Garantido exalta o povo, a floresta e a tradição na primeira noite do Festival de Parintins 2025

Foto: Elinaldo Tavares

Com o grito de guerra “Diga ao povo que avance!”, o Boi Garantido deu início à sua apresentação na arena do Bumbódromo na noite desta sexta-feira (27), com um espetáculo marcado por ancestralidade, espiritualidade e resistência. Trazendo o tema “Boi do Povo, Boi do Povão”, o bumbá encarnado reafirmou sua ligação com as raízes afro-indígenas da Amazônia e a força de um povo que carrega a tradição no corpo e na alma.

A apresentação abriu com uma celebração às origens do boi, nascido na Baixa da Xanda, território quilombola periférico de Parintins onde Lindolfo Monteverde, pescador negro e criador do Garantido, deu vida à brincadeira que hoje se tornou símbolo de cultura popular e luta social. No enredo, a Baixa foi exaltada não apenas como lugar de origem, mas como fonte de identidade coletiva.

Foto: Elinaldo Tavares

A temática “Povo e Povão” permeou toda a apresentação, destacando a pluralidade étnica e cultural da Amazônia e colocando o Garantido como um boi de aldeia, de quilombo, de comunidade, um boi que canta as dores e alegrias do povo da floresta. A relação com os santos populares, com os orixás e encantados também esteve presente, evidenciando o sincretismo que marca as expressões religiosas do povo amazônico.

No item Lenda Amazônica, o Garantido apresentou a impressionante figura da Tapyra’yawara, um ser místico que une a força da anta e da onça, guardião dos igarapés e das leis naturais da floresta. A presença da lenda encantou o público pela imponência da alegoria e pela simbologia da criatura como defensora do meio ambiente diante das ameaças humanas.

Já no Ritual Indígena, o público foi introduzido à tradição dos Ikpeng com o Moyngo, um rito de iniciação transmitido pelos anciãos da etnia. A narrativa trouxe elementos fortes do imaginário indígena como pajés em transe, espíritos da floresta e guerreiros tatuados com os símbolos da mata, tudo embalado por cantos profundos e imagens de grande impacto visual.

Foto: Elinaldo Tavares

Em uma das passagens mais marcantes da noite, o Garantido exaltou o Povo Negro da Amazônia como Figura Típica Regional, reconhecendo a presença negra em todas as partes da floresta, das margens do rio Juruá ao Marajó. Nomes como Mestre Irineu, Dona Xanda e Damasceno foram lembrados como referências de luta, fé e sabedoria ancestral. O item prestou uma homenagem poderosa à força da negritude amazônica, com direito a tambores, danças e a evocação das festas populares que mantêm viva a herança dos quilombos.

A primeira noite do Festival foi marcada por um Garantido profundamente conectado com seu povo. O espetáculo não poupou emoção, nem deixou dúvidas sobre o compromisso do boi vermelho com a valorização da Amazônia e de seus verdadeiros guardiões. Com uma apresentação coesa e rica em significado, o Garantido mostrou que não veio apenas competir, mas ecoar as vozes da floresta com a força do povo que resiste.

Texto: Oliver Freire – Especial para o Portal do Marcos Santos

Foto: Elinaldo Tavares

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