Pela primeira vez, Pinacoteca de SP expõe a produção de artistas indígenas

Nascido na aldeia Darí, no Amazonas, o artista Denilson Baniwa participa da exposição com duas obras. Foto: Levi Fanan/Divulgação

A exposição “Véxoa: Nós sabemos” está em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado, e reúne pinturas, esculturas, objetos, vídeos, fotografias e instalações de 23 artistas/coletivos de diferentes etnias e regiões do Brasil. É a primeira vez que o local abre espaço para exibir a produção indígena contemporânea. A mostra é formada por trabalhos inéditos de artistas já conhecidos e também abre espaços para novos.

Com curadoria da pesquisadora indígena Naine Terena, “Véxoa: Nós sabemos” poderá ser visitada pelo público no Edifício Luz até 11 de abril de 2021. “A Pinacoteca de São Paulo se dedica às artes visuais brasileiras desde sua fundação, em 1905, mas somente em 2019 incorporou ao seu acervo obras de arte brasileira produzidas por artistas indígenas”, afirma o diretor-geral do Museu, Jochen Volz.

“Véxoa: Nós sabemos” ocupa as três novas salas para exposições temporárias, localizadas no segundo andar da Pina Luz. Os trabalhos selecionados, obras históricas e contemporâneas de artistas individuais e também de coletivos, desmistificam a produção artística indígena à condição de artefato ou artesanato.

O artista plástico Jaider Esbell, indígena da etnia Macuxi, traz os diálogos interativos na obra coletiva “Árvore de todos os saberes”, um painel de lona de dois metros que, desde 2013, vem sendo realizado por povos indígenas do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Estado Unidos e México. Além desta produção, ele apresenta mais quatro vídeos que discutem temas como o neoxamanismo; a mercantilização dos saberes dos povos originários; denuncia os ataques aos seus parentes indígenas Makuxi e demonstra a inserção de uma nova geração de indígenas no universo das tecnologias digitais para registrar as memórias e suas experiências nos dias de hoje.

Amazonas

Também já conhecido do público, Denilson Baniwa, nascido na aldeia Darí, da comunidade Baturité/Barreira, no Amazonas, apresenta duas obras: uma instalação com vestígios do incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, numa referência à destruição da cultura material indígena ali preservada, e realiza uma ação de plantio de flores, ervas medicinais e pimenteiras no “território” externo da Pinacoteca, que será transmitida por meio de câmeras de segurança para o interior do museu.

O ativismo feminino estará presente por meio da produção de Yakunã Tuxá, da etnia Tuxá na Bahia, que propõe uma reflexão sobre os desafios das mulheres, em especial as indígenas. As ilustrações abordam as suas ancestrais, a força, a beleza e os preconceitos vividos pela mulher indígena nas grandes cidades.

Na mostra também se destacam produções de “etnomídia indígena”, em que as ferramentas de mídia são utilizadas pelos próprios povos, gerando autonomia, representatividade e pluralidade dos discursos. Se destacam Olinda Muniz Tupinambá (Tupinambá, Bahia), o Coletivo Ascuri (Mato Grosso do Sul), Anapuaká Tupinambá (Tupinambá, Bahia) e Edgar Correa Kanaykõ (Xakriabá, Minas Gerais).

Os trabalhos selecionados desmistificam a produção artística indígena à condição de artefato ou artesanato. Foto: Levi Fanan/Divulgação

Vídeo e web rádio

A Associação Cultural dos Realizadores Indígenas (Ascuri ), formada por jovens realizadores/produtores culturais que usam a linguagem cinematográfica, traz para a exposição as diferentes facetas vividas pelos povos Terena e Kaiowá, entre outros, propagando o “jeito de ser indígena” a partir de suas produções.

Ainda no campo do vídeo, a diretora Olinda Muniz Tupinambá faz a estreia do filme “Kaapora”, uma produção que segundo a diretora é feita para seu povo e também para o público externo. Ela explica que o filme é uma forma de fortalecer a cosmovisão de sua comunidade, embora também se preocupe com o que o não índio irá entender sobre sua produção.

A primeira web rádio indígena do Brasil, a Rádio Yandê (Nós, em Tupi), também estará presente, representada por seu co-fundador, Anapuaká Tupinambá, realizando uma programação especialmente desenvolvida para a mostra.

As fotografias em preto e branco do artista Edgar Kanayrõ que retratam a dança, a pintura corporal e a luta do seu povo, os Xakriabá, pela demarcação e revisão dos limites de terra no município de Itacarambí, em Minas Gerais.

No campo das esculturas, a pataxó Tamikuã Txihi expõe Áxiná (exna), Apêtxiênã e Krokxí que simbolizam os guardiões da memória. Em 2019, essas peças sofreram ataques motivados por racismos em relação aos povos indígenas durante a Mostra Regional M”BAI de Artes Plásticas na cidade de Embu das Artes.

A exposição também discute os estereótipos a respeito das artes indígenas, frequentemente associadas apenas a peças de artesanato. Para isso, os artistas Gustavo Caboco, Lucilene Wapichana, Juliana Kerexu, Camila Kamē Kanhgág, Dival da Silva e Ricardo Werá, exibem objetos confeccionados por indígenas que usualmente não são considerados como tal. Por carregarem símbolos e elementos que não são considerados pertencentes à cultura dos povos originários, erroneamente passam a ser desconsiderados como arte indígena.

Quem estiver em São Paulo e se interessar em visitar a exposição, os ingressos são gratuitos e podem ser adquiridos apenas por meio do site www.pinacoteca.org.br.

Fotografia de Edgar Correa Kanayrõ. Foto: Divulgação

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