
Foto: Divulgação/Semsa
Profissionais, gestores e representantes de órgãos públicos e entidades da área da saúde participaram, nesta quarta-feira, 28/5, do 3º Seminário de Redução do Óbito Materno no Amazonas. No evento, promovido pela Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), em parceria com os comitês municipal e estadual de Prevenção do Óbito Materno, Infantil e Fetal (Cmpomif e Cepomif) e o Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa), discutiram desafios e estratégias para diminuição de casos de óbito de mulheres no período da gestação ao puerpério, até três meses após o parto.
Realizado no auditório da Faculdade Martha Falcão Wyden, na zona Centro-Sul, o encontro teve palestras com foco no panorama da mortalidade materna na capital e no estado, e um bate-papo com discussão de questões e propostas para o aprimoramento na atenção à saúde de gestantes e puérperas na rede pública de saúde. Foram relatadas ainda experiências exitosas para a redução de óbitos conduzidas em unidades da rede materno-infantil na capital.
Conforme a chefe da Divisão de Atenção à Saúde da Mulher da Semsa e presidente do Cmpomif, enfermeira Lúcia Freitas, o seminário busca refletir sobre as causas e discutir estratégias para melhoria na atenção e prevenção do óbito entre gestantes e puérperas. A problemática, ela observa, extrapola o âmbito da saúde e envolve também questões sociais e de gênero, incluindo a violência contra a mulher.
“Estamos discutindo questões de fluxo e acesso a serviços na rede de saúde, que já trouxemos nos anos anteriores, mas o foco nessa edição é a violência contra a mulher, que pode impedir, por exemplo, que ela faça o pré-natal ou tenha acesso à maternidade ou à unidade básica”, aponta a gestora.
Lúcia aponta ações positivas desenvolvidas na rede municipal, como o fortalecimento do pré-natal e do planejamento reprodutivo, com a ampliação da oferta de serviços e capacitação de profissionais, entre outras estratégias. “Tudo isso converge para uma finalidade só, que é a redução do óbito materno”, aponta.
Comitês
Em fala remota na abertura do encontro, o assessor internacional e oficial para assuntos humanitários da Unfpa, Caio Oliveira, ressaltou o papel dos comitês de prevenção do óbito materno e a qualificação das equipes da rede materno-infantil, pontuando o apoio da agência ao comitê e à gestão municipal em ações para o planejamento familiar e prevenção da gravidez na adolescência, e para capacitação de equipes de saúde, em parceria com a Escola de Saúde Pública (Esap Manaus).
“Estamos à disposição e seguimos em parceria para encontrar soluções e compartilhar estratégias para fortalecer cada vez mais a resposta à mortalidade materna”, assinalou.
Para a presidente do Cepomif e servidora da Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), Nádia Sobral, o seminário serve de espaço para que gestores e profissionais de saúde se atualizem e possam debater meios para assegurar a assistência a mulheres em toda a rede de saúde na gestação e puerpério, e reduzir os desfechos desfavoráveis. Ela aponta que o Amazonas mantém uma razão de 55 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos, acima da meta de 30 óbitos prescrita pelo Ministério da Saúde, dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
“É um desafio muito grande, e o seminário é o momento que utilizamos para enxergar nosso papel nesse contexto e levantar estratégias para colaborar na redução desses números no nosso estado”, afirmou.
Panorama
Após a mesa de abertura, a programação contou com palestras sobre o cenário da mortalidade materna na capital e no estado, apresentadas pela servidora da Gerência de Vigilância do Óbito da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), Antônia Lirete Fama, e pela chefe do Núcleo de Investigação do Óbito da Semsa, Karine Souza.
Destacando dados de 2016 a 2024, Karine apontou que a razão de mortalidade materna (RMM) em Manaus teve pico em 2021, durante a pandemia de Covid-19, com 145 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos, caindo para 63 em 2022, 57 em 2023 e 55 no ano passado. Nos nove anos avaliados, informou a servidora, 261 mulheres morreram por complicações da gravidez, parto e puerpério de até 42 dias.
Segundo Karine, os indicadores do município revelaram maior risco de óbito entre gestantes que se declaram pretas ou pardas, menores de 20 e maiores de 30 anos de idade, e com menor nível de escolaridade.
“Algo que também chama a atenção são as mulheres que não fazem o pré-natal, que têm risco extremamente grande de ir a óbito, pois não têm assistência profissional de saúde e muitas vezes não conseguem identificar e tratar a tempo um agravo que poderia ser evitado”, observou a servidora.
Entre as mortes por causas obstétricas diretas de 2016 a 2024, notou Karine, as complicações por transtornos hipertensivos corresponderam a 27% dos óbitos, seguido das gestações que terminam em perda gestacional precoce com 18% e infecções relacionadas à gravidez, que corresponderam a 17%.
A gestora assinala que o óbito materno deve ser compreendido além das causas obstétricas. “Essa mortalidade é parte de um contexto que engloba não só a saúde, como educação, assistência social, economia. Nosso desafio hoje é fazer políticas públicas abrangentes e promover articulações intersetoriais para que todas as áreas avancem juntas”, avalia.
Programação
Além de Lúcia, Caio e Nádia, a mesa de abertura do encontro reuniu a assessora técnica da Subsecretaria de Gestão da Saúde da Semsa, Lana Aguiar, representando a secretária municipal de Saúde, Shádia Fraxe; e a assessora técnica da SES-AM, Suellen Barbosa.
A agenda teve também relatos de experiências exitosas para a redução da mortalidade materna na rede materno-infantil da capital. A responsável técnica da área de Saúde da Mulher do Distrito de Saúde Rural da Semsa, enfermeira Rosa Belota, relatou a vivência na vinculação de gestantes da zona rural às maternidades, no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS). Já Edilson Albuquerque, também enfermeiro obstetra, relatou a experiência na maternidade Ana Braga.
A programação ainda incluiu um debate com gestores da área da saúde, em formato talk-show. Lana Aguiar foi uma das participantes do bate-papo, ao lado da professora da Universidade Federal do Amazonas e coordenadora do Telemonitoramento de Pré-Natal de Alto Risco no Estado do Amazonas (Telepnar), Ione Rodrigues Brum; da especialista em Violência Baseada no Gênero da Unfpa, Jaqueline Oliveira; e do diretor da maternidade Ana Braga, Edilson Albuquerque.
A mediação do talk-show ficou a cargo da servidora da Divisão de Atenção à Saúde da Mulher da Semsa, enfermeira obstétrica Gerda Costa, que declamou um poema de sua autoria no encerramento da programação.
O 3º Seminário de Redução do Óbito Materno no Amazonas contou com apoio da Faculdade Martha Falcão Wyden e do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz. O evento acontece em referência ao Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, celebrado anualmente em 28 de maio.
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