Caprichoso emociona e dá espetáculo na primeira noite do Festival de Parintins celebrando a ‘Retomada pelas Lutas’

Foto: Elinaldo Tavares

Com um espetáculo épico, carregado de intensas emoções, significados e ancestralidade, o Boi Caprichoso estremeceu o Bumbódromo de alegria na sua primeira apresentação celebrando a temática “É Tempo de Retomada”.

Com o primeiro ato “Amypaguana, a “Retomada pelas Lutas”, o azul e branco levou para a arena as crenças originárias, desfazendo as marcas do colonizador sobre os povos indígenas e comunidades tradicionais. O pajé Erick Beltrão e a cunhã poranga Marciele Munduruku participaram da celebração indígena.

O apresentador Edmundo Oran abriu o espetáculo chegando com o Boi Caprichoso no módulo aéreo arara azul para rufar o tambor da marujada com o levantador de toadas Patrick Araújo, elencos de bailados e povos indígenas que povoaram a arena.

Foto: Elinaldo Tavares

O amo do boi, Caetano Medeiros, tirou seu primeiro verso do meio da galera, exaltando o boi preto, sua trajetória de lutas. Ele foi um dos destaques da noite desfiando o boi contrário no verso e na cantoria.

A lenda da noite, Yurupari: da demonização à retomada indígena, foi um espetáculo de encher os olhos que levou o Bumbódromo ao delírio. O momento, definido como retomada do “Legislador”, livre da imagem demoníaca imputada por missionários cristãos, impressionou pelo gigantismo.

A alegoria teve módulos içados, chegou a 40 metros e se transformou em plena arena para a chegada da cunhã-poranga Marciele Munduruku, surgindo em uma lua.

Foto: Elinaldo Tavares

Na celebração indígena Amyipaguana – Revolução Maracá, o bumbá exaltou o festival como palco sagrado, território de luta simbólica e espiritual, onde os tambores chamam todos os filhos e filhas da Terra-Mãe a despertarem para um tempo novo – o tempo da retomada em defesa do Bem-Viver. Por meio da “Revolução Maracá”, o Caprichoso evocou o poder da arte que resiste, do canto que denuncia e da dança que liberta.

Três indígenas das etnias Borari e Baré disputaram o item tuxauas evoluindo na dança cerimonial ao som da toada das morubixabas.

Patrick Araújo defendeu o item toada, letra e música com a composição “Amazônia, nossa luta em poesia, manifesto do povo floresta”, com a galera cantando em uníssono.

Nesta noite, a Figura Típica Regional, Majés, Senhoras da Cura, homenageou as mulheres da Amazônia, filhas da floresta, sabedoras e contadoras das histórias das gentes e cipós, galhos e árvores, troncos e folhas, esperanças de doentes em processos de cura. Em cada conselho e palavra de afago, em cada costela “desmentida”, em cada puxada e repuxada oriunda do conhecimento ancestral e milenar, mora o saber das Majés, “as senhoras da cura”.

Foto: Elinaldo Tavares

A Rainha do Folclore Cleise Simas surgiu na alegoria para festejar o momento. Na exaltação cultural estavam o Boi Caprichoso e a Sinhazinha da Fazenda, Valentina Cid, que inovou na dança com o boi, num bailado que emocionou pela singeleza e sincronia com o touro negro.

A vaqueirada fez a sua evolução e ganhou aplausos da galera do Caprichoso. O momento coreográfico Raízes da luta: Ancestralidade Yanomami foi outro ponto alto da apresentação com o surgimento do Mothokari, um Sol-Onça que trouxe o fogo para a terra, em ensinanças pela dor, contra o garimpo, relatado na obra de Davi Kopenawa, “A Queda do Céu”. A porta estandarte foi o destaque do módulo onça para fazer a sua evolução.

Guiado pelo manto sangrado, o Caprichoso apresentou o Ritual Tupinambá, a Retomada da Verdade Originária, recontando a história colonizada e, diante dos olhos do mundo, deixando o Povo Tupinambá reescrever a arte do modo como a entendem. O Manto Azul Tupinambá, celebrado como um ser ancestral foi apresentado na arena pelo próprio povo tupinambá, num momento histórico para Parintins e para o festival.

O pajé Erick Beltrão fechou a noite com sua performance representando guerreiro tupinambá.

O presidente do azul, Rossy Amoedo, saiu feliz do Bumbódromo exaltando o resultado de muito trabalho de uma equipe maravilhosa. “A gente se preparou muito pra esse momento, esperamos ter alcançado. Saímos daqui muito felizes, o Caprichoso passeou, teve alguns pequenos erros, mas que passam despercebidos pela magnitude de tudo foi apresentado. Galera azul e branca está de parabéns e a tendência é subir mais a régua do espetáculo e continuar com grandes apresentações”, finalizou.

Texto: Peta Cid – Especial para o Portal do Marcos Santos

Foto: Elinaldo Tavares

Foto: Elinaldo Tavares

Foto: Elinaldo Tavares

Foto: Elinaldo Tavares

Foto: Elinaldo Tavares

Foto: Elinaldo Tavares

Veja também
Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *