
Filme “O Poema” será exibido no Sinttel e no Cineteatro Guarany. Fotos: Divulgação
Escrito nos anos 1980, “O Poema”, de Regina Melo se transformou numa obra de audiovisual, que será apresentada neste mês em Manaus. O filme é uma alegoria sobre os impactos psicológicos causados pelo medo, repressão e violência vividos no período ditatorial do país.
Com 25 minutos de duração, em P&B (preto e branco), com detalhes em cor, “O Poema” foi produzido e gravado no centro histórico de Manaus, com recursos da Lei Paulo Gustavo/2023, em edital do Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
O filme será exibido nos dias 25 de outubro, às 19h30, no Sinttel (rua Alexandre Amorim, em frente à Igreja de Aparecida, bairro Aparecida); 26 de outubro, às 19h, no Cineteatro Guarany (Vila Ninita, avenida Sete de Setembro, Centro de Manaus), e 9 de novembro novamente no Sinttel. A entrada é gratuita em todas as exibições.
No gênero ficção, a roteirista e diretora utiliza de alegoria para retratar de forma subjetiva os conturbados acontecimentos sociais que sacudiram o país durante o regime militar e que culminou com o processo de abertura política no início dos anos 1980.
“O Poema” mostra um homem que não consegue sair de casa, preso a objetos que recolheu ao longo do tempo. Cada gaveta que abre simboliza uma camada de sua vida: traços da sua personalidade, suas lembranças, sua história. Até que uma presença misteriosa o seduz às ruas, onde o seu passado se desnuda e ele enfrenta as camadas do que o aprisionam.
Com classificação para 14 anos, Regina Melo pretende, com o filme, reacender na juventude o interesse sobre o tema histórico e político, como forma de proteger a nossa democracia, que tem sido constantemente ameaçada por golpes de Estado e por oportunistas de ocasião.

Roteirista e diretora Regina Melo. Foto: Divulgação
“’O Poema’ é um pouco dessa época de silêncio”, diz Regina Melo. “É uma alegoria, cheia de signos e metáforas que, numa linguagem subjetiva, conta sobre os sentimentos de quem passa direta ou indiretamente pelas dores da repressão, da tortura, da ditadura.
“Filha do silêncio”
O regime militar durou mais de duas décadas (1964-1985) com governos autoritários que consolidaram a ditadura, através de inúmeros atos institucionais (17, ao todo). O pior de todos, o AI-5, fechou o Congresso Nacional em 13 de dezembro de 1968 por dez meses, cassou mandatos parlamentares, estabeleceu censura prévia da imprensa, cinema, teatro, televisão e músicas.
Regina Melo se intitula “filha do silêncio”. Nasceu em 1959 e passou toda a sua infância sem entender o que se passava no país. Só na adolescência e, posteriormente, na Universidade, foi sentindo os impactos do golpe militar na sua geração. Foi tomando conhecimento do Brasil “ame-o ou deixe-o”, do Governo Médici, que percebeu que o “eu te amo, meu Brasil”, nas praias ensolaradas, escondiam os crimes que o regime militar praticava nas casas de tortura, quartéis e prisões.
Regina Melo, intuitiva, cantava “Irene” (“eu quero ir, minha gente, eu não sou daqui”), de Tom Zé; depois, “Cálice”, de Chico Buarque (“pai, afasta de mim esse cale-se”) e foi assimilando o que se passava no país: perseguições, repressões, prisões, torturas e assassinatos. Daí, com “O bêbado e o equilibrista” (“que sonha com a volta do irmão do Henfil”), foi juntando as peças: muitos cidadãos brasileiros tiveram que deixar o país.
A prisão de Caetano Veloso, Marília Pera e Gilberto Gil. O exílio de Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Raul Seixas, Geraldo Vandré e dos diretores de teatro Augusto Boal e Zé Celso; o assassinato do diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, depois fotografado enforcado, simulando um suicídio são flashes inspiradores de “O Poema”.
Regina Melo fala, ainda, que os atentados terroristas em bancas de jornais em 1979 e 1980 e a bomba no Riocentro, em 1981, foram estopins que culminaram com os versos de “O Poema”. “Nessa época, os militares anunciavam uma abertura política lenta, gradual e segura, mas relutavam em abrir o regime, daí os vários atentados terroristas, como os que aconteceram em redações e bancas de jornais”.
Roteirista e diretora
Regina Melo é escritora, poeta, compositora e produtora de audiovisual. Autora dos romances “Ykamiabas, filhas da lua, mulheres da Terra”, “Oceano primeiro, mar de leite, rio da criação” e “A fênix e o dragão, paixão e eterno retorno”. Venceu festivais de música em Manaus e São Paulo, escreveu livros de poesia: “Pariência”, “Estação do Nada”, “O Poema” e “Mais uma vez, Poesia”.
Seu livro “Ykamiabas” foi tema da Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha, em 2010, e é referência em estudos feministas e antropológicos. Foi uma das contempladas no edital Carmen Santos Cinema de Mulheres em 2013, com o filme “Os anseios das cunhãs” e uma das selecionadas no Edital Ruth de Souza, em 2023 para produzir o longa-metragem “Ykamiabas”. Amazonense, de Manaus, se divide entre Natal (RN) e Manaus.

Divulgação
Deixe um comentário