
Guitarra amplifica o som da toada, traz energia e inovação na musicalidade dos bois de Parintins
A toada é o ritmo que dá o tom à emoção de dançar o boi-bumbá e sua melodia marca os passos do dois-pra lá e dois pra cá no Festival de Parintins.
Por décadas, o balanceou seguiu o som da frigideira e das palminhas, do surdo e treme terra, mas a evolução incorporou teclado, elementos andinos e a ousadia pediu novos arranjos com a introdução da “guitarra”, uma aposta que tem se tornado uma marca dos últimos festivais, energizando a musicalidade.
O protagonista foi Arlindo Júnior no Álbum de 1998 quando colocou guitarra na toada Chamamento, de Ronaldo Barbosa, informou o compositor Adriano Aguiar. O produtor do CD era o roqueiro Mauro Drumont e ele apaixonado pela guitarra trouxe o instrumento para o Caprichoso, junto com Arlindo.
“Por isso o “apelido” dele era Pop da Selva, por introduzir na banda instrumentos como bateria e na percussão o timbal.
Em 2011 o filho de Ronaldo Barbosa, Ronaldo Barbosa Júnior introduziu guitarra na toada de ritual do Garantido, Matawi-Kukenán.
Conselho de arte
O presidente do Conselho de Arte do azul, Erick Nakanome descreve que a guitarra foi uma experiência “muito louca” no Caprichoso no sentido de inovar na toada. O bumbá sempre foi muito ousado na arte e musicalmente também. “Introduzimos o teclado, elementos andinos e a guitarra”, diz. “Eu recordo que a guitarra fazia a sonoridade da descida dos povos andinos para a Amazônia”, conta.
Neste ano de 2024 a guitarrada faz sucesso com as toadas Alagação e Mothokari, de Ronaldo Barbosa.
Sobre as inovações na música, Erick recorda o grupo Raízes da América do qual participaram o músico Silvio Camaleão do Boi Caprichoso e o atual presidente do Garantido, Fred Goes. Silvio Camaleão, sem medo de ousar introduziu no Caprichoso o charango. O Garantido também introduziu.
“Quando o charango entra na arena ele abre uma porta para várias possibilidades musicais e o Caprichoso incorporou elementos a andinos. Nosso boi já se apresentou debaixo de um manto andino trazido pelo Deus sol no peito do condor. Toadas como Mãe Andina e tantas outras marcaram essa pegada andina no boi”, recorda.
Erick fala de outro grande momento que foi a entrada do teclado. Ele conta que a arena da disputa sempre foi considerada um ambiente sagrado e as pessoas tinham medo de levar o teclado para dentro da arena. “Mas para imitar a marcha das formigas na toada Tucandeira, de Ronaldo Barbosa, o teclado foi levado pela primeira vez e logo no outro dia o boi contrário copiou e levou também”, relata.
Ele explica que o bumbá Caprichoso sempre respeitou a tradição e não tinha receio de apresentar algo tão tradicional como o Ritual da Tucandeira e um som contagiante e bonito como o teclado. O Grupo Canto da Mata é exemplo de sucesso com a chegada do teclado e fez com que ocorresse uma abertura gigantesca para outros instrumentos.
Garantido
O compositor do Boi Garantido Paulinho Du Sagrado, opina que a toada quando tem arte, cultura e entretenimento consegue ser atemporal. Sobre a entrada de novos elementos musicais ele fala que a arte passou por processo de mudança, que o Festival de Parintins evoluiu na arte e com a música aconteceu da mesma forma.
“Sobre a introdução da guitarra, vejo que o momento é esse. Tem uma galera que está aderindo ao que o povo gosta. O tribunal que julga é o povo e se o povo aprova, então a resposta é positiva”, falou.
Paulinho sustenta que todo o instrumento tem o seu lugar na música, mas cada um precisa estar no contexto, usar a frase certa no trecho certo da música e que não pode virar modismo.
“A guitarra precisa ser bem trabalhada, bem executada e no trecho onde há uma sonoridade agradável. Não pode de qualquer jeito”, avaliou.
O compositor afirma que o Festival de Parintins precisa ser nivelado por cima, na arte e na música. “Quando a gente vê que tem competição justa, nivelada por cima, na arte e na música, aí a gente vibra e deixa a avaliação para os jurados”, conclui.
Por Peta Cid
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