos e descargas elétricas.

O alerta também abrange os estados do Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e o Distrito Federal.

Orientações

O Inmet orienta que, em caso de rajadas de vento, as pessoas não se abriguem debaixo de árvores, devido ao risco de queda e descargas elétricas, e evitem estacionar veículos próximos a torres de transmissão e placas de propaganda.

Também é recomendado não utilizar aparelhos eletrônicos ligados à tomada e acionar a Defesa Civil ou o Corpo de Bombeiros caso surjam problemas devido à tempestade.

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