
Especialistas apontam chantagem de Trump em sanções contra o Brasil. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
A imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, acende um alerta sobre impactos profundos na economia nacional. Especialistas avaliam que a medida, que entra em vigor em 1º de agosto, representa na prática um fechamento do mercado americano ao Brasil e pode desencadear desemprego, retração na indústria e queda no preço de commodities no mercado interno.
“Vamos ver uma diminuição expressiva na entrada de dólares no país, o que é gravíssimo. Isso afeta diretamente produtos manufaturados e semimanufaturados, que têm forte peso nas nossas exportações para os EUA”, afirma o professor Roberto Goulart Menezes, da Universidade de Brasília (UnB).
O pacote de sanções, enviado por Trump em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atinge setores estratégicos como petróleo, minério de ferro, aço, aeronaves, eletrônicos e máquinas — produtos que respondem por uma parcela relevante das vendas externas do Brasil. Empresas como Embraer e Petrobras, por exemplo, estão entre as mais atingidas.
No agronegócio, itens como açúcar, carne, café e suco de laranja devem sofrer com o represamento no comércio exterior, o que pode provocar uma redução nos preços internos desses produtos. “Toda vez que se fecha um mercado, os preços caem no país de origem. Isso é o que deve acontecer com boa parte das nossas commodities agrícolas”, alerta Alexandre Pires, professor de economia no Ibmec-SP.
Além do impacto imediato, Pires chama atenção para o risco de danos de longo prazo. “Mesmo que haja uma reversão das tarifas mais à frente, retomar esses mercados será um desafio. O cenário fica ainda mais preocupante se as sanções durarem mais de seis meses”, avalia.
Tensão geopolítica e retaliação política
A medida ocorre no contexto de crescentes tensões diplomáticas entre os dois governos, intensificadas após críticas mútuas na cúpula do Brics, realizada no Rio de Janeiro. O bloco, liderado por economias emergentes como Brasil, China e Índia, tem sido visto por Trump como uma ameaça à hegemonia dos EUA.
“O governo norte-americano está adotando uma postura de chantagem comercial. Essas tarifas são injustificáveis e mais elevadas do que as aplicadas a outros países. É uma tentativa de enfraquecer o Brics e pressionar politicamente o Brasil”, pontua Goulart.
Segundo Alexandre Pires, a sanção tem múltiplos motivos: “Além das disputas comerciais, há o efeito STF, por conta da atuação do Judiciário brasileiro, o efeito Brics, e até a regulação de redes sociais. As tarifas são o pretexto para um pacote de pressões políticas”, analisa.
Apesar da retórica de Trump, os números não sustentam a ideia de um prejuízo americano. O comércio bilateral gira em torno de US$ 80 bilhões por ano e, atualmente, os EUA mantêm superávit de US$ 200 milhões com o Brasil. Ainda assim, o endurecimento tarifário deixa clara a disposição do republicano de utilizar a economia como instrumento de influência geopolítica.
Agência Brasil
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